Alagoinhas em vésperas de Eleições – 1972: a “Zebra”.
Professor Jorge Damasceno – Especial para o Alagoinhas Hoje.
Estava-se no oitavo ano de vigência do Regime Militar
instaurado na madrugada do primeiro dia de abril de 1964. Salvo algumas prisões,
cassações de mandatos, fechamento do Congresso, alguma “censura” à cultura e às
artes, imposição de alguns Atos Institucionais, interdição de eleições diretas
para presidentes, governadores e prefeitos das capitais – bem como de algumas
cidades classificadas como de “segurança Nacional” -, o verniz de democracia se
mantinha quase sem arranhões.
Logo após às comemorações do sesquicentenário da
Independência” em 07 de setembro, se realizaria o pleito para as prefeituras e
as câmaras municipais, com a disputa se dando entre os dois únicos partidos
políticos autorizados pelo “Regime dos Generais”.
Com a realização das convenções partidárias, ficara definida
dupla de candidatos ao Paço Municipal. José Libório, pela ARENA e Judélio
Carmo, pelo MDB, travariam a luta pela preferência dos 25 mil cidadãos “aptos a
votar” no escrutínio que se daria em 15 de novembro. A partir de então, eram
organizados os comitês dos candidatos e, neles as pessoas se articulavam no
sentido de organizar as campanhas; os eleitores se acotovelavam para deles
receber brindes, material eleitoral para distribuição; inúmeros outros se
apresentavam com os mais diversos pleitos, que iam desde o pagamento de contas,
aviamentos de diversas ordens – como receitas, construções e/ou reformas de
suas casas -, dentre outros numerosos pedidos de ajuda financeira. O
atendimento ou não a tais subvenções, teriam a retribuição na cabine de
votação.
Entre o princípio do inverno e meados da primavera, os dois
grupos políticos se movimentaram pelos principais logradouros da quase
adormecida Alagoinhas de 1972, montando e desmontando os palanques em que
realizariam os comícios, verdadeiros teatros por onde desfilavam pequenos
atores e atrizes, mostrando os seus talentos ao cantar, declamar, improvisar motes
favoráveis ao seu candidato ou, desfavoráveis ao candidato adversário. Naqueles
palcos itinerantes armados cada dia em um bairro populoso da cidade, eram as
plataformas a partir das quais eram emanados os discursos dos candidatos,
antecedidos pelas manifestações de apoio e apreço ao candidato que, após discursar, como ápice
do comício, era levado nos braços dos seus correligionários, como se fora a procissão
do seu ”Santo” de devoção.
Mas, naquele ano em especial, a disputa se travaria entre um
candidato que representava a tradição político-eleitoral da cidade, contando
com o apoio das velhas estruturas de mando encrustada na cidade há já alguns
pares de anos e, uma liderança que surgia do desejo de construir um novo espaço
político-administrativo para o município, sem contudo, contar com o apoio dos
velhos líderes locais, já consumidos pela implacável passagem do tempo e,
sobretudo, pelas mudanças que o cenário nacional indicava estar em curso.
Cabe chamar a atenção do paciente leitor, para o nome e o significado
do partido que dava sustentação da candidatura abraçada pela velha elite
política local. Apesar de conter em sua sigla a expressão “Renovadora”,
representava na verdade a persistência das velhas práticas eleitorais, com o
fito de manter as coisas como sempre foram trabalhando para que continuassem
como eram.
No entanto, a candidatura de um jovem ex-vereador na
legislatura 1967-1971, abrigada no “Movimento Democrático Brasileiro (MDB)”, se
colocava como propositora de uma mudança de rumos da política na urbe
alagoinhense, apresentando uma zebra como símbolo de sua campanha, tal era a
dificuldade que antevia em obter êxito na refrega pelo sufrágio de 15 de
novembro. Aquele símbolo era bem conhecido das pessoas em geral, uma vez que se
referia a um resultado não esperad o e pouco marcado na “loteria esportiva”,
jogo praticado por uma parcela considerável dos brasileiros. Ainda mais, quando
se tratava de uma campanha eleitoral, polarizada entre um “arenista” sustentado
pelas elites políticas tradicionais da cidade – além de apoiado por autoridades
governamentais do País e do Estado – e um “emedebista” que, ao contrário, não
possuía apoio das lideranças políticas locais, além de estar em rota de colisão
com os interesses das autoridades municipais, estaduais e nacionais.
Portanto, em Alagoinhas, foi em uma atmosfera de forte tensão,
ansiedade e sangue, que se dera a disputa pela preferência dos 18 mil eleitores
que, deixariam as suas casas em direção às suas seções eleitorais, em uma quarta-feira
– feriado nacional -, onde votariam no pleito de 15 de novembro de 1972.
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