sábado, 27 de março de 2010

Histórias Plurais, Memórias singulares

Em tempos de muitas histórias, verifica-se o desfecho de uma que tornou-se pública em fins de março de 2008.
Na cidade de São Paulo, após um dia de folguedos, risos e, certamente, muitas peraltices em grupos de sua idade, uma criança é lançada do sexto andar do prédio onde deveria estar abrigada junto com pai, madrasta e irmão, sem que ninguém tenha assumido a autoria de gesto tão extremo.
Que diriam os sujeitos indiciados pela polícia e condenados pela justiça, se viessem a confessar a autoria do delito, sobre qual teria sido o motivo que os teria levado a decidir pelo fim da vida de uma garota de seis anos, ainda incompletos? Ciúme? Inveja? ódio? forma aguda de atingir a adultos com uma perda emocional e/ou afetiva?
Que explicações dariam os condenados, se decidissem confessar? E partindo do pressuposto de terem sido injustamente condenados, por um assassinato que não cometeram, quem então teria realizado toda a saga e/ou planejado todas as necessárias etapas da operação, que resultou na morte da menina Isabela Nardoni?
Talvez um historiador e/ou um memorialista, que possa ter a necessária distância de todos estes fatos e das dúvidas e questionamentos que os cercam, para terem a tranqüilidade no processamento das memórias múltiplas, construídas ao longo do tempo que durou a tramitação do processo criminal, seja capaz de trazer alguns elementos que permitam uma maior compreensão de mais este episódio do cotidiano.
Uma das primeiras tarefas do pesquisador, seria a de apreender as diversas memórias construídas em torno do fato.
Outra tarefa do pesquisador interessado em investigar o "caso Nardoni" seria a de buscar perceber naquilo que não foi dito, alguma ruptura que permita uma análise daquilo que foi silenciado, quer pelos que foram indiciados, quer pelos que os indiciaram.
Uma terceira tarefa do historiador/memorialista, seria a de perceber e trazer para a análise histórica, a singularidade das diversas memórias que foram construídas em torno do caso, no curso do tempo, decorrido entre o assassinato da garota, até o desfecho processual, ocorrido quase dois anos após a consumação do crime.
Os jornalistas, policiais, parentes e aqueles que tomaram conhecimento dos eventos através dos meios de comunicação de massa, construíram sua memória singular, guardando nela aquilo que selecionou de todo o material que esteve ao seu dispor.
O historiador e/ou memorialista teria pois, a possibilidade de reunir algumas daquelas memórias singulares, em torno de um processo de sistematização, que permitisse identificar as mediações que presidiram a formação de cada grupo, possibilitando leituras mais próximas de uma realidade ensejada por um cotidiano de violência e de desvalorização persistente da vida de outrem.