História e música – Parte II – A Guerrilheira estilhaça blindagens
e esmigalha carapaças.
Corria o ano da graça de 2013; nos seus primeiros três
meses. Não é possível precisar quanto tempo decorreu entre a sua primeira
aparição abrupta e avassaladora e os primeiros diálogos entabulados entre aquela
“guerrilheira” e aquele sujeito que acreditava estar afeito aos enfrentamentos da
guerra cujo terreno é o coração, a partir de sua bem construída fortaleza.
Bem guardado por sua espessa blindagem e envolto em grossas
camadas de carapaças, ele se acreditava tão inexpugnável, ao ponto de acreditar
resistiria a quaisquer movimentos daquela guerrilheira e que facilmente
repeliria um eventual ataque desferido por quem estava munida apenas de armas
leves e frágeis, pouco ou nada acreditando que pudesse dispor de táticas capazes
de alcançar qualquer êxito em um possível confronto.
Na verdade, é bom que se diga, sequer ele acreditava que
aquela menina arisca e bem dotada de todos os encantos, teria algum interesse
em realizar algum movimento que o tivesse como alvo. Afinal, quem não gostaria
de ter o privilégio de cercá-la, cortejá-la, conquistá-la? Faria ela algum
movimento de guerrilha na direção daquele velho e cansado guerreiro, mais preocupado
em se resguardar de enfrentar outras batalhas, do que de as provocar?
Por que, se ela era uma terra nova, culta e fértil e, todos
quantos fossem sensatos e sábios, quereriam arrebatar para si?
Assim pensando, procurou e obteve a chance de estabelecer
alguma aproximação; trocaram mensagens, contatos, endereços eletrônicos... conversas
se amiudaram; passaram a trocar ideias, em conversas despretensiosas e amenas, cada
um explorando as capacidades cognitivas do outro; envolvendo os assuntos mais
variados e diversificados, de modo que não houvesse espaço para quaisquer
avanços, sem que se não armasse cada um com as suas respectivas forças de defesa,
intentando impossibilitar que as linhas demarcatórias fossem ultrapassadas;
qualquer erro poderia resultar em um ataque preventivo, perpetrado por cada um
dos lados e, até mesmo, o nascimento de uma inimizade de difícil reversão.
Assim, eles permaneceram se resguardando mutuamente. Ela porém,
por ser leve, ágil e hábil, sem que o fortificado pudesse repelir em tempo,
lançou uma bomba poética em direção à porta principal da fortaleza que aquele
fortificado edificara tão cuidadosamente e, rompeu, quase que imediatamente, os
principais fundamentos das blindagens ali superpostas, promovendo a imediata
invasão do local, sem que houvesse tempo de ser repelida.
Aproveitara o inesperado do gesto e, tratou de esgarçar as carapaças
que lhe guardava as portas do coração e, lá entrou, quebrou os últimos focos de
resistência; se alojou indelevelmente; estabelecida no espaço que parecia ter
sido talhado para ela, fortificou-se ali, sem deixar qualquer margem para uma
efetiva e eficaz reação, no sentido de lhe fazer voltar às posições anteriores.
Sim: ela conquistou a fortaleza; fez dali o seu lugar de ações
táticas; dela saiu, apenas para buscar reforços, visto que o fortificado fora
deixado amarrado à sua própria alma, sem que houvesse qualquer chance de desamarrar-se
por si só. Não mais poderia voltar à orgulhosa
posição de “inexpugnável”, ostentada até momentos antes do movimento tático
levado a bom termo por aquela guerrilheira faceira, que se atrevera a promover
a conquista de um fortificado, tornando-o indefeso e incapaz de resistir aos
encantos que logo foram derramados sobre todo o seu ser, transformando-o em seu
perpétuo prisioneiro.
A curiosidade do leitor deve estar aguçada, visto que se falou
que “uma bomba poética” fora lançada dentro da fortaleza, esmiuçando lhe e
transformando em fragmentos, toda a blindagem que a guardava. Enquanto eram
trocadas mensagens, ideias e impressões, ambos estudavam o terreno onde cada um
se movia; ela, mais atenta e eficiente, logo iniciou o bombardeio com eficácia,
visto que, escolhera adrede, músicas que, no conjunto formado por melodias e
versos, pudessem atingir e transpor as carapaças que foram interpostas com o
objetivo de evitar que uma flecha, ainda que a mais sutil, viesse a penetrar e
a se alojar onde pudesse injetar o doce veneno da querência. Ele já estava
exausto de descuidar-se e, fizera o propósito de não mais se deixar inebriar
por querências ou quereres, que, depois de o vencer, o deixaram sangrando,
quase a morrer.
Destarte, a guerrilheira lança mão de armas poéticas de
calibre suficiente para esboroar os escudos mais resistentes que aquele
fortificado pudesse dispor. Portanto, duas músicas foram enviadas, em um curto
intervalo de tempo, para que, a soma das duas, viesse a funcionar como a poderosa
bomba que, ao mesmo tempo quebraria as blindagens e espedaçaria as carapaças
que o protegeriam, deixando-o indefeso, facilitando o trabalho de conquista.
A primeira delas: Simone – Quem é você.
https://youtu.be/rgXNUWz-ro
https://youtu.be/rgXNUWz-ro0
A segunda: Sandra de Sá – Com você tudo fica melhor.
Como o leitor pode perceber, as músicas foram enviadas com o
intuito de dizer ao fortificado, que os demais guerreiros que pretendessem
conquistar o coração da Guerrilheira, não tinham chance de avançar um único milímetro,
sem que ela não o defendesse com força e valentia.
05 de agosto de 2023
Jorge Damasceno