quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical – IX: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas e as primeiras músicas evangélicas – Parte II.

 

Um escrevedor volta a falar de memória musical – IX: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas e as primeiras músicas evangélicas – Parte II.

 

Ao retomar o rememorar do começo da caminhada cristã, este escrevente prossegue falando dos primeiros contatos que tivera com a música evangélica, desta vez, considerando aquelas que ouvira pela primeira vez, por meio dos “solos”, bem como fará referência a outros momentos de sua trajetória na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, nos quais a música fora o elemento desencadeador.

O “solo” era um dos elementos constitutivos da liturgia, geralmente, nas celebrações que transcorriam aos domingos – manhã e noite -, quando algumas pessoas  tinham participação  individual no desenvolvimento das atividades melódicas, entre os cantos congregacionais e as leituras responsivas e, por vezes, as declamações. Aquela participação era previamente incorporada a ordem de  culto, mediante convite e/ou inscrição da pessoa interessada em fazer parte daquele momento solene. O solista,  por sua vez, escolhia o hino que seria cantado e, dependendo do caso, seria acompanhado pelos musicistas, pelo próprio solista ao violão ou, em solo “a capela”.

Este narrador lembra perfeitamente que a professora Maria Rita Borges e a irmã Isauri, eram aquelas que mais apresentavam os seus “solos” no formato “a capela”. Abaixo, duas das músicas que elas gostavam de cantar nas manhãs de domingo, na referida modalidade de interpretação musical.

Tem-se bem claro que “Junto a Jesus”, era magnificamente interpretado por Maria Rita Borges, provavelmente, a partir da audição de Feliciano Amaral, (1920-2018)–

 

https://youtu.be/jwOMwYO8miM

 

É igualmente claro no rememorar deste escriba, os solos da mesma Maria Rita Borges, do hino “Lindo País”, inserido no mesmo disco de Feliciano Amaral, em que se encontra o hino anterior.

 

https://youtu.be/OyncL5X6Lpw

 

Quanto a quem escreve estas linhas, um sujeito sempre apaixonado pela música, interessado em conhecer o mundo melódico construído, alimentado e alimentador do gosto musical do protestante em geral e do Batista em particular, estabelece os seus primeiros contatos com o tal mundo, a partir daquilo que se denominaria, talvez não muito adequadamente de “escola” de letristas como Edson Fernandes Coelho (1947-), Sérgio Pimenta (1954-1987), Jorge Camargo, Jorge Redher (1956-2009), Guilherme Kerr, Nelson Bomílcar, Edilson Botelho, Armando Filho, entre outros – cumpre salientar de passagem, que no momento aqui rememorado, este autor não tinha qualquer informação das atividades desenvolvidas por grande parte dos nomes citados, visto que os meios de informação eram bastante escassos e restritos à literatura especializada, à qual ele não tinha acesso -; de grupos como Vencedores por Cristo (fundado em 1968), Logos (1981), Elo (1974-1981), Som Maior (1976), e mais um outro tanto deles; e, naquele primeiro momento, principalmente o contato era com os trabalhos de intérpretes como Luiz de Carvalho (1925-2015), Feliciano Amaral (1920-2018), Denise Cardoso, Guiomar Victor, Elines, Jorge Araújo, entre tantos outros, que ouvia e, até arriscava cantar.

Neste sentido, uma das primeiras músicas que chamou a sua atenção e se tornou  sempre presente nos seus solfejares e assobiares, foi o hino cantado por Luiz de Carvalho, gravado no Long-play “Alvo Mais que a Neve” e lançado em 1978, cujo título apresentava-se para aquele momento, como se fora uma oração feita com vontade de ver respondida: Se Jesus Voltasse agora. É claro que a vontade ali manifesta e endossada por aquele rapaz novo na fé, tinha um que de receio de sucumbir com o passar do tempo e, talvez para tentar escapar de tal risco, pedisse e esperasse mesmo que “Jesus Voltasse” naquela hora, chamada “agora”.

 

https://youtu.be/m0ovFWzc8Q4

 

Outras duas interpretações de Luiz de Carvalho, gravadas em um disco mais pretérito também faziam parte da construção do novo repertório deste garatujador. Trata-se de  – Tocou-me

 

https://youtu.be/GlESufRuO1Q

 

E, “Quando Jesus Estendeu Sua Mão Para Mim”, inseridos no Long-Play intitulado “Obra Santa”, gravado em 1969.

 

https://youtu.be/QJ4Uo9dXzvI

 

Já se disse em outro arrazoado, que o pastor Jessé, com atitudes simples direcionadas a promover integração e/ou inserção do novo na fé nas atividades da Igreja que pastoreava, fora fundamental para o desenvolvimento deste que agora rememora aqueles dias, na medida em que muitas vezes, como um pastor de ovelhas, dirigiu-se até o fundo do vale e, trouxe aquela ovelha ainda tenra para junto de si, para melhor cuidar e alimentar.

Quiçá assim pensando, um certo dia, talvez já pelo mês de março, ele atribuiu àquele rapaz, a tarefa de “cantar um solo” na manhã do domingo seguinte ao aviso. E mais: indicou como sugestão para o dito solo, uma música um tanto controversa, visto que este garatujador a conhecia em uma interpretação de Altemar Dutra. Nem é preciso dizer que se deu o primeiro de muitos outros nós no cérebro do rapaz. No entanto, o pastor lhe disse que era um hino cantado por Edgar Martins e, dera-lhe o disco para ouvir e extrair a música indicada para o solo, que levara a efeito, acompanhando-se ao violão, errando quase tudo no concernente aos acordes, mas, cumprindo a tarefa de que fora incumbido.

 

https://youtu.be/K7rnEh8QSTc

 

Mais adiante, o pastor Jessé fez outro gesto na direção de envolver aquela sua ovelha tímida e retraída, nas atividades da igreja que liderava. Aos domingos, a Rádio Emissora de Alagoinhas abria espaço para que a Primeira Igreja Batista de Alagoinhas pudesse  difundir o Evangelho para além do seu espaço de culto, na medida em que disponibilizava meia hora de sua programação para aquele fim. Com criatividade e desenvoltura, o pastor Jessé apresentava o programa “boas novas”, utilizando como prefixo musical o hino “Desperta Brasil”, cantado por Luiz de Carvalho, em gravação de 1978. Algum tempo depois, este narrador ouviria aquele hino como abertura do programa “A Voz do Brasil Para Cristo”, transmitido pela rádio Tupi de São Paulo, ouvido pelas ondas curtas, levado ao ar entre dez e meio-dia, apresentado pelo missionário Manuel de Mello (1929-1990).

 

https://youtu.be/Kgu5N4e-Wno

 

Foi assim que, mediante o convite daquele prelado, este escrevente tivera a oportunidade de participar daquele programa, cantando ao violão. Embora conhecesse bem o prédio e os estúdios da emissora através da qual o programa era levado ao ar, neles já tendo estado várias vezes, com vários de seus locutores, fora o apresentador de “Boas Novas” que dera a primeira chance de estar ali como parte efetiva daquela transmissão radiofônica. No entanto, não ficou na sua memória, nenhum vestígio que aponte para a música que foi cantada na ocasião. Porém, há uma memória bem viva de ter cantado em alguma noite de domingo, uma música que ouvira algumas vezes no rádio e conseguira gravar os seus versos e acordes , talvez, dada a simplicidade de sua construção melódica, não obstante a sua profundidade teológica, na medida em que afirmava a ação do Deus Eterno no processo de criação do mundo e tudo que nele há, conforme assevera o ensino  bíblico. Em um magnífico poema, Edson Coelho sintetiza esta profissão de fé e, Telma Coelho interpreta com maestria e talento, uma das músicas de construção filosófica mais profunda e de melodia tão bem harmonizada. O hino se intitula “Maior que tu, não há ninguém”.

 

https://youtu.be/KmYErrPmmz0

 

José Jorge Andrade Damasceno – historiadorbaiano@gmail.com

30 de setembro de 2021.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical – VIII: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas e as primeiras músicas evangélicas – Parte I.

Um escrevedor volta a falar de memória musical – VIII: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas e as primeiras músicas evangélicas – Parte I.

 

Já vai longo o conjunto de arrazoados que se vem escrevendo neste espaço, apresentando alguns dos aspectos relacionados com o caminhar iniciado em janeiro de 1980, quando se deu um passo importante no sentido de promover algumas mudanças no que respeita a busca de definições para a vida daquele que completara 19 anos, ao findar dezembro. A partir do vigésimo dia daquele novo ano, este escrevedor passava a professar a Fé Cristã Protestante, inserindo-se na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, a partir de onde passaria a confessar a Cristo, publicamente, não só dizendo às pessoas, bem como, procurando viver de modo que tal Fé pudesse ser percebida no seu falar, no seu agir e no seu relacionar-se com a sociedade. Uma das mudanças práticas que precisava ser materializada, se referia ao hábito de fumar. Tal hábito fora adquirido aos quatorze anos, quando ingressara na quinta série e, fora reforçado quando retomara a sua liberdade ao voltar do instituto. Apesar de requerer alguma disciplina e persistência, como dissera a um amigo de farras pretéritas, o último cigarro fora fumado na manhã daquele domingo, pois já estava decidido a ingressar no meio Batista, a partir da noite daquele mesmo dia. E, assim foi.

E, prosseguindo no processo de mudanças inerentes ao novo caminho que resolvera começar a trilhar, era necessária a efetivação de uma reforma substancial no seu linguajar. Embora fosse dotado de um vocabulário vasto e rico, se habituara ao uso frequente de palavras prenhes de torpeza, indecência e que expressavam imoralidades, não apropriadas para serem usadas por quem pretendia se apresentar como tendo sido investido de “novidade de vida”. Aquele exercício fora um tanto de mais difícil execução, uma vez que o hábito de as proferir, exigia do rapaz constante cuidado, tanto mais que ele era constantemente provocado por aqueles que afirmavam não acreditar que houvesse mesmo “virado crente”. A sua dificuldade em estabelecer um novo padrão de linguagem, estava mais na superação de hábitos e não na ausência de um conjunto vocabular que lhe permitisse um falar agradável. Nisto, como em vários outros aspectos de sua vida, o rádio foi um grande colaborador, uma vez que as grandes emissoras de rádio que sempre ouvira, possuíam um grande cuidado na hora de escolher aqueles que se colocariam diante dos microfones, uma vez que a correção gramatical e a dicção foram a grande marca daqueles locutores que atuavam no rádio AM. Até mesmo as emissoras do interior possuíam o cuidado naquele campo.

Assim, dado o passo inicial no sentido de passar a fazer parte daqueles que congregavam naquela Igreja, logo procurou se instruir em relação aos dias e horários dos cultos; logo procurou apresentar-se disposto a enturmar-se com os demais integrantes daquele corpo eclesiástico, não obstante a sua imensa e quase insuperável dificuldade de interagir coletivamente. Tanto é assim que, ao que tudo faz crer, o líder daquela igreja se apercebeu de tal característica de uma das suas mais novas ovelhas e, partiu para a tarefa de envolvê-la nas atividades eclesiásticas e/ou extra eclesiásticas, o quanto estivesse ao seu alcance, sem, contudo, preterir esta ou aquela ovelha em dificuldades semelhantes. Prova disto é que algumas semanas mais tarde, já o levava como companhia nas suas viagens para visitar algumas congregações às quais prestava assistência, nomeadamente, uma que se localizava na cidade de Itapicuru, há cerca de cento e quinze quilômetros de Alagoinhas.

Em um final de tarde de outono, este escriba estava assentado nos fundos do pavilhão Luiz Vianna, aguardando o próximo horário de aula, que se realizaria no Jairo Azi, quando é surpreendido pela escuta de uma voz que o chamava pelo nome. Aquela voz já lhe ficara familiar: era o pastor Jessé, que fora ali para convidar aquele rapaz para juntos irem a uma atividade que desenvolveria em Olindina/Itapicuru. Dada a distância e o estado de conservação da estrada, teriam que sair antes das seis daquela tarde, pois precisaria estar no local de destino, aproximadamente as sete e trinta. Tendo objetado que não houvera avisado a sua mãe que não chegaria em casa no horário de costume, Jessé veio com ele para informar a dona Manda que o seu filho iria com ele em uma viagem. Não a encontrando em casa, pediu a vizinha que desse o recado. Aproveitando a ocasião para trocar a camisa da farda por uma limpa e cheirosa, pastor e ovelha embarcaram para aquela que fora a primeira de muitas viagens que fizeram juntos, para aquele mesmo destino.

Eram já cerca de cinco e meia, quando pegaram a estrada BR110. Era um Volkswagen Brasília, já com alguma quilometragem, mas bastante robusto e conservado. Nele, havia sido instalado um equipamento já bastante difundido à época, um rádio-toca-fitas. Sempre ávido por músicas e, em tal ocasião, ávido por conhecer o que se ouvia entre os protestantes Batistas, apropriou-se do equipamento e passou a tocar as fitas que o motorista disponibilizara para que pusesse a rodar. E, de cara, a fita que inseriu em primeiro lugar, continha vários hinos cantados pela Missão Vencedores por Cristo, grande parte delas estava em uma série de discos chamada “Louvor”. Assim, Sempre que as ouvira, em qualquer lugar ou tempo, imediatamente a memória daquelas viagens, daquele batucar das pedras da estrada no assoalho do carro; daquele frio provocado pelo fato da vedação do veículo já não poder conter a passagem do vento – um ar condicionado natural -; daquele indisfarçável sono que quase tornava inútil a companhia para o motorista; da receptividade dos irmãos daquelas igrejas, tanto ao Pastor a quem amavam e respeitavam muito, quanto ao seu companheiro de viagem, que era tratado com fidalguia e desvelo; aquela coalhada saboreada em Olindina, na casa do pastor Luís e sua senhora, irmã Sulamita – a vergonha e o pejo de comer em companhia de pessoas estranhas ao seu convívio (será que estão reparando no desajeitado companheiro de viagem do pastor?) -, emerge viva e se faz presente, a despeito das camadas que a recobrem.

Abaixo, serão colocados os links para três daquelas músicas ouvidas por todo o trajeto de ir e voltar, a fim de que, quem já as conhece lembre; quem não as conhece, desfrute daquele momento de revolução na produção musical Cristã protestante, que se produzia a partir do início da década de 1970. Saliente-se, que este escrevedor não tinha qualquer conhecimento a tal respeito, no momento em que vivenciara aquela virada na hinologia cristã produzida e cantada no Brasil. Tal conhecimento por parte do autor destas linhas, é muito posterior ao novo curso que a adoração musical tomava.

 

A primeira das três músicas escolhidas para trazer aos ouvidos dos leitores é, “Minha Paz vos dou”: vencedores por Cristo, em gravação de 1975. Esta, talvez tenha sido aquela que permaneceu viva na memória por mais tempo, mesmo quando não estimulada por audições posteriores.

 

https://youtu.be/HPKlkjlFwFQ

 

Esta abre o disco e, claro, foi a primeira a aparecer na fita tocada. “Louva a Deus”: Vencedores por Cristo, em gravação de 1975.

 

https://youtu.be/orQo9rS_KQY

 

O hino que se ouvirá em seguida, deixou marcas profundas e duradouras em grande parte daqueles que a conheceram e cantaram. “Faz-me Chegar”: Vencedores por Cristo, em gravação de 1975.

 

https://youtu.be/-kccM79Wppo

 

Esta, por sua vez, ganhou muitas versões, para quem garatuja este arrazoado, a mais bela delas, está no segundo volume de “Luiz de Carvalho e Denise Juntos”. “Pai de Amor”: Vencedores por Cristo, em gravação de 1975.

 

https://youtu.be/Js0wBjWTKWc

 

Portanto, informado a respeito da programação da Igreja, passa a frequentar com regularidade, intentando familiarizar-se com a liturgia de culto, com as músicas e demais atividades cúlticas desenvolvidas ao longo da semana. Um dos primeiros com o qual se identificou imediatamente, era realizado todas as terças feiras, as cinco e trinta da manhã: o “culto matutino”. De baixa frequência, sobretudo por parte dos jovens, era ali que as pessoas contavam as suas dificuldades, pediam as orações dos irmãos. Mas, como não poderia deixar de ser, era ali que também nasciam os mal-entendidos e as especulações, principalmente, quando alguém dentre os que pediam orações aos presentes, não relatavam minunciosamente a situação vivenciada, motivava a necessidade de que se orasse. Mas isto é uma outra história.

No campo da música, era grande a riqueza; tudo era novidade; tudo era surpreendente. Contrariamente ao que se acostumara, em geral eram músicas com melodias agradáveis aos ouvidos, que possuíam uma teologia escriturística expressa em poesias coerentes, uma cristologia sólida, sóbria e biblicamente fundamentada. Para aquele recém-chegado, nem tudo era plenamente compreensível, o que só passaria a sê-lo com o passar do tempo e o amadurecimento na fé, além da ampliação do conhecimento do Evangelho.

Além do canto congregacional que envolvia toda a igreja na tarefa de entoar os hinos a partir do Cantor Cristão, que era hinário oficial da denominação, também se cantava os chamados “hinetos” ou corinhos, envolvendo músicas que não faziam parte da coletânea de hinos tradicionais inseridos no mencionado hinário - em tais ocasiões, pouco a pouco, eram introduzidas as novas filosofias melódicas que começavam a circular, primeiro entre os mais jovens. Mas, também havia um conjunto musical formado pelos jovens da igreja, encarregado de executar hinos outros, de origem autoral mais contemporânea. Era o “Som Celeste”, liderado e regido pela Educadora Cristã, Edileusa Silva. Este garatujador não conseguiu se engajar naquele conjunto vocal, por não se sentir à vontade para fazer parte de um grupo que já estava consolidado, sem falar de sua pouca inclinação para o desenvolvimento de atividades coletivas, que exigia ensaios, implicando em disciplina e mais deslocamentos para cumprir mais aquele compromisso.

Aqui vão três hinos que ficaram marcados no rememorar deste escrevedor. Ao ouvi-los, sempre ressurge de lá do fundo das camadas que cobrem e recobrem a memória, as vozes que magnificamente os cantavam, fique claro, após árduo trabalho de ensaios e regência de Edileusa. É interessante notar que, ao tocar os hinos cujos links se encontram abaixo, parece se estar a ouvir a voz de Edileusa imiscuída às vozes de todo o grupo. Ah, aí o tempo implacável age e age com toda a sua força. Mas, ainda não conseguiu apagar as lembranças que teimam em se esforçar por emergir do meio dos mais de quarenta anos que já decorreram até aqui.

 

A primeira delas é “Deus é Real” na interpretação de Vencedores Por Cristo, que integra o LP com o mesmo título, gravado em 1973

 

https://youtu.be/ElqtxrQyEYs

 

A segunda é “Nada Melhor, também com  Vencedores por Cristo e, do mesmo disco:

 

https://youtu.be/kQgtIkvWJL4

 

A terceira é “Aleluia”, no entender deste garatujador, a mais bela melodia, igualmente interpretada por– Vencedores por Cristo e, inserida naquele mesmo disco de 1973:

 

https://youtu.be/x4iqzlPYq7A

 

José Jorge Andrade Damasceno – historiadorbaiano@gmail.com]

 

28 de setembro de 2021. 

domingo, 26 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical – VII: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – Ainda com o rádio ao pé do ouvido

Um escrevedor volta a falar de memória musical – VII: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – Ainda com o rádio ao pé do ouvido

 

Aquele início de ano de 1980, embora no momento em que estava sendo vivido não se tivesse noção clara, foi marcado de fato por um conjunto de mudanças em vários aspectos da vida deste escrevedor. Alguns deles já brevemente apontados em arrazoados anteriores, sobretudo, no que respeitara ao seu caminhar cotidiano, a partir de então, mediado pela sua guinada no campo da “profissão de fé”, que deixara de ser baseada em uma relação com um catolicismo apenas nominal e, passara a ser fundamentada naquilo que se convencionou denominar “Fé reformada” ou “protestante”, vivida na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas.

Já se comentou em arrazoados anteriores, como se deu a reaproximação com a Fé Batista, inclusive, como o ato de ser cumprimentado pelo Pastor da Igreja, sendo o visitante um ilustre desconhecido para aquele prelado e, o impacto do seu gesto, visto ter se dado naquele dia em que o arisco cidadão, acanhado pelo inusitado lugar em que se encontrava, se recusara a se assentar junto – ou em lugar próximo – daquela família que ele já conhecia há algum tempo e que visitara naquele mesmo dia pela manhã, quando se já estava de saída para as atividades matutinas.

Este garatujador nunca soube se o Patriarca da referida família, falara ao pastor, a respeito da visita feita a ele naquela manhã, bem como do convite que fizera para assistir ao serviço religioso, O certo é que, ao se concluir a União de Treinamento e todos ingressarem no espaço onde se realizaria o culto, o Pastor Jessé dirigiu-se ao rapaz que estava assentado quase nos últimos bancos, dirigiu-lhe algumas palavras de boas-vindas, apresentou-lhe um cordial cumprimento de mãos e, disse que se sentisse a vontade naquele lugar.

Como igualmente já se escreveu, em um domingo de encerramento de série de conferências alusivas ao aniversário de organização da igreja, este narrador assumiu o compromisso público de passar a tomar parte daquela Igreja, recebendo por Fé, o perdão dos seus pecados, passando a confiar inteiramente na suficiência da Cruz de Cristo para ser recebido pelo Deus Eterno como seu filho por adoção.

É preciso deixar claro que não foi sem dificuldades aquele iniciar de caminhada, visto que o ingresso em uma igreja protestante tradicional, não era uma decisão que motivasse o aplauso das pessoas que circulavam no entorno do que assumia professar aquela nova confissão religiosa. Naqueles idos dos finais da década de 1970 e início da seguinte, ser “protestante” não era “glamoureuse”, como passou a ser nas décadas de 1990, sobretudo, quando tal decisão era tomada por alguma “celebridade televisiva” ou  por pessoas socialmente “bem-nascidas”. Mesmo assim, tal “glamour” era manifesto quando a “decisão” era feita nos círculos religiosos mediatizados e devidamente domesticados pelos meios de comunicação de massa.

Muitas foram as críticas, os sarcasmos, os deboches e os ares de desprezo que este escrevente precisou enfrentar, na medida em que se tornava notório que aquele “novo protestante” demonstrava um maior interesse em obter mais conhecimento dos ensinamentos inerentes à sua nova prática confessional. Pessoas que em tempos anteriores eram concordes com suas atitudes e ponderações, passaram a dirigir-lhe severas críticas e proferir palavras duras – quando não desrespeitosas -, no sentido de procurar induzi-lo a rever o seu novo caminhar e, claro, rejeitar como equivocados os posicionamentos tomados na direção do protestantismo.

Deste modo, pouco a pouco sendo inserido no novo ambiente de interação social e cultural, uma das primeiras coisas que se procurou fazer, foi reconstruir o seu acervo musical. Este que agora traça estas linhas, sempre entendeu como incompatível com o viver cristão protestante que ele então iniciava, a audição de músicas seculares, não por elas serem de origem “malignas” de per si. O que se considerava – e ainda se considera – era a motivação e o objetivo delas. Enquanto a chamada “música cristã protestante” era – não é mais – motivada pelo interesse em edificar, fortalecer a “fé”, bem como levar as boas novas do Evangelho para quem as ouvisse, também tinham – insiste-se, não tem mais – como objetivo a consolidação de ensinamentos bíblicos por meio de letras que, ao mesmo tempo, em primeiro lugar, demonstrariam ao Deus Eterno, a gratidão do poeta ou do intérprete, pelo fato de ter não só a chance de ter sido alcançado pelo “Evangelho que é Poder de Deus para todo o que crê”, ampliando para outros a possibilidade de também ser grato por receber “uma tão grande salvação”, sem mérito algum, sem necessidade de ato algum, pois foi dada “pela Graça”, por Deus “mediante a fé”. E, em segundo lugar, cuidaria que fossem fundamentadas nos ensinos encontrados na Bíblia, a Palavra de Deus, sem falseamentos, buscando desenvolver uma interpretação poética e musical das “Sagradas Letras”, sem perversões, distorções ou compreensões que provocassem descrédito, não só dos crentes, como também daqueles que ainda não estivessem inseridos no contexto eclesiástico.

Assim, pensando, este garatujador tratou de procurar conhecer, obter e aprender aquelas novas músicas, saber quem as cantava e, quando possível, quem as compunha. Nem é preciso dizer que o primeiro a ser procurado para um tal fim, foi o rádio. A programação radiofônica voltada para o público protestante era ainda muito escassa, levada ao ar em poucas emissoras de rádio, algumas de difícil sintonia, outras com programas exibidos em determinados horários, o que exigia do novato naquelas lides, uma varredura  pelas frequências e faixas do receptor  - não havia meios de pesquisa rápida -, fazendo com que o contato com os hinos cantados pelos protestantes só pudessem ser obtidos em doses muito diminutas. Entre as emissoras baianas, apenas a rádio Sociedade da Bahia – rádio de propriedade dos Diários Associados, então em profunda crise financeira – apresentava alguns programas direcionados ao público protestante. Eram veiculados durante a semana entre as seis e as seis e quinze da manhã; aos domingos tais programas eram exibidos entre as cinco e trinta e as seis e quinze, sem que houvesse quaisquer critérios doutrinários e/ou identitários para que fossem levados aos ouvintes – A Voz da Libertação, programa oficial da Igreja Deus É Amor, já possuía horários bastante extensos, durante as madrugadas.

Em tal busca, a primeira rádio especificamente pensada para atender o público protestante, embora o objetivo fosse alcançar aqueles que ainda não possuíam o conhecimento da obra salvífica de Jesus Cristo, tomava-se contato com programas como Através da Bíblia, Rádio Escola Boas Novas, Manancial da Vida, que eram levados ao ar em transmissões a partir de Bonnaire, nas Antilhas Holandesas, em ondas médias entre as quatro e meia e as seis da manhã, sendo possível a sintonia aqui na região, apenas até as cinco e trinta. Nela, teve-se contato com as primeiras músicas cristãs, sobretudo, aquelas que a própria rádio Trans mundial precisava produzir para atender às suas necessidades, visto os discos ainda serem escassos, embora já houvesse uma boa produção deles.

Vários daqueles hinos ainda estão na lembrança de quem escreve estas linhas. No entanto, ainda não foi possível localizar muitos que tocam fundo na alma e, de algum modo, ainda se espera encontrar para ouvir e experimentar a alegria de lembrar aqueles tempos já longevos. Mais para agora, é possível trazer duas daquelas primeiras músicas que, em meio a ruídos e interferências; entre idas e vindas do sinal, variação provocada pela propagação das ondas hertzianas, que ainda remetem àqueles primeiros meses do ano de 1980, sempre despertando lembranças há muito adormecidas; memórias há muito imersas nas muitas camadas superpostas pelo tempo.

A primeira delas, era trilha quase obrigatória na programação feita com o intuito de alcançar o público jovem. Seu ritmo e forma de interpretação apontam bem para aquele objetivo. Era cantada por um conjunto chamado “Os Ligados. A música era “Achei Razão Pra Cantar, gravação de  1973.

 

https://youtu.be/l6_bqy4HiGM

 

A segunda, quase sempre era tocada no início da programação da emissora de Bonnaire, mesmo assim, a variação do sinal se fazia presente, o que não impediu que ela permanecesse viva na lembrança – embora tal lembrança tenha sido reavivada há pouco tempo, quando um amigo de bate-papo disponibilizou para que pudesse guardar nos suportes eletrônicos de armazenamento moderno. Trata-se da interpretação de Waldemar Fomin, da música, Que Maravilha É

 

https://youtu.be/mffFnJi6zf8

 

José Jorge Andrade Damasceno - historiadorbaiano@gmail.com

26 de setembro de 2021 – Ontem foi o “dia do Rádio”. 

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical – VI: com o rádio no pé do ouvido – primeiro semestre de 1980 – O Amigo Mário

Um escrevedor volta a falar de memória musical – VI: com o rádio no pé do ouvido – primeiro semestre de 1980 – O Amigo Mário

 

Embora pouco polido, com gestos desajeitados e bruscos, de falar rude, duro e sêco, este escrevedor conseguira atrair para si algumas pessoas que arriscaram a aproximação e, ignorando os coices e refugos, acabaram por construir  sólidas e duradouras amizades, embora escassas, diga-se de passagem.

Como resultado do pedido feito a Seu Faustino, nos princípios outonais de março de 1980, era retomada a caminhada na senda dos estudos. A sétima série, sempre desafiadora e complexa, fora encarada por este escrevente em nova e decisiva etapa de sua vida. Já prestes a completar vinte anos, não teria sentido pensar em uma vida “nova”, agora pautada na leitura, estudo e apreensão de novos ensinos para se afirmar como crente, sem, contudo, conseguir se desvencilhar do primeiro grau.

Os seus colegas que cursaram a sétima série nas vezes anteriores, estavam já iniciando o segundo grau, embora alguns deles fossem mais novos. No entanto, ele estava ali, empacado na mesma série que estivera três anos antes. Àquela altura, a distância já se fizera grande e, o que lhe restava era procurar prosseguir a caminhada. Em uma corrida de qualquer modalidade, equivaleria a ser um retardatário, correndo sim, mas há algumas voltas dos primeiros colocados.

Mas, ali estava ele, em meio a meninos e meninas ainda muito jovens e com muito mais energias, procurando acompanhar as aulas e atividades, sobretudo, as relacionadas aos cálculos matemáticos que tanto travavam no seu cérebro pouco afeito àqueles exercícios que não compreendia e não atinava para a sua serventia. Tendo lançado mão de livros transcritos em Braille, como os de Benedito Castrucci – que, saliente-se, não era o mesmo adotado pela professora Maria do Carmo para a turma, embora ela o conhecesse -, se esforçara e muito, para apreender aqueles conteúdos e os expressar oralmente para a professora, conseguira ao menos, caminhar aceitavelmente, unidade a unidade, até chegar ao final da jornada.

É assim que, certa vez, circulando pelo estadual, talvez fosse no prédio administrativo, ouvira uma voz moça, que lhe chamara pelo nome. Voltando-se para tentar identificar de onde vinha a voz até então desconhecida, o rapaz  lhe dissera:

- Quero lhe ver!

Ao que respondera com sua habitual rudeza e secura, embora acreditasse estar sendo irreverente:

- Está com os olhos vencidos? Procure um oculista!

Mas, o moço não se deu por vencido e insistiu, já travando a sua passagem:

- Estou querendo dizer que quero falar com você...

Sem ter mais como recusar a prosa, este garatujador e o rapaz, iniciaram um a conversa bem agradável que evoluiu para uma amizade lastreada no respeito e na empatia entre aqueles dois moços, tão diferentes, de origens sociais tão díspares, embora ambos tendo algumas coisas em comum, tanto no que diz respeito ao ser e pensar, quanto no que respeita a princípios e predileções.

Era Mário, assim se apresentara e assim passou a ser tratado por colegas e amigos, embora seus familiares o tratassem pelo segundo nome - Cézar. Ele já cursava o segundo grau – no Estadual e no Ginásio Alagoinhas -; era católico ativo nos grupos de jovens diocesanos e, polido, educado, inteligente, de conversa agradável, cobiçado pelas meninas – aliás, disputado literalmente aos tapas – Mas, sobretudo, muito Cortez, sempre se aproximara das pessoas, com o intuito mesmo de as ter como irmãs, em uma acepção bem ampla do termo.

Este garatujador não sabe como Mário descobriu que o seu novo amigo arranhava as cordas de um violão. O certo é que o moço cismou que aquele poderia ensinar-lhe a manejar aquele instrumento. Ali nascera a primeira divergência entre os novos amigos. Ele, queria aprender tocar músicas românticas – principalmente as de Roberto Carlos. O outro, já se imiscuindo em outro tipo de música, retrucava que não se aprendia violão para tocar determinada música; mas, se aprendia violão, para tocar qualquer música.

Na condição de católico e partícipe dos encontros diocesanos, o rapazinho estava enamorado por uma estudante do colégio São Francisco e, queria cantar para ela, impressionando-a ainda mais, ao cantar e tocar ele mesmo.

Ponderou-se que, para tanto, ele precisaria aprender o instrumento, de modo que pudesse tocar e cantar qualquer coisa que quisesse e, quiçá, que a garota pedisse. E, foi grande a altercação entre os dois. Porém, o respeito e a admiração mútua, fortaleceu-se em tal circunstância.

A querela acabou tendo uma solução quase salomônica. O pretenso professor propôs que o aprendiz fosse disciplinado na aprendizagem e, duas músicas seriam ensinadas. O aluno topou a proposta e, logo ele aprendeu Feliz Serás, música que ambos aprenderam a gostar, tendo ouvido a interpretação de Denise Cardoso – então ainda uma criança. A referida música, saliente-se, passou a ser conhecida por este narrador, a partir de sua inserção na Igreja Batista.

 

https://youtu.be/DWjz6r7FxoU

 

A segunda das duas músicas, foi aquela que o rapaz queria cantar para a menina que ele então escolhera para se enamorar. Dizia ele que aquela canção retratava bem a jovem e, que ouvindo o fazia lembrar de seu traço mais marcante: sempre trazer os cabelos em tranças. Era, nada mais nada menos do que Antônio Marcos com a belíssima interpretação da não menos magnífica: Menina de trança, que já era conhecida deste escrevinhador, claro, por meio das audições de rádio.

 

https://youtu.be/W5XS1NMhO4A

 

José Jorge Andrade Damasceno 

23 de setembro de 2021 - Primavera!

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical – V: com o rádio no pé do ouvido – 1980 – O RECOMÊÇO

Um escrevedor volta a falar de memória musical – V: com o rádio no pé do ouvido – 1980 – O RECOMÊÇO

 

Tendo batido a cara na porta do setor pessoal da empresa para a qual fora orientado a comparecer no dia trinta e um de dezembro, no dia seguinte, terça-feira, primeiro dia do ano de 1980, este escrevedor e sua mãe, já se encontravam em Alagoinhas, depois de uma noite quase não dormida. Mãe e filho dividiram uma cama na casa de umas parentes. Para ele, aquilo prenunciara o que seria residir naquele local; também prenunciara os limites de movimentos que o lugar lhe imporia, visto ser um terreno completamente desconhecido, o que o obrigaria a depender de terceiros para sair e chegar; prenunciara um ambiente de restrições e dificuldades outras. Tais prenúncios fervilhavam em seu cérebro, pouco a pouco fortalecendo a decisão de não continuar ali e naquelas circunstâncias, apenas para ter uma vaga de trabalho cuja remuneração não seria suficiente para fazer frente às suas necessidades, acrescidas das responsabilidades inerentes ao viver em casa de terceiros.

Ao acordarem ainda cedo, ele comunicara a sua mãe a decisão tomada: não ficaria. Não estava disposto a depender de terceiros para morar, sair e chegar na moradia. Os horários de saída e os ônibus que precisaria pegar para cumprir o horário de trabalho, também foi um elemento importante na argumentação. Não convencida e até certo ponto contrariada, dona Manda aquiesceu e, pouco antes da hora do almoço já estavam acomodados em seus espaços, pouco mais de vinte e quatro horas após tê-los deixado para trás, rumo a capital.

Naquela tarde, voltara a circular no centro da cidade, como se dele tivesse afastado há anos. Fora ao posto telefônico da Telebahia, ainda na Sóror Joana Angélica e, enquanto conversava com um amigo dos tempos escolares, chega-lhe aos ouvidos os acordes executados pelo Trio Elétrico Valneijós, que interrompera o papo e, o arrastara atrás de si. Entrou no meio da turba, como se fosse – como de fato o foi – a última vez que sairia quase insano atrás daquele caminhão eletrizante, que percorrera o centro e dirigiu-se à Praça Maestro Santa Isabel, de onde este escrevente se dirigiu para sua casa.

Não ficou qualquer memória do que se tocou/dançou naquele dia. Mas, eram muitas as interrogações, as dúvidas e a necessidade de encontrar alguma resposta para algumas delas. Era o ano em que completaria vinte anos. O que tem definido? Nada. O que tem de perspectiva? Nada! O que fará para prover a si, a sua mãe que já apresentava nítidos sinais de cansaço? Não sabia, não atinava.

No domingo 06, fora ao aniversário da filha de um amigo, onde comera e bebera como poucas vezes o fizera; naquele mesmo domingo, fora até a casa de João e, lá estava seu pai e irmãos mais novos. Pegara no colo a irmã caçula – era a primeira vez que tinha nos braços um dos frutos de seu pai, ainda aprendendo a caminhar; a segunda vez que a tivera no colo, foi quatro anos mais tarde, quando o fora visitar convalescendo de infarto -, que contava pouco mais de um ano.

Talvez em busca de alguém que lhe ouvisse, na manhã do domingo seguinte, 13,dirigiu-se a casa de um casal amigo de sua mãe – seu Teobaldo e dona Jandira -, que o recebera, mas, não lhe poderia dar atenção naquela hora, pois estavam de saída para a “Escola Dominical”. Mas, fizeram o convite para os acompanhar, caso quisesse. O visitante declinara, visto não estar adequadamente vestido para se dirigir àquele local – que acreditava exigir roupas sóbrias, como aliás, acreditava ser as que vestiam o casal e os seus filhos. Mas, retrucaram, poderia ir à noite, para assistir ao culto. Começava as dezenove horas.

Um tanto desapontado com a situação que se encontrara, passou a se perguntar de si para consigo:

- O que haverá de tão importante ali, para eles terem um horário de permanência tão rígido e longo? O que se faz, o que se diz, em duas horas de culto pela manhã, e outras duas à noite?

Ainda na noite daquele domingo, se dirigira até o local onde congregava aquele casal, que não lhe era de todo desconhecido, visto que, alguns anos antes, até chegara a fazer uma “decisão”, não levada adiante, entre outras razões, pela sua dependência de pessoas para ir e vir aos lugares. Tudo ali lhe soara interessante e, convidado a voltar no domingo seguinte, quando se comemoraria o aniversário de organização da Igreja com “dias de conferência”, ainda movido pela curiosidade, acabou atendendo ao convite e fazendo – ou se diria, renovando – a decisão de ingressar no Evangelho, naquela Igreja que alguns meses depois o receberia como membro.

A próxima resolução a ser posta em prática, seria aquela que, com o tempo, seria a tomada de decisão que lhe daria os meios de que precisava para atender a sua premente necessidade de ter os meios para prover a si e a sua mãe, ter uma prole e, sobretudo, ter o respeito que dignifica  o homem. Embora o intervalo entre aquela retomada dos estudos e o início da concretização de tais objetivos tenha sido de dezesseis anos, aquela terça-feira chuvosa, 22 de janeiro de 1980, foi o recomeço da caminhada. Logo pela manhã, este garatujador dirigiu-se ao Estadual e, na secretaria, atendido por Seu Faustino, sempre atencioso funcionário, solicitou que fosse mais uma vez matriculado, para enfim, concluir a sétima série, duas vezes abandonada nos anos anteriores.

E a música? Bom. Aqui, faz-se necessário uma observação. O ainda mal iniciado ano de 1980, ainda repercutia o ano anterior, que transcorrera sob o signo da “abertura lenta, gradual...” promovida pelo governo do último dos generais-presidentes e, os compositores estavam mais livres para fazer fluir as suas letras, ainda focadas na ditadura iniciada em 1964, que, saliente-se, mantinha o controle do país, apesar da “abertura”. Era a volta dos exilados, a reestruturação dos partidos políticos e, Gilberto Gil – entre outros artistas e compositores acossados pela censura - escrevendo e cantando as suas músicas, exprimindo a dor daqueles que tiveram seus amigos e aliados presos ou mortos pela repressão política, sobretudo, aquela que fora lastreada no Ato Institucional número 5. É sob este pano de fundo que aquele ano continua repercutindo uma versão de “No Woman, No Cry” que chega avassaladora nos receptores de rádio – de Amplitude modulada e a Frequência Modulada, cada vez mais fazendo parte dos hábitos daqueles que ainda apreciavam o rádio como meio de entretenimento. Era aquela interpretação de Gil que chegavam aos ouvidos deste escrevente, enquanto eram vividos aqueles dias de profundas mudanças.

 

https://youtu.be/80G7jbLNc9c

 

José Jorge Andrade Damasceno

 21 de setembro de 2021     

domingo, 19 de setembro de 2021

UM ESCREVEDOR FALA DE MEMÓRIA MUSICAL - IV.

Um escrevedor volta a falar de memória musical – IV: com o rádio no pé do ouvido – 1979 – A Tentativa de Recolocação

 

O ano de 1979 se iniciou com muitas expectativas e foi concluído com um feixe de frustrações e desenganos. Algumas decisões que foram tomadas e iniciativas construídas a partir da perspectiva de ingressar no mercado de trabalho e, sobretudo, no rol dos “homens”, deixou claro para este escrevedor, que, embora ele de fato tenha conseguido ingressar no mercado de trabalho, o tal ingresso não o faria “homem” pleno de seus direitos e capaz de atender ao seu desejo de se tornar independente e pronto para assumir as rédeas de sua vida, na acepção mais ampla que isto possa ter. Ele entrara em uma atividade laboral por volta de abril daquele ano – ou fim de março.

NO entanto, na primeira semana de julho, ele já se encontrava a caminho do Senai para se colocar na fila daqueles que precisariam encontrar um novo local de exercício laboral, visto que era impossível manter-se residindo em Salvador ou, indo para lá e vindo para cá, mediante a remuneração recebida. O volume de recursos que precisava ser despendido para se morar em Salvador – em moradias precárias e/ou coletivas -, excedia o valor do salário-mínimo, que era a remuneração paga em grande parte dos estabelecimentos  laborais onde era alocada boa parte dos cegos que buscava o Senai para aquele fim.

Todo o resto daquele ano transcorreu em meio a expectativas, tentativas, insistências e buscas. O candidato a “homem” independente e dono de seu destino, custou a compreender as vicissitudes da vida laboral, sobretudo, daquela construída por e para os cegos, na medida em que, mesmo sabendo que os custos para se manter em Salvador não seriam cobertos pelo salário que receberia em qualquer outro empreendimento do mesmo porte daquele que lhe fora oferecido anteriormente - quer pela sua falta de preparo técnico especializado, quer pela inexistência de relações pessoais com o responsável pelo setor de colocação de mão de obra do Senai -, entendia que não haveria outra coisa a fazer, se não, esperar que de alguma maneira, a próxima colocação fosse melhor, haja visto que ele expusera ao “chefe do setor”, os motivos que o teriam levado a deixar a colocação anterior.

Assim, em uma das idas para entrevistar-se com “Seu Manoel”, voltara sem qualquer resposta favorável. E como se desdita pouca fosse bobagem, acabara por esquecer no ônibus em que voltava – o único objeto que conseguira comprar com a remuneração de seu trabalho, que não o pagamento de despesas com comida e moradia -, a sua bolsa capanga contendo os documentos pessoais, que levara consigo, na expectativa de que seria encaminhado para uma nova empresa.

Enfim dezembro. Com ele, sugira a esperada recolocação. Após correr para obter novos documentos, fora ao Senai. Lá, fora lhe dito que se apresentasse no novo local de trabalho, munido da documentação necessária para a admissão. Daquela vez, ele iria só. Não teria a necessidade de ser acompanhado pelo pessoal do Senai, pois, a empresa já era parceira e já recebia trabalhadores cegos, portanto, sabendo lidar com eles e lhes dar o treinamento necessário para o bom desempenho das tarefas que lhe seriam atribuídas.

Mas, qual seria a data em que o candidato a operário deveria se apresentar na empresa?

- 31 de dezembro. Pode chegar e procurar o setor pessoal com os documentos.

O crédulo e ainda “inocente, puro e besta” - conforme dissera Raul Seixas -, assim fez. No dia informado ele de fato se apresentou na empresa e, pediu para falar com o setor pessoal.

- Seu Manoel disse para eu vim e falar com ...

- “Meu amigo, hoje é véspera de ano! Não tem ninguém de chefia aqui. Só os peão”!

Experimentando uma de suas primeiras frustrações de rapaz feito adulto há pouco tempo, saiu dali com raiva do mundo e, sobretudo, de si mesmo. Como poderia ter ignorado as lógicas – talvez até mesmo desconhecido – das pessoas, que àquela altura, só estavam preocupadas com os seus folguedos e os seus comeres e beberes? Como ele pudera desconhecer que, ninguém deixaria de se envolver nos preparativos de suas comemorações, para ir receber um desempregado para o tirar daquela condição?

Foi com tais interrogações e entre goles de vinho – que para quase todos seria para comemorar a tal “chegada de um novo ano” - que ele passou aquela noite de trinta e um de dezembro para primeiro de janeiro, bafejado pela realidade nua e crua que lhe cuspira na cara: aprenda, bestão!

Talvez tenha sido aquilo que o fizera despertar para o fato de que, definitivamente, aquele não seria o seu caminho, visto que, ainda que lhe viesse a ser dado o dito emprego naquela empresa, não seria em nada diferente do que tivera anteriormente; que os recursos advindos do seu labor, não seriam suficientes, nem mesmo para residir em casa de parentes. Mesmo ali, seria preciso contribuir nas contas, na obtenção de víveres. E para ele, nada sobraria. Nada compraria para si, pois, é claro, não seria remunerado com mais de um salário.

Talvez fosse pensando em tudo aquilo, que ele cantasse a plenos pulmões “No aço dos meus olhos/e o fel das minhas palavras/Acalmaram meu silêncio/mas, deixaram suas marcas”; Se hoje sou deserto/é que eu não sabia, que as flores/com o tempo/perdem a força/e a ventania/vem mais forte...”

Era assim, com o rádio no pé do ouvido que, ao tocar “noturno”, em uma  interpretação magistral de Raimundo Fagner – aliás, para este garatujador, a melhor interpretação daquele cearense -, que se explodia o desejo de vociferar cada sílaba, cada verso daquela letra que, ainda hoje, demonstra a rudeza da vida, que para este narrador, se apresentara tão cedo, talvez, querendo mostrar o quanto ele teria de lutar, de brigar mas, sobretudo, o quanto ele teria que amadurecer, para não ser de todo tragado pelas encrespaduras do viver humano.

 

https://youtu.be/i3LGfg92xyE

 

José Jorge Andrade Damasceno

Domingo, 19 de setembro de 2021. 

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical III – Com o rádio no pé do ouvido: 1978 entre o auge da “Discoteque” e a morte de dois Papas.

Um escrevedor volta a falar de memória musical III – Com o rádio no pé do ouvido: 1978 entre o auge da “Discoteque” e a morte de dois Papas.

 

O ano começa como todos os anos até aqui já vividos por este escrevente: milhares de felicitações e vãos desejos de “um ano bom”; um grande número de expectativas afloradas no curso de uma vida que se aproximava do ano da maior idade, que se preparava para o alistamento militar, a retirada de novos documentos, o reinício de mais uma temporada escolar, prometendo mais tropeços  em meio à raiz quadrada, à famigerada equação do primeiro grau, com seus jogos de sinais, números dentro e fora dos parêntesis, dos colchetes e das chaves... coisas que se embaralhavam no bestunto do aluno que partia para cursar a segunda sétima série, já que no ano anterior, ele a abandonara por se apresentar com grande dificuldade para operacionalizar aquelas complicadas sentenças matemáticas e, pior do que isto, poder demonstrar aos professores os parcos resultados alcançados, visto que naquele caso, a ferramenta datilográfica não o ajudaria. Se recusando a uma reprovação por conceito, optou pelo abandono, após fazer algumas contas e entender que não alcançaria a média naquela matéria que teimava em não se deixar apreender pelo seu bestunto. D

Mas, o camarada não era de todo rude; além de obter alguns progressos no aprendizado de violão, também conseguiu chutar uma bola, adaptada pelo seu colega de vadiagens. Nesta toada, foram realizadas algumas partidas envolvendo os cegos de Salvador, Alagoinhas e Feira de Santana, nas quadras do 4º batalhão da Polícia Militar e no clube Acra; no clube de regatas Itapagipe e na quadra do hoje já inexistente ginásio do Balbininho em Salvador – aliás, horrível para os cegos que ouvem mal! – e na quadra do Tênis clube de Feira de Santana, além de Candeias, do centro social urbano da Caixa D’água.

Aquele ano também foi marcado pelo êxito da música “dancing”, que já entrara no Brasil um tanto tímida, uns  dois ou três anos antes. No entanto, 1978, ela ganhou força junto ao público jovem, não só com um grande número de faixas internacionais, como com algumas versões e, até mesmo alguns grupos especialmente criados para surfar naquela nova onda.

 

Grace Jones - La Vie En Rose –

 

 https://youtu.be/YEM8TspcCBY

 

John Travolta & Olivia Newton-John - Summer Nights –

 

https://youtu.be/A_J2bcNx3Gw

 

John Travolta & Olivia Newton-John - You're The One That I Want –

 

https://youtu.be/e__Pp4FxsjU

 

No ano anterior, Rita Lee já satirizava aquele modismo, bem à maneira brasileira:  

 

https://youtu.be/HTcTODxRN4k

 

E, no ano seguinte, ela reforça a sua sátira, precisamente com algumas músicas que embarcaram nos “embalos de sábado à noite”. Mas, saliente-se de passagem, que ela mesma não se poupou da acidez de suas críticas:

 

https://youtu.be/NOvMzyCTBlc

 

Ao mesmo tempo em que Caetano Veloso cantava São Paulo, de um modo um tanto quanto filosófico, já que a expressão “Narciso acha feio o que não é espelho”, acabou por ser uma espécie de “emblema” daquela São Paulo que ele retratara em “Sampa”:

 

https://youtu.be/Nmxp4XQnBpw

 

Mas, sem qualquer sombra de dúvidas, a música que mais  refletiu o estado de ânimo daquele brasileiro que já começava a ganhar algum entendimento do cenário político do país foi “Cálice”, magistralmente interpretada por Chico Buarque de Holanda e Milton Nascimento, não sem grandes dificuldades, visto que a Censura Federal era implacável com as letras de Chico, embora aquela gente pouco entendesse dos seus versos, apenas tidos por “subversivos”.

 

https://youtu.be/9y2xB90A0CY

 

Como sempre, este escrevedor ouviu pela primeira vez esta música, através da rádio Mundial do Rio de Janeiro, bem como através da rádio Jornal do Brasil, no cair da tarde ou ao anoitecer, que a propagação hertziana facilitava a chegada daquelas emissoras de rádio “AM” por estas paragens. Muitas vezes com o rádio apertado ao ouvido, buscando uma melhor absorção tanto da melodia, quanto da letra que emanava daquela interpretação precisa do momento político e social de repressão e truculência propugnada pelo governo dos generais, iniciado pelo golpe de 1964.

Já no segundo semestre do ano de 1978, tendo retornado de uma daquelas partidas de futebol acima mencionada, ao chegar em casa, já quase por volta das oito da noite de um domingo, 6 de agosto, como habitualmente fazia, encostou o rádio ao pé do ouvido para se inteirar das notícias e, também pela rádio Jornal do Brasil, este garatujador ouviu a notícia da morte do Papa Paulo VI, que, como seria de se esperar, desencadeou uma grande comoção entre os professantes da fé católica, embora aquela morte tenha se dado dentro das premissas naturais do viver humano.

No entanto, a surpresa ficaria por conta da morte do seu sucessor, João Paulo I, que governara os católicos pelo curto período de pouco mais ou menos três meses. Mais intrigante do que o seu efêmero pontificado, foi o mistério que envolveu a causa e a circunstância de sua morte.

 

José Jorge Andrade Damasceno – 13 de setembro de 2021. 

domingo, 5 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical II – Com o rádio no pé do ouvido – Segunda metade de 1977.

Um escrevedor volta a falar de memória musical II – Com o rádio no pé do ouvido – Segunda metade de 1977.

 

Enquanto este escrevedor tropicava nas dificuldades inerentes à raiz quadrada e se atrapalhava com os monômios e os polinômios, o ano de 1977 corria pleno de músicas que eram executadas nas rádios de Amplitude Modulada, mas, também nas de Frequência Modulada, já em franca expansão, mas ainda com pequena audiência, pois, hera pouco o número de aparelhos existentes no mercado, capazes de as capitar. Elas claramente já falavam nas intempéries políticas e sociais em que se encontrava o Brasil dos generais; falavam de carestia, bem como de uma expectativa em torno de melhores dias impulsionada pelo desejo de que as liberdades democráticas viessem a ser reestabelecidas, apesar daqueles que forçavam para que isto não viesse a acontecer; os ouvintes brasileiros continuavam a ser inundados com músicas internacionais, sobretudo em língua inglesa, atraídos essencialmente pela sonoridade delas; era o início de uma avalanche que se convencionou chamar de “dancing”, fazendo com que a juventude fosse atraída por aquele ritmo frenético de dançar, embalados por músicas que tocavam em todas as rádios ouvidas por aquele seguimento da população, bem como em festas frequentadas por ele. Um exemplo dentre vários que poderiam ser aqui apontados, era a interpretação de Santa Esmeralda - Don't Let Me Be Misunderstood

 

https://youtu.be/YZDKR48l0ro

 

Aquele ano também foi marcado pela morte de Elvis Presley, evento que repercutiu bastante nas transmissões radiofônicas, sobretudo, nas emissoras cuja programação era voltada para o público jovem, como era o caso da rádio Mundial e Eldorado, ambas do grupo Globo, além de emissoras paulistas que buscavam atender àquele mesmo público. Para este escrevedor, pouco afeito ao estilo musical daquele artista – apreciando apenas músicas mais lentas como Sylvia,

 

https://youtu.be/qOEQVMwzjQo

 

Always on My Mind,

 

https://youtu.be/wvzhGfa8r0o

 

It’s Now Or Never

 

https://youtu.be/Uwelrtb8Oho

 

e a belíssima  Kiss me Quick,

 

https://youtu.be/OB-YD47ddWI

 

 

-, nada impactou aquele evento fúnebre, à não ser pela solidariedade aos seus coetâneos  e aos da geração nascida em 1950, que apreciavam o rock and. roll, que Presley apresentava. Era a sonoridade daquelas canções que, como já se disse, ouvidas no rádio colado ao ouvido, O que mais proximamente explicava o apreciar deste narrador, pois, nada entendia daquelas letras e, nem mesmo procuraria entender, mediante traduções.

A consciência política deste escrevedor era zero, bem como o era a dos seus amigos e colegas mais próximos. Apreciava Chico City e  a novela O Bem-amado, apenas por serem boa sátira e provocadoras de largas gargalhadas, quando se reuniam para comentar as trapalhadas de Odorico Paraguaçu e as “canalhices” de Canavieiras. No entanto, não faziam a menor ideia de que se tratava de críticas mordazes ao regime dos generais, que marcavam o cenário político do País, desde os idos de 1964.

Certa vez, em uma das brincadeiras promovidas por Valter Ramos, então seu professor de violão, participara de um arremedo de programa de calouros, cantando  a espirituosa e excêntrica música “As

Aventuras de Matusalém.

 

https://youtu.be/Tf8-30toagA

 

Tal foi o sucesso da apresentação musical entre os meninos, que o aprendiz de violão e de intérprete, que ele  acabou por tomar parte do corpo de “jurados” daquela brincadeira de quase todos os inícios de noite.

E, por falar em “aprendiz de intérprete, o seu primeiro teste fora da cobertura do seu professor de violão e da assistência notadamente já sua fã, foi na “festa da Mocidade”, tradicional evento realizado anualmente na Praça Maestro Santa Isabel. Entre as atrações do folguedo, estava um programa de calouros – desta vez com jurados que não eram amigos (ao menos, deste escrevedor). Durante todas as noites, aprendizes de interpretação se apresentavam com músicas as músicas que acreditavam dominavam e, eram quase sempre as que tocavam no momento da realização da festa. Acompanhados por um conjunto musical, naquele ano era o formado por um grupo de meninos “prodígios”, que logo foram denominados de “Os Fantásticos”.

Durante toda a semana, um garoto empolgara a plateia e, claro, os jurados, interpretando magnificamente uma belíssima composição de Peninha – que estava tocando bastante naquele momento ‘-, magistralmente acompanhado pelos comandados de Mário Boa Morte e Enéias, até então, crooner de “Os Caciques. Ninguém batia o garoto, tanto no campo da performance interpretativa, quanto no campo da afinação da sua bonita voz. Tal desempenho era ainda mais valorizada pelo impecável acompanhamento feito pelo conjunto já aludido. A canção que ele tão bem cantara era “Sonhos”.

 

https://youtu.be/SBHCY81_4jQ

 

Depois de muita hesitação, este garatujador resolveu que iria desbancar o já virtual campeão, visto que vencera a todos os que se apresentaram nos dias posteriores. As músicas cantadas pelos concorrentes, não conseguiram o mesmo êxito; nem sempre pela qualidade  - ou falta dela – dos intérpretes. Certo é que, era este o problema que o novo concorrente precisava resolver. Com qual música concorreria?

Era seu hábito quase que diário, comparecer em uma barraca de cigarros aos fundos da prefeitura municipal para longos papos com um amigo. Ali, funcionava uma loja de discos “revidisco Magazine”. Naquela tal semana, teve o gosto de ouvir o novo disco de Raul Seixas e, a música “No Dia Em que A Terra Parou”, ofereceu-se lhe como a grande oportunidade de participar, quiçá com algum êxito, no programa de calouros da “Festa Da Mocidade”. Para ele a música já era conhecida, devido as audições de rádio – à época, as músicas tocavam primeiro nas rádios do Rio de Janeiro ou de }São Paulo. Foi assim que, tendo algumas vezes ouvido aquela música na rádio Mundial, a sua estrutura melódica não era estranha. A dificuldade estava na apreensão da letra. Tendo ouvido diretamente no disco, conseguiu copiar de memória; entendeu razoavelmente a forma de tocar os seus principais acordes. Depois, partiu para o confronto com o intérprete de “Sonhos”, tendo o vencido nos dois últimos dias da festa: no sábado, indo junto com ele para a final, que seria no domingo, quando também venceu, mas, sem o seu brilho, pois nem o pessoal do conjunto conhecia a canção, o que deu ao público uma sensação de injustiça do resultado.

 

https://youtu.be/H8zbYY41Vus

 

José Jorge Andrade Damasceno – 05 de setembro de 2021.