sábado, 17 de agosto de 2013
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quinta-feira, 15 de agosto de 2013
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terça-feira, 13 de agosto de 2013
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domingo, 27 de janeiro de 2013
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UMA TARDE DE DOMINGO
Histórias e memórias de uma tarde de domingo
Os anos sessenta e setenta, foram marcados por grandes
movimentos sociais e culturais, envolvendo várias gerações de jovens, de ambos
os sexos, que desejavam “revolucionar” os costumes e rasgar toda e qualquer
tentativa de regramento de seus impulsos e/desejos e, sacudir para longe de si,
todo corolário de construções normativas, que até os meados dos anos 50, trazia
os “novos rebeldes”, ou, como foram denominados os “rebeldes sem causa”, como
que “represados” no que respeita ao comportamento sexual, às expressões
culturais e às manifestações artísticas.
No campo da expressão
musical, o “Rock and roll”, personificado nos “quatro rapazes de Liverpool”,
que deram ao mundo o estrondoso sucesso aos Beatles e no cantor norte-americano
Elvis Presley – para citar apenas estes -, encontra campo amplo e terreno
fértil para sua difusão, trazendo consigo a implosão de grande parte dos arcabouços
que forjaram um “modus vivendi”,, construído e apreendido, por longos séculos de
dominação de uma cultura burguesa conservadora.
Portanto, o “rock and roll”, a ousadia, a intrepidez e o
destemor do novo, foram as marcas daquela geração que, enfim, segundo suas
premissas, reconfiguraria a sociedade ocidental, no sentido de demonstrar suas
propostas de novas formas de convivência social, não mais sobre estruturas sólidas
e “petrificadas”, exigindo uma flexibilidade que permitisse a coexistência de
uma ampla gama de “micro-sociedades”, o
que promoveria, forçosamente, maior empenho coletivo, no intuito de obter cada
vez maiores espaços de liberdade social e participação política.
No Brasil, o movimento tem suas especificidades, que não cabe discutir neste espaço. Mas a
“jóvem Guarda”, com sua música sob a forte influência dos Beatles, Rolling Stones
e seus similares, provoca uma
“revolução” em alguns setores da juventude brasileira, fazendo explodir pelo
país, para além do eixo Rio-São Paulo, os conjuntos musicais, com o
instrumental elétrico.
Sob a inspiração dos
conjuntos nacionais de grande sucesso entre os jovens dos “anos dourados”, como
os de Renato e seus Blue Kaps, The Fevers, entre outros, muitas cidades do
interior e/ou capitais de menor porte, viram nascer e sobreviver por alguns
anos, os conjuntos Formados basicamente por órgão, guitarra, contrabaixo e
bateria, estribados em uma aparelhagem possante, que fazia a alegria das festas
juvenis. Alagoinhas teve alguns conjuntos com estas características, sendo os
Milionários, os Caciques e o grupo Manifesto, os mais lembrados dentre eles.
Tais conjuntos se apresentavam com excelentes cantores,
também denominados de “crooners”, como Enéias Santana, cuja lembrança daqueles
que o ouviram, sempre se apresenta nítida, ao recordar o grande momento vivido
pelos Caciques, conjunto que levou sempre a sua marca, até sair para criar e
dirigir o conjunto “os Magníficos”, segunda geração daquele tipo de grupo
musical, pouco a pouco reorientado, até se tornar “Banda”, modo como passou a
ser denominado a partir dos meados dos anos 1980.
Nas décadas em que a jovem guarda e a “dence music”
assumiram lugar de proa no gosto musical da juventude brasileira em geral e
baiana em particular, pelo menos quatro grandes
clubes de Alagoinhas, se constituíam em lugares de encontro, lazer e
entretenimento, onde algumas gerações alagoinhenses viveram grandes momentos,
com festas arrojadas, muitas vezes trazendo conjuntos de outras cidades, que
rivalizavam com os locais, sendo o mais memorável deles, o conjunto “Los
Guaranis”, ainda hoje em atividade, no vizinho estado de Sergipe.
O Alagoinhas Tênis
Clube, a Associação Atlética Banco do Brasil, a Associação Cultural e
Recreativa de Alagoinhas ou (clube Acra), como todos o conheciam e a Associação
Cultural Vencedor (na praça Maestro Santa Isabel), marcaram as noites dos
sábados e as tardes-noites dos domingos, promovendo concorridos e animados
bailes, apesar dos limites de seus espaços físicos e, evidentemente, o custo
dos ingressos, que, para grande parte da população era um fator inibidor do
desejo de participar ativamente das festas promovidas por aquelas agremiações.
Durante os primeiros anos de existência e funcionamento, os
clubes se constituíam em espaços privilegiados dos sócios e familiares, onde
eram promovidos os encontros sociais, aniversários, recepções e outros tipos de
eventos reservados ,dispondo de espaços de convivência, como bar, restaurante e
piscina, cujo acesso era restrito aos sócios em dia com suas obrigações
financeiras.
Em alguma longínqua tarde de domingo, em algum mês de 1978
ou 1979, tocavam os Caciques, ou eram os Milionários... Certo mesmo é que o
Tênis promovia uma animada festa, talvez exclusiva para os seus sócios...
Lá estava um sujeito, que não era sócio, não tinha dinheiro
para o ingresso, nem mesmo para a bebida, ainda que não alcoólica: estava ali,
como se dizia, um “penetra”. Ele importunava as damas, procurava convencer a
alguma dentre elas a dançar consigo, mediante abordagens desajeitadas,
inoportunas, deselegantes mesmo, ao ponto de se sentir acuado, diante da ameaça
de alguma delas pedir a intervenção do namorado ou, quiçá, do marido, afim de
interromper aquele abuso!
Constrangido, humilhado e, porque não dizer, amedrontado, o
penetra procurou um lugar onde se refugiar, contentando-se em ouvir as músicas
que o conjunto executava, com a qualidade que era a marca daqueles grupos.
Em dias como aqueles, a ainda pacata Alagoinhas, via surgir
as gentes, chegando das ruas no entorno do Tênis, cuja frente era voltada para
o largo do estádio Carneirão, de onde se via o Ginásio Alagoinhas e o “Estadual”;
a lateral esquerda dava para os fundos do Hospital Dantas Bião.
Embora fossem poucas e dispersas as residências que
circundavam aquele clube social, que não distava muito do seu oponente, o ACRA,
ele era freqüentado pela fina flor da elite alagoinhense. A rua Elvira Dórea,
tinha seu início na esquina da rua Marechal Deodoro e se estendia até a esquina
do Dantas Bião. Nela se localizava a clínica
Cetro (clínica de traumatologia), a Santa casa de Misericórdia, a maternidade,
o Instituto Mauá e, era habitada por gente como o então prefeito Miguel Fontes,
o dentista paulista doutor Faria, entre outras famílias de algum prestígio na
cidade.
Havia algumas poucas ruas transversais a Elvira Dórea, sem
calçamento e, ainda menos habitadas. Pois foi da casa de uma delas, que Maria
Isabel se arrumou e saiu, para também ir abrilhantar aquela tarde de festa.
Aquela jóvem esbelta, de estatura mediana, senhorita envolta
em agradável perfume, de trato amável, de palavras doces e gestos gentis, se dispusera a tirar aquele
anônimo da suprema humilhação de quedar-se só,como se fora ela, uma princesa
que, vinda de límpida fonte, resolvera dar um pouco de água fresca, àquele
plebeu sedento.
Sem tomar conhecimento do desalinho do cavalheiro, sem censurar
visível descompasso dos passos de quem escolhera para par na dança, aquela moça
deu ao rapaz solitário e escanteado, o prazer de bailar consigo, várias
daquelas excelentes melodias tocadas pelos exímios músicos que animavam o
lugar.
De estilo todo próprio, aqueles conjuntos apresentavam o que
havia de mais moderno em aparelhagem, acessórios e instrumental, o que
impulsionava seus músicos a esmerar-se na execução das melodias do modo mais
aproximado que pudessem, de suas gravações originais, sendo seus crooners, os
responsáveis por fazer o público viajar nas boas letras que se produziam na
ocasião, evidentemente, excetuando-se as músicas em inglês, cuja pronúncia
arranhada e forjada da língua de Shakespeare,seguramente, a violentava, palavra pós palavra!
Foram tornadas clássicas e de execução obrigatória, algumas composições
nacionais da jóvem guarda como Diana,versão
imortalizada por Carlos Gonzaga, Coração de Cristal, Coração de Papel, Avemaria no Morro, versão
de Eduardo Silva. No repertório também apareciam composições internacionais. Apesar
de alguns apreciarem muito a “chançon Française”, as músicas tocadas pelos
conjuntos eram quase sempre em inglês, tais como Marie Julie, Daniel, Happy Man, Tell me onbce again, felling’s, We Said
Goodbye.
Entretanto, o ponto mais alto da festa foi, o momento da magistral
Execução de uma das músicas de maior sucesso nos salões dos clubes, no repertório
dos conjuntos e perene lembrança na memória daquele dançarino descompassado: “do
you wanna dance”, que foi, precisamente, a música que lhe propiciou o
indescritível prazer de dançar com aquela gazela delicada, de quem nunca mais
esquecera e, poucas vezes encontrara, após aquela tão memorável e já longínqua
tarde
domingo, 20 de janeiro de 2013
"Um dia o trem atropelou um Jegue"
“Um dia, o trem atropelou um jegue”
Alagoinhas, é uma daquelas cidades baianas, que
emergiu nos meados do século XIX, cuja a emancipação política, o
desenvolvimento urbano, social e econômico está diretamente relacionado, com a
vaga de construções de ferrovias, que abriram as vastas plagas do território da
Província, ligando os seus diversos e distantes rincões, à Baía de Todos os
Santos, onde se localizava sua capital.
Keite Lima, em sua dissertação, cujo excelente texto
ainda está inédito, assegura que:
“Para os alagoinhenses, o trem, principal instrumento de circulação da
Era mecânica simbolizava a iminência de um progresso que possibilitaria a
expansão de negócios para os donos de engenhos, a circulação de mercadorias
para os comerciantes e a possibilidade de a população em geral conhecer outras
regiões, outras pessoas, já que viviam praticamente isoladas”.
Nesta Perspectiva, os primeiros cem anos de
existência de Alagoinhas, enquanto Vila e cidade emancipada, correspondem ao
predomínio do transporte ferroviário como forma de socialização, promoção de
emprego e renda, além de meio de transmissão das idéias. Era no trem que se
discutiam inumerável gama de temas; pelo trem viajava o Jornal; no trem
circulava a moda, a novidade vinda da capital.
As notícias, boas ou ruins, primeiro chegavam pelo
trem, sobretudo, até o advento do rádio, que só aparece na Bahia, nos meados da
década de 1920, quando é inaugurada a rádio sociedade da Bahia, em Salvador. Em
Alagoinhas, é preciso esperar os meados da década de 1950, para que se disponha
de uma emissora de rádio local: a Rádio Emissora de Alagoinhas, inaugurada em 2
de julho de 1954. Ainda assim, para que a notícia do rádio chegasse até as
pessoas, fazia-se necessário ter o aparelho que a pudesse captar, o que não era
comum na cidade.
Conforme o que já se apontou neste mesmo espaço, o
trem significou também, o aumento da velocidade dos deslocamentos, apresentando
um crescimento constante, desde os primeiros implantados nos meados do século
XIX, até o final da década de 50 do XX, quando entra em lenta decadência, para
finalmente, ser superado pela versatilidade e ultrapassado em velocidade e
importância, pelos veículos automotores.
É neste contexto, que acontece o aumento do número de
atropelamentos de pessoas e animais, sobretudo dos jegues.
Elementos
constitutivos da paisagem econômica e social da pacata cidade de Alagoinhas, os
asnos eram utilizados juntamente com os muares, como animais de montaria das
pessoas. Era, por assim dizer, o meio de
transporte de quem os podia possuir, levando e trazendo seus proprietários para
os diversos pontos, com os mais diversos objetivos: levar e/ou trazer
mercadorias; tracionar as carroças; prover as residências abastadas do suprmimento
de água para beber, para o asseio; levando lenha e carvão para preparo e
cozimento de alimentos, além do querosene necessário para a iluminação.
Com tantas utilidades, o jumento acabava por ser, em
muitos casos, meio de distribuição de bens e serviços, formas de obtenção dos
meios de subsistência, a partir dos quais, várias famílias alcançavam o
provimento de suas necessidades básicas. Muitos deles, no entanto, ficavam
soltos, pastando quase sempre ao redor da estrada de ferro, aproveitando-se a
grande quantidade do chamado “capim de
burro, que acabava por servir de complemento alimentar ao animal.
Outro fator de grande risco para os jegues era a
falta de algum tipo de barreira que impedisse ou dificultasse o acesso ao leito
ferroviário”, o que os deixava sujeitos aos perigos dos atropelamentos por
trens e/ou locomotivas, o que acontecia com alguma freqüência, precisamente,
pelo descompasso entre o passo lento do animal solitário e a marcha mais rápida
do trem, associado á dificuldade de frenagem ou manobras de desvio, que
aquele equipamento ferroviário oferece
ao seu condutor.
Assim, estes dois elementos que, em grande medida, são os ingredientes
responsáveis pela conformação imagética de Alagoinhas e pela construção do
imaginário dos alagoinhenses,entram em choque, na medida em que suas marchas
ssão inconciliáveis. Diante do desenvolvimento da cidade, do avanço
populacional, cada vez chegando-se mais para perto da ferrovia, tornava-se
constante o atropelamento dos jegues, se constituindo fato tão recorrente, que
se insere como parte integrante do
cootidiano da cidade.
Como exemplo, umaprofessora, quase septuagenária, nascida e criada na Rua
2 de julho, local em que, já na década de 1950, ferrovia e residências já se
faziam muito próximas, contou ao autor destas linhas, um episódio que lhe marcara
a infância, ao se deparar com um, dentre muitos jegues atropelados por
composições ferroviárias. Dê-se-lhe a palavra, para que possa narrar sua
experiência.
- “Uma vez, o trem atropelou um jegue. ... O trem atropelou um jegue.. (...)
isso era muito freqüente ali.. mas esse jegue, ele teve um problema na perna,
não é.., ficou ... a perna ficou assim... em frangalho, assim, balançando..., o
coitado não podia andar, mas tava ainda cheio de energia, não é?
- “Então, ele ficou na frente de lá de casa. E eu inventei que tinha que
dar comida a este jegue, que eu não ia ver aquele jegue morrer ali, de fome e
sede. Então eu ia e botava água, e botava milho...
- “Aí, Zeca me chamou e disse:
“olha, é perigoso, o animal não ta podendo se movimentar e, você vai... Então,
deixe que eu faço isso”.
- “Aí, Zeca arranjou um... um cocho, daquele que prende... que amarra
aqui...botava o milho pra ele poder comer ali e, água.
- “Aí, eu comecei a chorar, porque
ele ficava tomando sol o dia todo, o sol tava muito quente...
- “Aí, Zeca fez uma cobertura de
cabo de vassoura com esteira, pra
proteger este jegue;
- “e eu ia pra escola, quando voltava ... uma agonia com esse jegue... E
ele já sabendo q ue não tinha jeito que o animal não tinha como
sobreviver...
- “Aí, um dia... acho que esse jegue ficou bem uns cinco dias ali...
naquela agonia, eu botando aquela comiida... ele ia comigo, pra dar comida e a
água... Aí, ele acertou lá com o pessoal pra me contar a história quando eu
chegasse da escola.
- “Ele disse que os homens da prefeitura tinham ido buscar ... os homens
da prefeitura tinham vindo buscar o animal
e... porque eles é quem podiam dar um tratamento... direito, e tal...
- “Aí, eu fiquei contente porque o jegue ia ser cuidado... mas, mentira.
Tinham levado o animal pra... não tinha outro jeito, né?(...)”.
É necessário salientar, que episódios semelhantes ao narrado pela
interlocutora, se repetiram por todo o tempo em que a ferrovia esteve em
atividade na cidade, não se limitando ao atropelamento de jegues, que não foram
poucos, tendo havido acidentes e incidentes marcantes na história recente deAlagoinhas,
com mortes e mutilações de várias pessoas.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Quando a cidade era mais lenta
Quando a cidade era mais lenta
JOSÉ JORGE ANDRADE DAMASCENO
Talvez se possa aqui dizer, que, uma das mais profundas transformações
ocorridas nas cidades brasileiras em geral e, baianas em particular, nos cem
anos transcorridos entre meados dos séculos XIX e XX, foi o aumento gradual e contínuo,
da diferença entre a velocidade das pessoas e animais, em relação aos meios de
transportes que surgiam, à medida em que o tempo passava e o ritmo da “vida”
era artificialmente implementado, mediante intervenções urbanas cada vez mais
exigidas pelos munícipes, desde o advento do “trem de ferro”, até a introdução
de equipamentos automotores cada vez mais potentes e que exigiam ainda mais
espaços e intervenções nos leitos “carroçáveis.
Tomando os anos da década de 50, na Bahia, como parâmetro, sabe-se de ter
se dado naquele período, as primeiras e mais audaciosas intervenções do poder
público soteropolitano, no sentido de dotar Salvador de características
“modernas”, que permitissem a introdução de veículos e meios públicos de
transportes mais velozes, com maior capacidade de transportar passageiros, que
por sua vez, exigiam maiores espaços físicos nos leitos carroçáveis da cidade,
originalmente íngreme e com traçados irregulares de suas ruas, sobretudo, nas áreas
centrais da velha urbe de “dois andares”.
Em “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água”, o narrador mostra que os
principais trajetos feitos pelos protagonistas de sua história, eram
percorridos a pé, incluindo-se o cortejo fúnebre, que levaria o funcionário
público aposentado até sua última moradia. Os parentes do morto, embora de si
para consigo, salientavam, os imensos custos que adviriam de um traslado do
féretro, do Tabuão para Itapajipe, considerando entre outros dispêndios, o
maior deles, o que resultaria de aluguel de automóveis para o acompanhamento
até o cemitério.
Conforme Jorge Amado, em novela publicada na revista Senhor, lá pelos
idos de 1959, também foi a pé, que Quincas e os amigos que foram lamentar sua
morte, percorreram os caminhos que iam desde a Ladeira do Tabuão, onde se
localizava a “pocilga” na qual se reunira com seus companheiros de bebedeiras e
arruaças. Dali, passando pelo “largo” no qual algumas mulheres reuniram-se ao
grupo inicial, arrumando portentosa briga no “bar de Cazuza”, dirigiram-se até
a “rampa” onde tomariam o saveiro em que
“arraia nadava no caldo amarelo”, para ali se deliciarem com a música cantada e
a moqueca preparada por “Maria Clara”, em caldeirão que ainda “fumegava”, para no
alto mar, em meio a inesperada borrasca, impor aos orgulhosos familiares, a
última das suas vontades: se fazer sepultar como quisesse.
Maria Feijó, ao falar das diversas idas de Luísa Peixoto, de Alagoinhas para Salvador, informa que sua personagem, uma
vez chegado à cidade da Bahia, inúmeras vezes fez trajetos, razoavelmente
longos, em caminhadas, por meio das quais, podia observar e admirar as
paisagens que se descortinavam aos seus olhos interioranos, imagens que ela
acabou por transformar em magníficos versos, dedicados aos seus amores afogados
nas ilusões de uma professora primária.
Tudo isto refletia um ritmo de vida das pessoas, ainda marcado pelos
mesmos princípios norteadores dos finais do século anterior, tendo os animais,
trens e bondes, como os que detinham as maiores velocidades de deslocamento
entre os diversos pontos da cidade, para ou dos quais as pessoas precisassem realizar
suas idas e vindas.
É a partir dos finais da década de 1950, que estes cenários começam a
mudar, sobretudo, na percepção das pessoas. Como se disse linhas acima, é
naquele momento que os principais projetos de modernização urbanística da capital
baiana, se fazem implementar, impulsionando o alargamento de ruas; construções
de avenidas, viadutos, pontes e túneis; abertura
dos grandes vales, bem como outros tipos de equipamento, que vão permitir a
circulação dos automóveis que, pouco a pouco começam a ocupar aqueles novos espaços
urbanos.
Assim, aumentando-se drasticamente o ritmo da vida urbana, substituindo-se,
em larga medida, a tração animal, até então a mais utilizada, para realizar os
deslocamentos das pessoas, em seus trajetos mais longos e em maiores
velocidades, para os pontos mais distantes das cidades, de modo artificial,
acabava por encurtar as distâncias entre os pontos de saída e de destino.
Tais alterações urbanísticas, abriam e preparavam o caminho para que se
tornasse viável, a opção que viria a ser feita daquele final de meio século em diante. Sobretudo ,
a partir da implementação das metas Nacionais preconizadas por J. K., a
prioridade dos investimentos financeiros e tecnológicos, passava a ser o transporte rodoviário em contraposição
ao ferroviário e, promovendo o incentivo a massificação do uso do transporte
individual em automóveis, em detrimento daquele que possibilitasse o ir e vir
de um maior número de pessoas, em um número menor de equipamentos.
Trazendo a referida lógica para espaços menores e menos desenvolvidos,
exemplifique-se Alagoinhas que, naquele mesmo período, tinha um número bem
pequeno de vias pavimentadas com paralelepípedos, circunscrito aquelas ruas que
circundavam a área central da cidade, conforme memorialistas e cronistas descrevem
em seus relatos. Os logradouros dotados de pavimentação asfáltica eram em
número ainda menor, talvez não chegando a dezena deles, apresentando-se as
demais artérias da cidade, com ruas cascalhadas ou em sua configuração
original, arenosa e/ou argilosa, dependendo como se localizasse em terreno
afeito ao tipo de material de sua composição.
Isto implicava em dizer-se que, a cidade tinha um ritmo ainda
marcadamente ditado pelo andar das gentes e dos animais, tendo os poucos
veículos automotivos que se moldar as condições de trafegabilidade existentes.
A maior velocidade e versatilidade dos poucos carros já circulantes na
Alagoinhas dos anos 50, eram limitadas pela existência de vias carroçáveis,
pelo ritmo da vida, ainda não tão frenético como viria a ser paulatinamente
vivenciado algumas décadas à frente.
É neste sentido que, a partir de
relatos orais, de leituras de cronistas, memorialistas e periódicos que tomam alagoinhas
como objeto de suas observações e análises, pode-se encontrar alguns registros
de atropelamentos, envolvendo tanto pessoas ainda não afeitas aos novos ritmos
que a vida moderna impunha, quanto animais que não se encaixavam nos limites
espaciais que os meios de transporte mais pesados e velozes os circunscreviam.
As conseqüências advindas destes
choques provocados pelo distanciamento entre velocidade, peso e limite
espacial, se apresentam das formas mais variadas, desde lesões leves, quase
sempre nos membros inferiores, até mutilações mais graves envolvendo pessoas e
animais, bem como avarias e;/ou destruição de automóveis, aparecendo até mesmo,
relato de morte de pessoas.
Salomão Antônio de Barros (1899-1986), em sua obra memorialística (Vultos
e Feitos do Município de Alagoinhas), menciona uma destas mortes, quando relata
o atropelamento sofrido por um dos fundadores da Alagoinhas pós chegada da
ferrovia”, e, um dos seus intendentes,
cuja gestão se deu nos primeiros anos da elevação da Vila, a condição de cidade.
Conforme Barros, “PEDRO RODRIGUES BASTOS faleceu aos 25 de junho de 1910,
vítima de um acidente (ao atravessar a linha férrea, em busca de sua residência
à rua 15 de novembro), quando procedia do seu Empório Comercial, sendo apanhado
por uma locomotiva em manobras”.
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