quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Histórias e Memórias de uma grande Amizade - Parte I.

Histórias e memórias de uma amizade – Parte I.

 

O ano era 1998 e o mês era maio. Este escrevedor encontrava-se em Salvador, hospedado em casa de Marilza, por ocasião de uma jornada promovida pelo programa de Pós-graduação em História, que se realizaria na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA – provavelmente um minicurso - e, por razões de logística, fez-se necessário encontrar onde permanecer por alguns dias na cidade de Salvador.

Após o regresso das atividades em São Lázaro, voltava para a casa onde gentilmente fora hospedado e, depois de bom café com a sua proprietária, memoráveis momentos de boníssima prosa.

Este escrevente conhecera pessoalmente a sua anfitriã, sobretudo, a partir da sua experiência com o Dosvox; ela já era conhecida dele, há alguns anos antes, quando intentara realizar um curso de programação que ela ministrara na Biblioteca central do Estado, que o cronista não conseguira acompanhar, por pura dificuldade de compreender as formulações matemáticas inerentes à matéria em questão.

Marilza, por sua vez, conhecera o hóspede pessoalmente pouco tempo antes, quando a seu convite, viera até a grande Alagoinhas, prestar-lhe auxílio no amanho do Dosvox.

Dito isto, volte-se ao seu apartamento, situado em Amaralina, no andar térreo do edifício Quineret. Entre as diversas digressões e divagações entabuladas na prosa que transcorrera em sua sala de estar, surgiu um nome com o qual este escrevedor já estava familiarizado, por conta de ler suas proposições nas “listas” que passara a tomar contato por meio da internet, ainda em processo de implantação/popularização, principalmente entre as pessoas cegas, que passavam a ter acesso ao seu conteúdo, a partir do sistema Dosvox – instrumento por meio do qual o cego passava a ter a possibilidade de utilizar o computador, até então, só possível para aqueles cegos que fossem programadores -, também em processo de desenvolvimento.

Impressionado com a profundidade e clareza dos seus textos, sabendo que a anfitriã era sua colega de profissão e, gozava de prestígio junto ao recém-constituído mestre, este cronista manifestou interesse em travar contato com aquele cego, brilhante e, que acabara de concluir uma dissertação que, acreditava, o poderia ajudar, como de fato ajudou, na elaboração da sua, ora em curso.

Ato contínuo, Marilza pega o telefone e liga para o dito, conversa um pouco com ele e, de chofre, anuncia:

- Maurício, está aqui em casa uma pessoa que tem lido os teus escritos na lista Dosvox e, se tornou teu admirador. Vou passar o telefone para ele.

Do outro lado da linha, ouve-se a voz do sujeito que fala com desenvoltura e desembaraço com o seu interlocutor, como se já o conhecesse de longas jornadas.

Era nada mais nada menos do que Maurício Zeni, que falava ali, sem qualquer ar de superioridade; sem qualquer tipo de empostação e/ou  imposição de “lugar”; um humor e uma genialidade perceptível às primeiras palavras; às primeiras frases.

Nascia ali uma amizade tão frutífera quanto frutuosa, ao ponto de não ter havido qualquer diferença, quando este garatujador o encontrou pessoalmente, alguns poucos anos depois daquela apresentação telefônica.

Aliás, aquele encontro será o tema do próximo desfilar de lembrares.

Como não poderia deixar de ser, há uma música neste arrazoado. Nas manhãs que antecediam as atividades acadêmicas, eram ocupadas com a audição de “CDs” encontrados no acervo da anfitriã. E o que se ouviu no dia seguinte ao papo com Maurício, não poderia deixar de ter sido Chico Buarque, com a sua magnífica interpretação de “Tanto Mar”.

 

https://youtu.be/t0y96gpmAzk?si=0ub6uDC5xmMfxleG

 

Alagoinhas 21 de setembro de 2023.

José Jorge Andrade Damasceno

 

historiadorbaiano@gmail.com