Trinta de junho – mais de um ano (com)finados
Desde fevereiro de 2020, a Covid19 domina todos os cenários
de mortes, angústias e aflições por todo o mundo habitado, sem que quaisquer roteirista
de filmes ou séries fossem capazes de antecipar em sua quase inacreditável criatividade.
Talvez não haja nenhum precedente entre os produtores de películas de “ficção
científica” que tenha podido imaginar tão catastrófico período do viver humano.
Há pouco mais de cem anos era a insensatamente denominada “Gripe
Espanhola” que roubava a cena e a vida de alguns milhões de pessoas mundo a
fora; mas, diante da atual pandemia, parece que ela será desbancada tanto no que
tange ao número de pessoas atingidas, quanto no tocante à duração de seus efeitos
devastadores de vidas e relações de toda a ordem.
No Brasil, a Covid19 tem uma incidência ainda mais
devastadora, no sentido de atingir a sociedade, a economia, a saúde – quando
estas linhas estão sendo escritas, o número de mortes notificadas já avança
para alcançar quinhentos e vinte mil pessoas – e, como se não já fosse grande a
derrocada, arrastou um grande oceano de lama pútrida para a já putrefata política
governamental ora vigente no País.
Os elementos que deveriam coordenar as ações impeditivas do
avanço da pandemia; que deveriam envidar esforços para socorrer os que por ela
fossem atingidos, passaram a ver a desgraça que se abate sobre grande número de
famílias brasileiras, como uma oportunidade de lucrar, de ampliar ainda mais os
ganhos financeiros, mediante os diversos mecanismos sobejamente conhecidos e
utilizados pelos excelentíssimos senhores abutres que se lançam esfomeados
sobre o erário, promovendo negociatas com os diversos itens de socorro e proteção
da população.
O que para os atingidos pela pandemia tem sido motivo de
tristeza e dor, para os achacadores da nação, trata-se de uma entre tantas
maneiras de engordar os seus cofres pessoais, já obesos, mas nunca fartos, da
gordura arrancada do contribuinte.
Quanto aos demais, eles recomendam ainda que tacitamente, que
enterrem os seus finados, engulam o choro e prossigam se expondo para aumentar
ainda mais o número dos que serão contaminados e/ou sejam mortos pelo Vírus
original, ou por suas muitas variantes. Afinal, é assim que eles enriquecem um
pouco mais; é assim que suas fortunas ficam ainda mais volumosas; é assim que
surgem as oportunidades de encetarem negociatas para a obtenção de maiores vantagens,
propinas e, sobretudo, reforçar as suas relações de poder, mediante a cooptação
do legislativo que os sustentam e salvaguardam.
José Jorge Andrade Damasceno- 30 de junho de 2021.