quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Histórias e memórias — para além de quinhentos e dezenove anos!

Histórias e memórias — para além de quinhentos e dezenove anos!

Grandes são as dificuldades que todos enfrentamos, ao empreender um exercício de imaginação que ultrapasse, e muito, o tempo da nossa existência contada em dias, meses, décadas e anos. O exercício torna-se ainda mais difícil, se o esforço imaginativo precisar remontar a pouco mais de cinco séculos. Assim, gostaria de poder recuar ao ano de 1492, quando se fez o primeiro registro oficial da chegada do elemento europeu nestas plagas continentais, primeiro denominadas "Índias" e, posterior e definitivamente, América.
Neste sentido, talvez me seja possível inferir que a população autóctone era substancialmente nômade ou seminômade, podendo ser encontrada no vastíssimo espaço geográfico, que se estende desde o Alasca, passando por todos os acidentes geográficos entre as margens oceânicas, até a “terra do fogo”, o que permitia uma constante variação de lugares a serem temporariamente ocupados e explorados, no sentido de prover-se de elementos para a subsistência, além de produtos que viesse a mitigar o frio, onde fosse o caso.
A exceção a esta regra geral fica por conta dos aglomerados pré-urbanos, esparsos e incipientes, que se formaram entre o golfo do México e as zonas andinas, termos onde já se desenvolviam rudimentos de sedentarização, caracterizadas por algumas construções de canais de irrigação, templos, palácios, além de alguns rudimentos de atividades agro-pastoris, quando da chegada dos espanhóis nas caraíbas.
Na costa leste brasileira, onde o registro oficial da chegada do europeu é um pouco mais tardio, este nomadismo grupal fica mais evidente, por conta do "estágio civilizacional" dos povos autóctones com os quais os portugueses e os franceses tiveram contato.
É possível que houvesse grande variação dos lugares temporariamente ocupados, de acordo com as necessidades e hábitos de cada grupo tribal, sempre tendo como referência a existência, em maior ou menor quantidade de recursos naturais que permitissem a sobrevivência coletiva.
A existência de rios e/ou outros cursos d’água nos quais pudessem dessedentar-se, banhar-se e prover-se de peixes e outros tipos de elementos aquáticos que pudessem servir como alimento; a existência de florestas de onde pudessem prover-se de madeira e outros vegetais para utilizações diversas; abundância e diversidade de animais para caça e outros fins, era fundamental para os constantes deslocamentos de pessoas e/ou grupos de pessoas. Essa migração provavelmente obedecia aos ciclos de reprodução e recomposição daquelas áreas onde estiveram, em busca de outros lugares que viessem a satisfazer suas necessidades, uma vez que, substancialmente, dependiam daquilo que pudessem encontrar no ambiente com o qual se confundiam e, talvez, entendessem ser parte dele, visto pouco ou nada intervirem, no sentido de modificar aquilo que a natureza já lhes provia “in natura”.
Ao ser ocupado lenta e gradativamente pelos europeus, o continente americano foi passando por vertiginosas transformações em todas as formas organizativas de sua incipiente ocupação, forjando uma degradação contínua de hábitos, modos de ser e pensar, culturas e formas de prover a subsistência, até chegar aos níveis de urbanização produzidos pelo tipo de modo de produção implantado, promovendo uma degradação ambiental “in extremes”, bem como uma desigualdade social, uma desorganização das relações humanas e, sobretudo, o estabelecimento de uma desmedida relação de distanciamento entre o homem e os demais sujeitos do “eco-sistema”.
Antes essenciais para a vida do homem nativo, todos os elementos que coexistiam entre si, na construção e reconstrução da vida, são transformados pelo ocupante moderno do continente, em “objetos”, coisificados e caracterizados como sendo de “propriedade privada”, sujeitos aos desígnios de seus donos, transformados, em última instância, em mercadorias, sujeitas às leis do “todo poderoso” mercado, pouco importando, quais venham a ser os resultados de tais decisões.
A desertificação de vastíssimas áreas de terra degradada — tanto pela ação erosiva natural, quanto pela atitude humana — e o desaparecimento de diversas espécies animais e vegetais, que antes eram abundantes em toda extensão do continente “encontrado” pelo genovês Cristóvão Colombo há cinco séculos, apenas reflete parte dos muitos danos que tal “encontro” produziu e, continuará produzindo nestas paragens inter-oceânicas do planeta.

JOSÉ JORGE ANDRADE DAMASCENO, é professor de história na Universidade do Estado da Bahia, Campus II, Alagoinhas.
Historiadorbaiano@gmail.com

terça-feira, 4 de outubro de 2011

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Altamiro Borges: I Fórum da Internet no Brasil

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HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UMA ELITE VICIADA

Histórias e memórias de resistência elitista
Tomo a liberdade de reproduzir neste espaço, o excelente artigo publicado em Carta Maior, dado a lucidez de seu conteúdo e a crítica mordaz ao elitismo que ainda resiste bravamente nas entrelinhas e subjacências da prática e do discurso cultural brasileiro.

Carta Maior - Internacional - Os escravistas contra Lula

Segunda-Feira, 03 de Outubro de 2011

Internacional| 27/09/2011

Os escravistas contra Lula

Em meio ao debate sobre a crise econômica internacional, Lula chegou a França.
Seria bom que soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deveria pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão bravos. O artigo é de Martín Granovsky, do Página/12.

Martín Granovsky – Página/12

Podem pronunciar “sians po”. É, mais ou menos, a fonética de “sciences politiques”. E dizer Sciences Po basta para referir o encaixe perfeito de duas estruturas: a Fundação nacional de Ciências Políticas da França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris. Não é difícil pronunciar “sians po”. O difícil é entender, a esta altura do século XXI, como as ideias escravocratas seguem permeando os integrantes das elites sul-americanas. Na tarde desta terça, Richar Descoings, diretor da Sciences Po, entregará pela primeira vez o doutorado Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Descoings falará e, é claro, Lula também.
Para explicar bem sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório na rua Saint Guillaume, muito perto da igreja de Saint Germain des Pres. Meter-se na cozinha sempre é interessante. Se alguém passa por Paris para participar como expositor de duas atividades acadêmicas, uma sobre a situação política argentina e outra sobre as relações entre Argentina e Brasil, não está mal que se meta na cozinha de Sciences Po.
Pareceu o mesmo à historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige em Paris o Observatório sobre a Argentina Contemporânea, é diretora do Instituto das Américas e foi quem teve a ideia de organizar as duas atividades acadêmicas sobre a Argentina e o Brasil, das quais também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano Fênix há dez anos.
Naturalmente, para escutar Descoings foram citados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático. Sciences Po tem uma cátedra de Mercosul, os estudantes brasileiros vão cada vez mais para a França, Lula não saiu da elite tradicional do Brasil, mas chegou ao máximo nível de responsabilidade e aplicou planos de alta eficiência social.
Um dos colegas perguntou se era correto premiar alguém que se jacta de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e o olhou assombrado. Talvez saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, ainda que seja certo que não tem título universitário. Certo também é que, quando assumiu a presidência, em 1° de janeiro de 2003, levantou o diploma que os presidentes recebem no Brasil e disse: “É uma pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginou que o primeiro seria o de presidente da República”. E chorou.
“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção?” – foi a pergunta seguinte.
O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o balanço histórico esse assunto e outros muitos importantes, como a instalação de eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais”. E acrescentou, pegando o Le Monde: “Que país pode medir moralmente hoje outro país? Se não queremos falar destes dias, recordemos como um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante”. Falava de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defesa da Alemanha até que se soube do plágio.
Mais ainda: “Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países”.
Outro colega perguntou se estava bem premiar alguém que, certa vez, chamou Muamar Kadafi de “irmão”.
Com as devidas desculpas, que foram expressadas ao professor e aos colegas, a impaciência argentina levou a perguntar onde Kadafi havia comprado suas armas e que país refinava seu petróleo, além de comprá-lo. O professor deve ter agradecido que a pergunta não tenha mencionado com nome e sobrenome França e Itália.
Descoings aproveitou para destacar Lula como “o homem de ação que modificou o curso das coisas”, e disse que a concepção de Sciences Po não é o ser humano como “uns ou outros”, mas sim como “uns e outros”. Marcou muito o “e”, “y” em francês.
Diana Quattrocchi, como latino-americana que estudou e se doutorou em Paris após sair de uma prisão da ditadura argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa que Sciences Pos desse o Honoris Causa a um presidente da região e perguntou pelos motivos geopolíticos.
“Todo o mundo se pergunta”, disse Descoings. “E temos que escutar a todos. O mundo não sabe sequer se a Europa existirá no ano que vem”.
Na Sciences Po, Descoings introduziu estímulos para o ingresso de estudantes que, supostamente, estão em desvantagem para serem aprovados no exame. O que se chama discriminação positiva ou ação afirmativa e se parece, por exemplo, com a obrigação argentina de que um terço das candidaturas legislativas devam ser ocupadas por mulheres.
Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa a Lula fazia parte da política de ação afirmativa da Sciences Po. Descoings observou-o com atenção antes de responder. “As elites não são só escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores são os outros, não os que são iguais a alguém. Se não, estaríamos frente a um caso de elitismo social. Lula é um torneiro mecânico que chegou à presidência, mas segundo entendi não ganhou uma vaga, mas foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas”.
Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembleia Geral das Nações Unidas, Lula vem insistindo que a reforma do FMI e do Banco Mundial está atrasada. Diz que esses organismos, tal como funcionam hoje, “não servem para nada”. O grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ofereceu ajuda para a Europa. A China sozinha tem o nível de reservas mais alto do mundo. Em um artigo publicado no El País, de Madri, os ex-primeiros ministros FelipeGonzález e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Querem que seja oauditor independente dos países do G-20, integrado pelos mais ricos e também,pela América do Sul, pela Argentina e pelo Brasil. Ou seja, querem o contrário do que pensam os BRICS.
Em meio a essa discussão, Lula chega a França. Seria bom que soubesse que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria guardar recato. No Brasil, a casa grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terras e escravos. Assim, Lula, agora, silêncio, por favor. Os da casa grande estão bravos.

Tradução: Katarina Peixoto

José Jorge Andrade Damasceno é:
Doutor em História Sociao, pela Universidade Federal fluminense;
Mestre em História Social, pela Universidade Federal Fluminense;
Professor Adjunto, na Universidade do Estado da Bahia.
Não por acaso: oriundo da mesma linhagem sócio-econômica deste que é o único Latino Americano e, brasileiro, que possui o “Doutorado Honoris Causa” pela Sciences Po

domingo, 2 de outubro de 2011

Altamiro Borges: Com essa mídia país não avança

Altamiro Borges: Com essa mídia país não avança: Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania : Ao longo da terça-feira, a internet se divertiu com o post que este blog publicou sobre a mi...

Histórias e memórias de uma imprensa viciada

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UMA IMPRENSA VICIADA
Sem eleições presidenciais desde aquela que conduziu Jânio Quadros ao Palácio do Planalto, o Brasil se reencontra com esta modalidade de escrutínio no ano de 1989, após os 21 anos de regime civil-militar e pouco mais de um ano após a promulgação daquela que foi decantada como sendo a “Constituição cidadã”.
Marcada pela presença de nomes já consagrados na política brasileira, como os de Ulisses Guimarães e Leonel Brizola, para citar apenas dois, a primeira eleição presidencial após as grandes mobilizações sociais e políticas do início da década de 80 do século XX, se apresenta como tendo sido aquela na quais os meios de comunicação de massa, sobretudo a Televisão, tiveram efetiva participação na construção de uma espécie de “vontade popular”. Driblando as restrições legais relativas à exposição dos candidatos e, aproveitando-se de sua quase absoluta penetração em todos os recantos do País, mesmo os mais longínquos, a Rede Globo de Televisão – associada os outros setores da imprensa -, jogou papel decisivo na pavimentação da estrada que levou ao segundo turno, o candidato filiado ao inexpressivo PRN, Fernando Collor de Melo, até então, um obscuro governador de Alagoas, embora de família politicamente tradicional, cuja raiz remonta aos anos 30.
Seu contendor, era o metalúrgico e ex-deputado Constituinte, Luís Ignácio Lula da Silva, cuja origem política é encontrada nas mobilizações operárias, que tinham como berço o ABC paulista, desencadeadas a partir do final da década de setenta daquele mesmo século. Em um pleito amplamente polarizado, enquanto por um lado, Collor de Mello representava uma proposta de manutenção do status quo das “elites” políticas e empresariais brasileiros, que tinham como porta voz principal o complexo sistema de comunicação de massas capitaneado pelas organizações Globo, por outro, Lula da silva, representava o ideal de mudança social preconizada pelo Partido dos Trabalhadores, agremiação nascida da confluência de diversos movimentos sociais, que encontravam lastro e ressonância em uma considerável parcela do setor “progressista” da sociedade civil brasileira.
Longe de ser um elemento neutro na formação da opinião pública, neste e em diversos outros episódios da história recente, a imprensa brasileira em geral e a televisiva em particular, vê-se como instrumento de persuasão e/ou convencimento, a partir do qual, se apresenta com a finalidade de desempenhar papel relevante, que expressasse na prática a vontade de uma massa formatada para responder positivamente aos anseios sócio-políticos de uma facção dominante do setor comunicacional brasileiro e, internacional.
Já em 1982, incomodado com a possibilidade de ver no comando do Estado fluminense um político que não fosse afinado com seus interesses empresariais, para dizer o mínimo, o núcleo dirigente das Organizações Globo, empreendeu esforços no sentido de evitar a eleição de Leonel Brizola para governar o estado do Rio de Janeiro.
O rumoroso caso “procunsult” deu uma dimensão daquilo que seria atuação dos meios de comunicação de massa, algumas décadas mais tarde, quando empreendeu um gigantesco esforço para evitar que vencesse as eleições presidenciais de 1989, um seguimento político partidário que representava perigo à hegemonia comunicacional do império comandado por Roberto Marinho. Um dos episódios mais obscuros daquela campanha eleitoral, sem a menor sombra de dúvidas, foi o último debate entre os candidatos ao segundo turno, Collor de Melo e Lula da Silva.
Cheio de lances espetacularizados, nos quais o candidato das organizações Globo apresentou fatos da vida pessoal/privada do candidato Lula da Silva, amplamente explorados no momento de editar para a última edição do principal jornal da emissora, colocando em grandes dificuldades o candidato prejudicado, visto que não haveria mais tempo para exigir direito de resposta e/ou de reparação, pois faltavam apenas algumas horas para o processo eleitoral ter início.
As manipulações do último debatem entre os postulantes ao Planalto e as repercussões das “denúncias” trazidas a público pelo candidato global, foram decisivas para a definição do pleito em seu favor, pois, embora tendo cometido o mesmo erro de que acusara o candidato Lula da Silva, não houve tempo nem competência da organização da campanha Petista, para desmascarar a hipocrisia sócio-religiosa, lançada pela campanha de Collor de Melo para desmoralizar seu opositor.
Prevalecendo-se do falso moralismo coletivo de que se ufana grande parte da sociedade brasileira, principalmente suas elites cultural/religiosas, as organizações Globo, os organizadores e condutores da campanha de Collor de Melo, associados aos seus demais apoiadores na imprensa Nacional, viram exitosa sua trama maquiavélica contra o PT e seu candidato, no sentido de vê-los derrotados nas urnas e fazer subir a rampa do Palácio do Planalto o candidato que apoiavam aberta e despudoradamente.
Logo que assume a mais alta magistratura do País, o ex-caçador de “marajás” mostra toda sua empáfia e despreparo para o cargo que ocupava, se apresentando mais como um “pop star”, do que propriamente como um presidente da República, cônscio de seus deveres constitucionais. Desprezando elementos-chave característicos de um Chefe de Estado, despindo-se inúmeras vezes da “liturgia do cargo”, colecionando fama mediática, mas também ódio de uma parcela daqueles mesmos que contribuíram com sua eleição, por conta das medidas econômicas que adotara, a mais rumorosa e polêmica delas, foi, sem dúvida o tal “confisco dos ativos financeiros”, o que provocou entre outras coisas, uma onda de suicídios e desorganização de diversos compromissos já previamente assumidos, por um número considerável de pessoas físicas e, até mesmo, de pessoas jurídicas.
A partir dali, se faz sentir o início do declínio de seu meteórico “boom” político/mediático, embora as organizações Globo e seus outros aliados, tenham envidado grandes esforços para não deixar transparecer o já perceptível desgaste social, político e o mais grave deles, o institucional.
Começam a espocar os escândalos, os desvios de conduta, as “carteiradas”, os jeitinhos, os deslumbramentos de ministros, assessores diretos e indiretos, além de esbanjamentos de diversas ordens, a despeito das restrições impostas pela equipe econômica, que só atingiam àqueles “menos iguais” perante a lei e a sociedade.
Até que, menos de dois anos de seu mandato, explode a maior, mais complexa e decisiva das crises políticas que aquele governo e de resto todo o País tivera que enfrentar: o rumoroso caso PC Farias. Enquanto as denúncias apareciam na “periferia” do jornalismo dito “revanchista”, ganhava pouco a pouco outros setores da mídia até que três reportagens publicadas pela revista ISTO É, abalam de vez a pseudo solidez do governo Collor e rompe o “cordão sanitário” no qual fora envolto. As entrevistas de Pedro Collor, irmão do Presidente; a entrevista de Egberto Batista, motorista diretamente ligado à cúpula paralela do Presidente, além da entrevista/depoimento da secretária Sandra, foram os estopins que, uma vez acesos, implodiram irremediavelmente o governo patrocinado pelas organizações Globo e virou o jogo em favor dos outros setores da mídia, contrários e alijados do processo político, precisamente por ter um posicionamento diferente daquele preconizado pela referida organização mediática.
Depois de consumada a votação no Congresso que permitiria à abertura do processo de impeachment do presidente Collor, a imprensa Internacional, mais precisamente, a BBC de Londres afirmava em seu noticiário, alguma coisa mais ou menos que, “este é o dia em que as outras emissoras derrubaram o presidente brasileiro, que a Globo ergueu”.
Nos governos seguintes, Itamar Franco, Fernando Henrique (dois mandatos), Lula da Silva (dois mandatos) e Dilma Rousseff (primeiro ano de mandato), esta imprensa viciada em erguer e defenestrar, empenha-se em derrubar ministros, assessores diretos; também se empenha em emplacar auxiliares diretos para atuar junto aos mandatários republicanos. É um vício que ela traveste de “vigilância” democrática, para passar ao público a idéia de um quarto poder, capaz não só de fiscalizar, mas também de se impor enquanto formadora de opinião e sustentada por princípios e valores morais e éticos, a partir dos quais pautam suas reportagens, denúncias, campanhas contra corrupção e pelo zelo da coisa pública.
Com este chavão tão agradável aos olhos dos leitores e telespectadores e aos ouvidos dos que ainda apreciam o rádio, eles torcem e destorcem a realidade, impondo a verdade que interesse ao órgão no qual esteja prestando serviço. Mas se posiciona como formador de opinião pública e, ao mesmo tempo, porta voz desta mesma opinião, por ele engendrada pouco antes.
Até quando? Qual será o próximo alvo?Ao juízo do autor destas linhas, neste momento em que elas estão sendo escritas, a imprensa está enveredando por uma linha de conduta arriscada. Ela está escorregando para uma Partidarização perigosa! Dúvidas, caro leitor? Dê-se ao trabalho de fazer uma incursão pelas publicações que antecederam e precederam à eleição da Presidente Dilma Rousseff; dê-se uma rápida garimpada no noticiário publicado entre sua posse e a sua histórica participação na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro, na cidade de Nova York e, tire suas próprias conclusões.
José Jorge Andrade Damasceno é Doutor em História social pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em História Social, pela Universidade Federal da Bahia; professor adjunto no Colegiado de História, do Departamento de Educação, Campus II da Uneb, Alagoinhas, Ba.

professordamasceno@gmail.com
@JorgeDamasceno1

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Altamiro Borges: Jô Soares critica ditadura da TV Globo

Já diz Almir Sater: "Os caminhos mudam com o tempo, só o tempo muda um coração!". Passaram-se todos estes anos e, ...tudo isto se transformou em histórias e memórias.

Altamiro Borges: Jô Soares critica ditadura da TV Globo: * Enviado pelo professor Caio Navarro Toledo, que acrescentou o comentário: "Hoje, o tucano Gordo - regiamente pago pela Globo - certament...

domingo, 18 de setembro de 2011

Altamiro Borges: Existem novas mídias no Brasil?

Altamiro Borges: Existem novas mídias no Brasil?: Por Alexandre Haubrich, no blog Jornalismo B : Nesta semana o jornalista Luiz Carlos Azenha publicou em seu blog, o Viomundo, um texto apr...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Histórias e Memórias de uma grande tempestade

Histórias e memórias de uma grande Tempestade.

Este tema me veio à memória, a propósito de uma intervenção feita por um colega no meu perfil do facebook, quando eu comentava a respeito do fim do inverno. Lá, eu lembrava ser hoje, a última sexta-feira do inverno; o referido colega, se reportara aos anos setenta, quando morava na Rua Manoel Vitorino (Teresópolis), rebuscando na memória as tempestades que faziam com que sua avó cobrisse os espelhos, para neles não serem relfletidos os raios...
E logo me vieram as lembranças de uma grande tempestade ocorrida nos finais dos anos sessenta, aqui em Alagoinhas.
Era pouco mais ou menos quatro da tarde; só eu e minha mãe estávamos em casa; seus outros dois filhos se encontravam na escola.
Nossa casa tinha as paredes de taipa, o piso de chão batido e a cobertura era de telha vã. As portas e janelas eram tão rústicas quanto frágeis.
As primeiras rajadas de vento, os primeiros estrondos dos trovões,os primeiros faiscar dos relâmpagos, anunciavam o tamanho da tempestade que se avizinhava.
Não demorou e ela se apresentou com toda a sua força. Ventos fortíssimos sopravam; chuvas torrenciais caíam e logo formavam grandes correntes de enxurradas.
Eu e minha mãe, fazíamos força para que o vento não entrasse em nossa frágil habitação e não fizesse voar, os poucos haveres de seu interior. Nos portamos decididos atrás da porta feita com várias tábuas, acreditando que poderíamos mantê-la feichada o suficiente para que o vento não invadisse a casa com toda a sua fúria.
Depois de alguns minutos de ansiedade e agonia, logramos perceber que aquela tempestade se amainava e que nossa frágil tapera resistira bem àquela borrasca.
Agora nossas preocupações e temores se voltavam para os filhos/irmãos que naquele momento não estavam conosco e, por isto mesmo, não sabíamos como estavam.
Passada a chuva, sai-se para ver o que aconteceu e, depara-se logo com o rastro de destruição que se percebia em toda parte: árvores caídas ou vergadas; um mar de galhos e detritos espalhados pelas ruas de terra; barro, lama e pedras que desciam de um morro à frente de nossa casa, lugar de onde se tirava o barro para o erguimento daquelas toscas moradias; pedaços de antenas de TV, que vieram de bem longe, pois por perto não havia quem a tivesse; rios e pântanos cheios, até perto dos quintais... E o tempo? Limpo e aberto, como se nada tivesse ocorrido há pouco menos de uma hora!
Chegados os irmãos sãos, salvos e ilesos, enfim pudemos respirar aliviados, já que saímos incólumes daquela intempérie primaveril.
Minhas lembranças remontam a bravura com que dona Amanda defendera aquela frágil morada, onde se abrigava com seus três filhos; me remete ao medo que tive de perder o abrigo, ou de não ter mais os irmãos... Talvez aquela nem tenha sido a maior tempestade que tenha se abatido sobre Alagoinhas. Mas para aquela criança de cerca de oito anos,aquela fora a maior tempestade natural que já tivera de enfrentar. Mal imaginava que outras viriam; não naturais... Mas a maior delas: a de ter perdido irremediavelmente sua grande Heroína, malgrado, na primavera de 2005. E eu que quisera ter sido aquele, o melhor ano de minha vida pessoal: mas não o foi...
José Jorge Andrade Damasceno
historiadorbaiano@gmail.com

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A controversa beatificação ultra-rápida

Nada como ter um sucessor amigo e colaborador à frente do pontificado, para colocar o antecessor a um passo da "santidade"! Colo abaixo um texto em espanhol, devidamente referenciado, para meus leitores saberem que a "beatificação" ultra-rápida não se deu sem contestações, mesmo na Europa católica. Se alguém viu na imprensa brasileira alguma contradição a respeito, por favor....
Então veja-se o texto aludido acima:
Rebelion. El nuevo Beato
Portada :: Opinión
05-05-2011
El nuevo Beato


Jaume Barallat
Union de ateos y librepensadores

El corresponsal de Le Monde en Roma, Philippe Ridet escribe el 28 de abril que
San Pedro del Vaticano es un cementerio; que 148 papas han decidido pasar su
eternidad dentro de las grutas vaticanas: bajo la basílica, o bien, después de
su beatificación, dentro de una capilla de la propia basílica. Y que esto último
pasará, a partir de este próximo domingo 1 de mayo, a los despojos mortales de
Juan Pablo II, que se enterrarán allí, cerca de la conmovedora Pietà de Miguel
Angel. Y, en otro momento, dicho corresponsal se pregunta: ¿crisis de
alojamiento o acto político?
Y es que, para ceder un puesto al nuevo bienaventurado ha sido necesario
desplazar, desde el pasado 7 de abril, los restos de otro papa allí presente; es
Inocencio XI (1611-1689), beatificado por Pío XII en 1956 -destacó aquel papa
por razón de su papel, dice Ridet, en la batalla de Vienne, que en 1683 paró el
avance turco sobre la cristiandad-. Pero nunca jamás -añade con matiz irónico el
periodista- un soberano pontífice había sido echado fuera de su lugar por otro.
¿Qué está pasando ahora? -nos podemos preguntar nosotros-. ¿Será sólo la presión
popular, tras la muerte del papa polaco, de aquel grito multitudinario ¡Santo,
subito! ? Creo que, en este caso (más todavía que en todos los demás),
deberíamos pensar que aquí se trata, más aún que en los demás casos, de un acto
político.
En los primeros tiempos, la Iglesia fabricaba sus santos, por aquí y por allá,
teniendo en cuenta sus martirios y bajo la égida de los obispos del lugar. Luego
vino “la confiscación de la autoridad episcopal por parte de la Iglesia Romana,
que fortifica su propia autoridad espiritual y temporal” -dice el historiador
Roberto Rusconi, autor de Santo Padre (no traducido)-. ¿Y para qué sirve
entonces la estrategia de fabricar santos? Valgámonos de nuevo de una frase
sacada de algún otro lugar en Rusconi: “Los santos son la proyección de la
imagen que la Iglesia quiere dar de sí misma en un cierto momento de su
historia. Cada beatificación es, pues, un acto político”. Bajo esta luz,
podríamos citar la canonización, en 1622, de San Ignacio de Loyola, fundador de
la Orden de los jesuitas y que ratifica el triunfo de la Contrarreforma. Si bien
son más paradigmáticas aún las infinitas beatificaciones lanzadas en masa por
Juan Pablo II, con su clara opción por un bando en los mártires de la Cruzada;
pero dejemos aquellas beatificaciones y vayamos a la otra: la que su propio
sucesor y amigo, Benedicto XVI, va a hacer de aquel tan prolífico beatificador.
El frenético proceso de beatificación que pasado mañana se consuma [el 1 de
mayo], empezó pocas semanas después de la muerte del papa Wojtyla cuando su
amigo y protegido Ratzinger anunció en latín la derogación “ad personam” de las
normas canónicas que obligan a esperar cinco años desde el momento de la muerte
para abrir una tal causa. ¿Por qué tal excepcionalidad -respecto a propias
normas canónicas-? Según el vaticanista Filippo di Giacomo “la causa se abrió en
la diócesis de Roma por motivos poco claros y se ha limitado a analizar los 27
años del pontificado de Wojtyla [es decir, la vida pública de un ídolo mediático
al servicio de una determinada política] y no su vida anterior” ¿Será, quizás,
una opción a favor de la citada fiebre beatificadora de quien creó tantos beatos
y santos como todos sus predecesores juntos y, generalmente, todos de un mismo
bando?
Otros, en cambio, creen que es más orientadora una ulterior explicación -véase
Miguel Mora (El País, 15-I-2011)-: “Contribuirá a difuminar las sospechas de que
el papa polaco y sus colaboradores más cercanos [y el más fiel, el propio
Ratzinger] conocían los crímenes cometidos por Marcial Maciel, fundador de los
Legionarios de Cristo, pederasta y corruptor de la curia de Wojtyla, de quien
fue asesor principal para América Latina”. Similar opinión puede observarse en
Bedoya (véase su artículo en la misma página de Mora): “En el caso de Marcial
Maciel, Fundador de los Legionarios de Cristo, podría hablarse incluso de
encubrimiento si no resultara cruel decirlo de quien va a ser beato…” Volviendo
a Miguel Mora, éste cita a los principales promotores de la beatificación: al
exportavoz de Wojtyla, Joaquín Navarro Valls, miembro del Opus Dei y, sobre
todo, al exsecretario privado de Wojtyla, Dziwisz, arzobispo de Cracovia. Se
podría tirar más aún de este hilo y la relación de estos personajes promotores.
Si alguien se atreve a hacerlo, superando un hipotético miedo a que se hundiera
su propio sistema de seguridades en aras de descifrar la verdad, puede hurgar en
mi artículo “La gran ocultación de la pederastia y dónde hallar al ocultante”
(localizable en: ateus.org -y luego, pulsando sobre artículos y publicaciones-).
Bedoya concluye, volviendo a Ratzinger: “Eran muy amigos y compartieron
complicidades durante décadas, hasta hacerse muy ancianos, así que no ha de
extrañar que se considerasen mutuamente elegidos de Dios en una misión de
combate contra el modernismo del momento, llamado ahora laicidad y relativismo.
Es decir, unos benditos”.
Respecto a pensadores cristianos y teólogos, Bedoya decía unas líneas antes:
“Juan Pablo II resucitó la siniestra Inquisición pese a haberla clausurado el
Concilio Vaticano II y puso al frente a un policía de la fe que ha descabezado
sin contemplaciones a la mejor teología de los últimos siglos. Se llamaba Joseph
Ratzinger, ahora papa Benedicto XVI”.
Claro que no es ningún misterio que el papa Wojtyla fuera elegido en un cónclave
tras haber ido a postrarse ante la tumba de Escrivà de Balaguer en Roma. Y
tampoco es ningún misterio que tras la “misteriosa” muerte de Juan Pablo I, el
mando y dirección de la Iglesia fuese tomado por el bando “perdedor” del
Concilio Vaticano II -quien desee conocer más detalles sobre este particular,
puede leer en el mismo lugar informático, ateus.org (pulsando sobre mis
artículos: “¿Por qué matar a Juan Pablo I?” y también, “El papel de la Iglesia
en la alargada sombra de la Cruzada”).
Volvamos al malestar de los teólogos y a aquella su persecución que denunciaba
Bedoya. En El País de 5-II-2011, su corresponsal desde Berlín, Laura Lucchini
dice: “Un total de 144 teólogos de habla alemana han firmado un manifiesto que
pide reformas urgentes en la Iglesia católica [...] Reclaman un nuevo inicio. El
manifiesto supone el alzamiento más importante contra la cúpula de la Iglesia
católica desde 1989, cuando 220 teólogos suscribieron la Declaración de Colonia,
crítica con la gestión de Juan Pablo II”.
Y finalicemos con unas declaraciones nada sospechosas de anticristianismo -son
del teólogo actual Juan José Tamayo (en uno de aquellos días)-: “Yo creo que el
Vaticano como Estado y el autoritarismo papal son dos de los factores que más
han contribuido al fracaso del cristianismo en su historia y que más escándalo
generan entre los no creyentes, pero también entre no pocos cristianos
evangélicos. Además, están en abierta oposición al Evangelio [...] al tiempo que
alejan, más que acercan, de la fe en Jesús de Nazaret. La desaparición del
Vaticano es condición necesaria para la recuperación de la credibilidad de la
Iglesia en el mundo actual”.
El domingo, uno de mayo, el nuevo Beato.
Fuente: http://ateos.org/?p=591




historiadorbaiano@gmail.com

domingo, 17 de abril de 2011

"Lei de Diretrizes e Bases para as Oposições Brasileiras - FHC na Revista Interesse Nacional.

Durante toda a semana, foram ditas e escritas muitas coisas desconexas sobre o texto que o Ex-Presidente Fernando Henrique escrevera em um alentado artigo,, tomado por alguns como sendo uma espécie de "manifesto. Ao ler o texto na sua íntegra, embora não com a profundidade e reflexividade necessárias, pude entender que de fato se trata de uma espécie de "Lei de Diretrizes e Bases para as Oposições Brasileiras", na medida em que ele elabora "diagnósticos", esboça metas, traças objetivos, elabora estratégias e, sobretudo, indica temas a serem encampados por aqueles que se quiserem opor ao atual governo, ou mesmo àquilo que o Ex-residente do planalto intitula de "Lulopetismo".
Não pretendo aqui dissecar o texto. Ao contrário. Meu objetivo é despejá-lo aqui, na íntegra, para que cada leitor desenvolva seu juízo e elabore sua análise.
Só adianto que, a meu juízo, trata-se de um texto muito mais profundo e complexo do que a imprensa e os políticos fizeram crer, ao se referirem ao arrazoado de Cardoso.
Vamos pois ao escrito do sociólogo da Usp:

Revista Interesse Nacional



Edição nº 13



Artigos

O Papel da Oposição
Por: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Há muitos anos, na década de 1970, escrevi um artigo com o título acima no jornal Opinião, que pertencia à chamada imprensa “nanica”, mas era influente. Referia-me ao papel do MDB e das oposições não institucionais. Na época, me parecia ser necessário reforçar a frente única antiautoritária e eu conclamava as esquerdas não armadas, sobretudo as universitárias, a se unirem com um objetivo claro: apoiar a luta do MDB no Congresso e mobilizar a sociedade pela democracia. Só dez anos depois a sociedade passou a atuar mais diretamente em favor dos objetivos pregados pela oposição, aos quais se somaram também palavras de ordem econômicas, como o fim do “arrocho” salarial. No entretempo, vivia-se no embalo do crescimento econômico e da aceitação popular dos generais presidentes, sendo que o mais criticado pelas oposições, em função do aumento de práticas repressivas, o general Médici, foi o mais popular: 75% de aprovação.
Não obstante, não desanimávamos. Graças à persistência de algumas vozes, como a de Ulisses Guimarães, às inquietações sociais manifestadas pelas greves do final da década e ao aproveitamento pelos opositores de toda brecha que os atropelos do exercício do governo, ou as dificuldades da economia proporcionaram (como as crises do petróleo, o aumento da dívida externa e a inflação), as oposições não calavam. Em 1974, o MDB até alcançou expressiva vitória eleitoral em pleno regime autoritário. Por que escrevo isso novamente, 35 anos depois?
Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga – pois dizem mesmo sem ser certo – que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção?

Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o “triunfo do capitalismo” entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva –no começo envergonhada e por fim mais deslavada do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias. Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo. Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias. Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Esta reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior. É cedo para avaliar a consistência de mudanças no estilo de governar da presidente Dilma. Estamos no início do mandato e os sinais de novos rumos dados até agora são insuficientes para avaliar o percurso futuro.


É preciso refazer caminhos

Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual – comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista – não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação. É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno “do outro”. Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover.

Se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem o terem construído a estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os “campeões nacionais” – as empresas que se globalizam –isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 1994 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos. Era o sinal de “adeus às armas”: socialismo só para enganar trouxas, nacional-desenvolvimentismo só como “etapa”. Uma tendência, contudo, não mudou, a do hegemonismo, ainda assim, aceitando aliados de cabresto.

Segmentos numerosos das oposições de hoje, mesmo no PSDB, aceitaram a modernização representada pelo governo FHC com dor de consciência, pois sentiam bater no coração as mensagens atrasadas do esquerdismo petista ou de sua leniência com o empreguismo estatal. Não reivindicaram com força, por isso mesmo, os feitos da modernização econômica e do fortalecimento das instituições, fato muito bem exemplificado pela displicência em defender os êxitos da privatização ou as políticas saneadoras, ou de recusar com vigor a mentira repetida de que houve compra de votos pelo governo para a aprovação da emenda da reeleição, ou de denunciar atrasos institucionais, como a perda de autonomia e importância das agências reguladoras. Da mesma maneira, só para dar mais alguns exemplos, o Proer e o Proes, graças aos quais o sistema financeiro se tornou mais sólido, foram solenemente ignorados, quando não estigmatizados. Os efeitos positivos da quebra dos monopólios, o do petróleo mais que qualquer outro, levando a Petrobras a competir e a atuar como empresa global e não como repartição pública, não foram reivindicados como êxitos do PSDB. O estupendo sucesso da Vale, da Embraer ou das teles e da Rede Ferroviária sucumbiu no murmúrio maledicente de “privatarias” que não existiram. A política de valorização do salário mínimo, que se iniciou no governo Itamar Franco e se firmou no do PSDB, virou glória do petismo. As políticas compensatórias iniciadas no governo do PSDB – as bolsas – que o próprio Lula acusava de serem esmolas e quase naufragaram no natimorto Fome Zero – voltaram a brilhar na boca de Lula, pai dos pobres, diante do silêncio da oposição e deslumbramento do país e… do mundo!

Não escrevo isso como lamúria, nem com a vã pretensão de imaginar que é hora de reivindicar feitos do governo peessedebista. Inês é morta, o passado… passou. Nem seria justo dizer que não houve nas oposições quem mencionasse com coragem muito do que fizemos e criticasse o lulismo. As vozes dos setores mais vigorosos da oposição se estiolaram, entretanto, nos muros do Congresso e este perdeu força política e capacidade de ressonância. Os partidos se transformaram em clubes congressuais, abandonando as ruas; muitos parlamentares trocaram o exercício do poder no Congresso por um prato de lentilhas: a cada nova negociação para assegurar a “governabilidade”, mais vantagens recebem os congressistas e menos força político-transformadora tem o Congresso. Na medida em que a maioria dos partidos e dos parlamentares foi entrando no jogo de fazer emendas ao orçamento (para beneficiar suas regiões, interesses – legítimos ou não – de entidades e, por fim, sua reeleição), o Congresso foi perdendo relevância e poder. Consequentemente, as vozes parlamentares, em especial as de oposição, que são as que mais precisam da instituição parlamentar para que seu brado seja escutado, perderam ressonância na sociedade. Com a aceitação sem protesto do “modo lulista de governar” por meio de medidas provisórias, para que serve o Congresso senão para chancelar decisões do Executivo e receber benesses? Principalmente, quando muitos congressistas estão dispostos a fazer o papel de maioria obediente a troco da liberação pelo Executivo das verbas de suas emendas, sem esquecer que alguns oposicionistas embarcam na mesma canoa.

Ironicamente, uma importante modificação institucional, a descentralização da ação executiva federal, estabelecida na Constituição de 1988 e consubstanciada desde os governos Itamar Franco e FHC, diluiu sua efetividade técnico-administrativa em uma pletora de recursos orçamentários “carimbados”, isto é, de orientação político-clientelista definida, acarretando sujeição ao Poder Central, ou, melhor, a quem o simboliza pessoalmente e ao partido hegemônico. Neste sentido, diminuiu o papel político dos governadores, bastião do oposicionismo em estados importantes, pois a relação entre prefeituras e governo federal saltou os governos estaduais e passou a se dar mais diretamente com a presidência da República, por meio de uma secretaria especial colada ao gabinete presidencial.
Como, por outra parte, existe – ou existiu até há pouco – certa folga fiscal e a sociedade passa por período de intensa mobilidade social movida pelo dinamismo da economia internacional e pelas políticas de expansão do mercado interno que geram emprego, o desfazimento institucional produzido pelo lulismo e a difusão de práticas clientelísticas e corruptoras foram sendo absorvidos, diante da indiferença da sociedade. Na época do mensalão, houve um início de desvendamento do novo Sistema (com S maiúsculo, como se escrevia para descrever o modelo político criado pelos governos militares). Então, ainda havia indignação diante das denúncias que a mídia fazia e os partidos ecoavam no Parlamento. Pouco a pouco, embora a mídia continue a fazer denúncias, a própria opinião pública, isto é, os setores da opinião nacional que recebem informações, como que se anestesiou. Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude.


Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições?
Definir o público a ser alcançadoEm primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade. É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral. As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental. Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.

Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe C” ou de nova classe média. Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.

Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas. Além da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria. Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas.

Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito
menos entre valores e interesses práticos. No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatários irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um “curto-circuito” e o que parecia não ser “política” se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das “diretas já”? Nestes momentos, o pragmatismo de quem luta para sobreviver no dia-a-dia lidando com questões “concretas” se empolga com crenças e valores. O discurso, noutros termos, não pode ser apenas o institucional, tem de ser o do cotidiano, mas não desligado de valores. Obviamente em nosso caso, o de uma democracia, não estou pensando em movimentos contra a ordem política global, mas em aspirações que a própria sociedade gera e que os partidos precisam estar preparados para que, se não os tiverem suscitado por sua desconexão, possam senti-los e encaminhá-los na direção política desejada.

Seria erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população. Na última campanha eleitoral, o momento de maior crescimento da candidatura Serra e de aproximação aos resultados obtidos pela candidata governista foi quando veio à tona o “episódio Erenice”. Mas é preciso ter coragem de dar o nome aos bois e vincular a “falha moral” a seus resultados práticos, negativos para a população. Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários. Não se trata de dar-nos por satisfeitos, à moda de demonstrar um teorema e escrever “cqd”, como queríamos demonstrar. Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica – moralista ou outra qualquer – cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político.

Qual é a mensagem?

Por certo, os oposicionistas para serem ouvidos precisam ter o que dizer. Não basta criar um público, uma audiência e um estilo, o conteúdo da mensagem é fundamental. Qual é a mensagem? O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do País, e de clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com causas universais, como os direitos humanos e a luta contra a opressão, mesmo quando esta vem mascarada de progressismo, apoiada em políticas de distribuição de rendas e de identificação das massas com o Chefe. Nas modernas sociedades democráticas, por outro lado, o Estado tanto mantém funções na regulação da economia como em sua indução, podendo chegar a exercer papel como investidor direto. Mas o que caracteriza o Estado em uma sociedade de massas madura é sua ação democratizadora. Os governos devem tornar claros, transparentes, e o quanto possível imunes à corrupção, os mecanismos econômicos que cria para apoiar o desenvolvimento da economia. Um Estado moderno será julgado por sua eficiência para ampliar o acesso à educação, à saúde e à previdência social, bem como pela qualidade da segurança que oferece às pessoas. Cabe às oposições serem a vanguarda nas lutas por estes objetivos. Defender o papel crescente do Estado nas sociedades democráticas, inclusive em áreas produtivas, não é contraditório com a defesa da economia de mercado. Pelo contrário, é preciso que a oposição diga alto e bom som que os mecanismos de mercado, a competição, as regras jurídicas e a transparência das decisões são fundamentais para o Brasil se modernizar, crescer economicamente e se desenvolver como sociedade democrática. Uma sociedade democrática amadurecida estará sempre comprometida com a defesa dos direitos humanos, com a ecologia e com o combate à miséria e às doenças, no país e em toda a parte. E compreende que a ação isolada do Estado, sem a participação da sociedade, inclusive dos setores produtivos privados, é insuficiente para gerar o bem-estar da população e oferecer bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentado.

Ao invés de se aferrarem a esses valores e políticas que lhes eram próprios como ideologia e como prática, as oposições abriram espaço para que o lulopetismo ocupasse a cena da modernização econômica e social. Só que eles têm os pés de barro: a cada instante proclamam que as privatizações “do PSDB” foram contra a economia do País, embora comecem a fazer descaradamente concessões de serviços públicos nas estradas e nos aeroportos, como se não estivessem fazendo na prática o mea-culpa. Cabe às oposições não apenas desmascarar o cinismo, mas, sobretudo, cobrar o atraso do País: onde está a infraestrutura que ficou bloqueada em seus avanços pelo temor de apelar à participação da iniciativa privada nos portos, nos aeroportos, na geração de energia e assim por diante? Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas “antiprivatizantes” ou a partidos clientelistas, como se tornou o PCdoB, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País.

Oposição precisa vender o peixe
Dirão novamente os céticos que nada disso interessa diretamente ao povo. Ora, depende de como a oposição venda o peixe. Se tomarmos como alvo, por exemplo, o atraso nas obras necessárias para a realização da Copa e especializarmos três ou quatro parlamentares ou técnicos para martelar no dia-a-dia, nos discursos e na internet, o quanto não se avança nestas áreas por causa do burocratismo, do clientelismo, da corrupção ou simplesmente da viseira ideológica que impede a competição construtiva entre os setores privados e destes com os monopólios, e se mostrarmos à população como ela está sendo diretamente prejudicada pelo estilo petista de política, criticamos este estilo de governar, suscitamos o interesse popular e ao mesmo tempo oferecemos alternativas.

Na vida política tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (mostrando com exemplos ao que isto corresponde) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população. Este discurso deve desvendar, ao mesmo tempo, o porquê do governo assim proceder: está criando um bloco de poder capitalista-burocrático que sufoca as empresas médias e pequenas e concentra renda.

Este tipo de política mostra descaso pelos interesses dos assalariados, dos pequenos produtores e profissionais liberais de tipo antigo e novo, setores que, em conjunto, custeiam as benesses concedidas ao grande capital com impostos que lhe são extraídos pelo governo. O lulopetismo não está fortalecendo o capitalismo em uma sociedade democrática, mas sim o capitalismo monopolista e burocrático que fortalece privilégios e corporativismos.
Com argumentos muito mais fracos o petismo acusou o governo do PSDB quando, em fase de indispensável ajuste econômico, aumentou a dívida interna (ou, melhor, reconheceu os “esqueletos” compostos por dívidas passadas) e usou recursos da privatização – todos contabilizados – para reduzir seu crescimento. A dívida pública consolidada do governo lulista foi muito maior do que a herdada por este do governo passado e, no entanto, a opinião pública não tomou conhecimento do fato. As oposições não foram capazes de politizar a questão. E o que está acontecendo agora quando o governo discute substituir o fator previdenciário, recurso de que o governo do PSDB lançou mão para mitigar os efeitos da derrota sofrida para estabelecer uma idade mínima de aposentadoria? Propondo a troca do fator previdenciário pela definição de… uma idade mínima de aposentadoria.

Petistas camaleões

Se os governistas são camaleões (ou, melhor, os petistas, pois boa parte dos governistas nem isso são: votavam com o governo no passado e continuam a votar hoje, como votarão amanhã), em vez de saudá-los porque se aproximam da racionalidade ou de votarmos contra esta mesma racionalidade, negando nossas crenças de ontem, devemos manter a coerência e denunciar as falsidades ideológicas e o estilo de política de mistificação dos fatos, tantas vezes sustentado pelo petismo.

São inumeráveis os exemplos sobre como manter princípios e atuar como uma oposição coerente. Mesmo na questão dos impostos, quando o PSDB e o DEM junto com o PPS ajudaram a derrubar a CPMF, mostraram que, coerentes, dispensaram aquele imposto porque ele já não era mais necessário, como ficou demonstrado pelo contínuo aumento da receita depois de sua supressão. É preciso continuar a fazer oposição à continuidade do aumento de impostos para custear a máquina público-partidária e o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. É possível mostrar o quanto pesa no bolso do povo cada despesa feita para custear a máquina público-partidária e manter o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. E para ser coerente, a oposição deve lutar desde já pela redução drástica do número de cargos em comissão, nomeados discricionariamente, bem como pelo estabelecimento de um número máximo de ministérios e secretarias especiais, para conter a fúria de apadrinhamento e de conchavos partidários à custa do povo.
Em suma: não há oposição sem “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”. É isso que a sociedade civil faz nas mais distintas matérias. O que o PSDB pensa sobre liberdade e pluralidade religiosa? Como manter a independência do Estado laico e, ao mesmo tempo, prestigiar e respeitar as religiões que formam redes de coesão social, essenciais para a vida em sociedade? O que pensa o partido sobre o combate às drogas? É preciso ser claro e sincero: todas as drogas causam danos, embora de alcance diferente. Adianta botar na cadeia os drogados?


Sinceridade comove a população

Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias. Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio.
Se a regra é ser sincero, por que temer ir fundo e avaliar o que nós próprios fizemos no passado, acreditando estar certos, e que continua sendo feito, mas que requer uma revisão? Tome-se o exemplo da reforma agrária e dos programas de incentivo à economia familiar. Fomos nós do PSDB que recriamos o Ministério da Reforma Agrária e, pela primeira vez, criamos um mecanismo de financiamento da agricultura familiar, o Pronaf. Nenhum governo fez mais em matéria de acesso à terra do que o do PSDB quando a pasta da Reforma era dirigida por um membro do PPS. Não terá chegado a hora de avaliar os resultados? O Pronaf não estará se transformando em mecanismo de perpétua renovação de dívidas, como os grandes agricultores faziam no passado com suas dívidas no Banco do Brasil? Qual é o balanço dos resultados da reforma agrária? E as acusações de “aparelhamento” da burocracia pelo PT e pelo MST são de fato verdadeiras? Sem que a oposição afirme precipitadamente que tudo isso vai mal –o que pode não ser correto – não pode temer buscar a verdade dos fatos, avaliar, julgar e criticar para corrigir.
Existe matéria em abundância para manter os princípios e para ir fundo nas críticas sem temer a acusação injusta de que se está defendendo “a elite”. Mas política não é tese universitária. É preciso estabelecer uma agenda. Geralmente esta é dada pelo governo. Ainda assim, usemo-la para concentrar esforços e dar foco, repetição e persistência à ação oposicionista. Tomemos um exemplo, o da reforma política, tema que o governo afirma estar disposto a discutir. Pois bem, o PSDB tem posição firmada na matéria: é favorável ao voto distrital (misto ou puro, ainda é questão indefinida). Se é assim, por que não recusar de plano a proposta da “lista fechada”, que reforça a burocracia partidária, não diminui o personalismo (ou alguém duvida que se pedirão votos para a lista “do Lula”?) e separa mais ainda o eleitor dos representantes?

Compromisso com o voto digital
Não é preciso afincar uma posição de intransigência: mantenhamos o compromisso com o voto distrital, façamos a pregação. Se não dispusermos de forças para que nossa tese ganhe, aceitemos apenas os melhoramentos óbvios no sistema atual: cláusula de desempenho (ou de barreira), proibição de coligações nas eleições proporcionais e regras de fidelidade partidária, ainda que para algumas destas medidas seja necessário mudança constitucional. Deixemos para outra oportunidade a discussão sobre financiamento público das campanhas, pois sem a distritalização o custo para o contribuinte será enorme e não se impedirá o financiamento em “caixa preta” nem o abuso do poder econômico. Mas denunciemos o quanto de antidemocrático existe no voto em listas fechadas. Em suma: não será esta uma boa agenda para a oposição firmar identidade, contrapor-se à tendência petista de tudo burocratizar e, ao mesmo tempo, não se encerrar em um puro negativismo aceitando modificações sensatas?

Por fim, retomando o que disse acima sobre o “triunfo do capitalismo”. O governo do PT e o próprio partido embarcaram, sem dizer, na adoração do bezerro de ouro. Mas, marcados pelos cacoetes do passado, não perceberam que o novo na fase contemporânea do capitalismo não é apenas a acumulação e o crescimento da economia. Os grandes temas que se estão desenhando são outros e têm a ver com o interesse coletivo: como expandir a economia sem destroçar o meio ambiente, como assegurar direitos aos destituídos deles, não só pela pobreza, mas pelas injustiças (desigualdades de gênero, de raça, de acesso à cultura)? Persistem preocupações antigas: como preservar a Paz em um mundo no qual há quem disponha da bomba nuclear?

A luta pela desnuclearização tem a ver com o sentido de um capitalismo cuja forma “selvagem” a sociedade democrática não aceita mais. Esta nova postura é óbvia no caso da ecologia, pois o natural egoísmo dos Estados, na formulação clássica, se choca com a tese primeira, a da perpetuação da vida humana. O terror atômico e o aquecimento global põem por terra visões fincadas no terreno do nacional-estatismo arcaico. Há um nacionalismo de novo tipo, democrático, aberto aos desafios do mundo e integrado nele, mas alerta aos interesses nacionais e populares. Convém redefinir, portanto, a noção do interesse nacional, mantendo-o persistente e alerta no que é próprio aos interesses do País, mas compatibilizando-o com os interesses da humanidade.

Estas formulações podem parecer abstratas, embora se traduzam no dia-a-dia: no Brasil, ninguém discute sobre qual o melhor modo de nossa presença no mundo: será pelo velho caminho armamentista, nuclearizando--nos, ou nossas imensas vantagens comparativas em outras áreas, entre elas as do chamado soft power, podem primar? Por exemplo, nossa “plasticidade cultural mestiça”, a aceitação das diferenças raciais – sem que se neguem e combatam as desigualdades e preconceitos ainda existentes –não são um ganho em um mundo multipolar e multicultural? E a disponibilidade de uma matriz energética limpa, sem exageros de muitas usinas atômicas (sempre perigosas), bem como os avanços na tecnologia do etanol, não nos dão vantagens? Por que não discutir, a partir daí, o ritmo em que exploraremos o pré-sal e as obscuras razões para a “estatização do risco e divisão do lucro” entre a Petrobras e as multinacionais por meio do sistema de partilha? São questões que não exploramos devidamente, ou cujas decisões estão longe de ser claramente compatíveis com o interesse nacional de longo prazo.


Falta de estratégia

Na verdade, falta-nos estratégia. Estratégia não é plano de ação: é o peso relativo que se dá às questões desafiadoras do futuro somado à definição de como as abordaremos. Que faremos neste novo mundo para competir com a China, com os Estados Unidos ou com quem mais seja? Como jogar com nossos recursos naturais (petróleo à frente) como fator de sucesso e poder sem sermos amanhã surpreendidos pelo predomínio de outras fontes de energia? E, acima de tudo, como transformar em políticas o anseio por uma “revolução educacional” que dê lugar à criatividade, à invenção e aos avanços das tecnologias do futuro?

A China, ao que parece, aprendeu as lições da última crise e está apostando na inovação, preparando-se para substituir as fontes tradicionais de energia, sobretudo o petróleo, de que não dispõe em quantidade suficiente para seu consumo crescente. E os próprios Estados Unidos, embora atônitos com os erros acumulados desde a gestão Bush, parecem capazes de continuar inovando, se conseguirem sair depressa da crise financeira que os engolfou.

De tudo isso o PT e seus governos falam, mas em ziguezague. As amarras a uma visão oposta, vinda de seu passado recente, os inibem para avançar mais. Não é hora das oposições serem mais afirmativas? E se por acaso, como insinuei no início deste artigo, houver divisões no próprio campo do petismo por causa da visão canhestra de muitos setores que apoiam o governo e de suas necessidades práticas o levarem a direções menos dogmáticas? Neste caso, embora seja cedo para especular, terá a oposição inteireza e capacidade política para aproveitar as circunstâncias e acelerar a desagregação do antigo e apostar no novo, no fortalecimento de uma sociedade mais madura e democrática?

Engana-se quem pensar que basta manter a economia crescendo e oferecer ao povo a imagem de uma sociedade com mobilidade social. Esta, ao ocorrer, aumenta as demandas tanto em termos práticos, de salários e condições de vida, como culturais. Em um mundo interconectado pelos modernos meios de comunicação o cidadão comum deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se de fato as diferenças econômicas e sociais estão diminuindo. Sem, entretanto, uma oposição que se oponha ao triunfalismo lulista, que coroa a alienação capitalista, desmistificando tudo o que seja mera justificativa publicitária do poder e chamando a atenção para os valores fundamentais da vida em uma sociedade democrática, só ocorrerão mudanças nas piores condições: quando a fagulha de alguma insatisfação produzir um curto-circuito. Mesmo este adiantará pouco se não houver à disposição uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais a população confie.

No mundo contemporâneo este caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe apenas uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade. Reitero: se as oposições institucionais não forem capazes de se ligar mais diretamente aos movimentos da vida, que pelo menos os ouçam e não tenham a pretensão de imaginar que pelo jogo congressual isolado alcançarão resultados significativos. Os vários focos de insatisfação social, por sua vez, também podem se perder em demandas específicas a serem atendidas fragmentariamente pelo governo se não encontrarem canais institucionais que expressem sua vontade maior de transformação. As oposições políticas, por fim, se nada ou pouco tiverem a ver com as múltiplas demandas do cotidiano, como acumularão forças para ganhar a sociedade?
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, sociólogo, foi presidente da República (1995–2003) e é presidente de honra do PSDB.


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José Jorge Andrade Damasceno, Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia.
professordamasceno@gmail.com

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que quer a imprensa fazer crer?

Fiquei por um tempo acompanhando pelo twitter a expectativa criada em torno do aparecimento do presidente egípcio, Hosni Mubarak, para o esperado e já tido como certo, anúncio de sua saída do posto de dirigente máxsimo do Egito, que já ocupa a 30 anos.
Ao perceber que tal anúncio não se daria, que os “posts” seguintes indicariam uma certa decepção com o fato óbvio de tal anúncio não acontecer, comecei a suspeitar que há uma ânsia generalizada por viver momentos “históricos”, ainda que forçando a história. Se assim não o é, quem poderia então explicar:
O que teria levado a imprensa nacional, a imprensa internacional, “blogueiros”, "twiteiros" e grande parte dos ativistas e agentes formadores de opinião pública,
a acreditar que o dirigente egípcio renunciaria, apenas por que é o desejo e parte da exigência de manifestantes reais e/ou virtuais?
Desde quando políticos nacionais, ou dirigentes internacionais,se "apeam" do poder, apenas para atender aos gritos de manifestantes,ainda que em grande número
e com espalhafatosa cobertura mediática?
Quem ainda acredita que o presidente brasileiro eleito em 1989, foi "apeado" do seu pedestal de arrogância e prepotência em 1992, por conta das manifestações dos "caras pintadas",
ou mesmo pela vontade "soberana"do egrégio Congresso Nacional?
Por que só agora, diante dos fatos que já se desenrolam há algumas semanas, o ocidente “democrático” se apresenta como o “fiador” da vontade do “povo egípcio”, deliberada e inesplicavelmente ignorando os demais povos da região, iguamente submetidos aos seus dirigentes plenipotenciários?
Diante da escancarada hipocrisia social manifesta nos meios de formação de opinião, é impossível não se levantar estes pontos, uma vez que a avidez com que se quer fazer crer que a “vontade do povo” está se fazendo difundir pelo mundo a fora, não corresponde àquilo que efetivamente possa estar por trás de toda esta cobertura jornalística, movendo os desejos de “twiteiros” e “blogueiros”, no sentido da renúncia do Presidente egípicio. Há algum interesse submerso em toda esta panacéia mediática, em torno das manifestações que vem ocorrendo no Egito. Há que se ficar atento a tudo isto.
José Jorge Andrade Damasceno, Professor adjunto na universidade do Estado da Bahia, Campus II, Alagoinhas.
e-mail: historiadorbaiano@gmail.com