Eu não gosto do dia dos pais.
Todas as vezes que se abre o facebook,
o abestado pergunta: “no que você está pensando”? Quase sempre, eu tenho ignorado
pergunta tão invasiva. Mas, hoje, eu queria dar uma resposta com um textão; o arrazoado
com umas quinhentas páginas; um tratado histórico, filosófico e sociológico
sobre esta idiotia social chamada “Dia dos Pais – ou mesmo das mães, ou dias de
quaisquer bestices que sirvam para o incremento do comércio e das atividades
litúrgico-sociais das igrejas.
No entanto, por me faltar
competência para tanto e, sobretudo, por ter como certo que o tal tratado não
seria lido nas tais “redes sociais”, me contentarei se conseguir escrever ao
menos algumas linhas sobre esta efeméride inútil, insossa, ineficaz e inodora e,
portanto, desnecessária.
Se acreditam que estou errado,
ou mesmo exagerando por ter um completo desprezo por este e outros “dias”, me responda
então: há pais que “merecem” e outros que não “merecem” o tal “dia”?
De pronto, eu respondo que não.
E, por que não? Perguntariam
alguns.
E eu respondo: por não se viver
em uma sociedade meritocrática, não é possível dizer-se que há “pais” e “pais”.
Todos são pais: os que dão
presentes; os que dão a ausência como presentes; os que matam os filhos de
outros pais, deixando sem pais os seus filhos; os que matam as mulheres de
outros pais – e, não poucas vezes as suas próprias -, deixando outros pais
viúvos e outros filhos – por vezes, também os seus -, sem as suas mães; também
são pais os que acediam, os que abusam, os que violam e engravidam impunemente as filhas de outros
pais – não raro as suas próprias filhas -, fazendo crescer o número dos filhos
que não podem ter os seus pais para as coisas mais basilares da vida; são pais, aqueles homens que assassinam as filhas de outros pais, por sadismo, por
ciúmes, “por amor”, por acreditarem ser os donos de suas vidas e proprietários
dos seus corpos, deixando outros pais sem as suas filhas; do mesmo modo que são pais, aqueles que em nome do combate à corrupção, quebraram inúmeras empresas,
grandes, médias e pequenas, lançando milhões de pessoas no desemprego, no
subemprego, no bico, no biscate, na miséria, impedindo outros pais de levarem
os sustento para os seus filhos e, assim, fazendo o País voltar ao mapa da fome
da ONU; também são pais, aqueles que roubaram a grana da merenda, da saúde e da
educação, deixando inúmeros filhos de pais, sem comer, sem aprender, sem saneamento
básico, sem atenção à saúde; sem hospitais dignos, sem escolas funcionando e
ensinando a ler o mundo; também são pais, aqueles que exploram o trabalhador em
seus direitos, em seus salários; também são pais, aqueles que de posse de seus
notebooks, de seus microfones, câmeras, de suas concessões de rádio e de televisão,
se dedicam com empenho e denodo incansável, à tarefa de assassinar reputações de
pessoas e de empresas; também são pais, aqueles que matam “marginais” que deixarão
pais sem filhos e filhos sem pais; ah, também são pais, os salafrários, os
calhordas, os patifes, os canalhas, os cafajestes; também são pais, os cachorros,
os gatos, os jumentos, os cavalos, os hipopótamos, os elefantes, os rinocerontes;
igualmente são pais, os carneiros, os bodes, os galos, os papagaios e os
barbeiros. Embora a lista seja grande, ela não é exaustiva.
No entanto, há um macho, que por
conta de sua natureza híbrida, não tem a capacidade biológica de ser inserido
na categoria dos que são pais: o burro. Não fora ele filho de um cruzamento
entre asininos e equinos, mesmo que o burro viesse com todas as fêmeas copular,
jamais poderão procriar.
José Jorge Andrade Damasceno –
indignado com tanta a criticidade intelectual, em meio a uma grande imbecilização,
difundida pelas “redes sociais”.