domingo, 14 de agosto de 2022

Minha crítica ao "dia dos Pais".

Eu não gosto do dia dos pais.

 

Todas as vezes que se abre o facebook, o abestado pergunta: “no que você está pensando”? Quase sempre, eu tenho ignorado pergunta tão invasiva. Mas, hoje, eu queria dar uma resposta com um textão; o arrazoado com umas quinhentas páginas; um tratado histórico, filosófico e sociológico sobre esta idiotia social chamada “Dia dos Pais – ou mesmo das mães, ou dias de quaisquer bestices que sirvam para o incremento do comércio e das atividades litúrgico-sociais das igrejas.

No entanto, por me faltar competência para tanto e, sobretudo, por ter como certo que o tal tratado não seria lido nas tais “redes sociais”, me contentarei se conseguir escrever ao menos algumas linhas sobre esta efeméride inútil, insossa, ineficaz e inodora e, portanto, desnecessária.

Se acreditam que estou errado, ou mesmo exagerando por ter um completo desprezo por este e outros “dias”, me responda então: há pais que “merecem” e outros que não “merecem” o tal “dia”?

De pronto, eu respondo que não.

E, por que não? Perguntariam alguns.

E eu respondo: por não se viver em uma sociedade meritocrática, não é possível dizer-se que há “pais” e “pais”.

Todos são pais: os que dão presentes; os que dão a ausência como presentes; os que matam os filhos de outros pais, deixando sem pais os seus filhos; os que matam as mulheres de outros pais – e, não poucas vezes as suas próprias -, deixando outros pais viúvos e outros filhos – por vezes, também os seus -, sem as suas mães; também são pais os que acediam, os que abusam, os que violam  e engravidam impunemente as filhas de outros pais – não raro as suas próprias filhas -, fazendo crescer o número dos filhos que não podem ter os seus pais para as coisas mais basilares da vida; são pais, aqueles homens que assassinam as filhas de outros pais, por sadismo, por ciúmes, “por amor”, por acreditarem ser os donos de suas vidas e proprietários dos seus corpos, deixando outros pais sem as suas filhas; do mesmo modo que são pais, aqueles que em nome do combate à corrupção, quebraram inúmeras empresas, grandes, médias e pequenas, lançando milhões de pessoas no desemprego, no subemprego, no bico, no biscate, na miséria, impedindo outros pais de levarem os sustento para os seus filhos e, assim, fazendo o País voltar ao mapa da fome da ONU; também são pais, aqueles que roubaram a grana da merenda, da saúde e da educação, deixando inúmeros filhos de pais, sem comer, sem aprender, sem saneamento básico, sem atenção à saúde; sem hospitais dignos, sem escolas funcionando e ensinando a ler o mundo; também são pais, aqueles que exploram o trabalhador em seus direitos, em seus salários; também são pais, aqueles que de posse de seus notebooks, de seus microfones, câmeras, de suas concessões de rádio e de televisão, se dedicam com empenho e denodo incansável, à tarefa de assassinar reputações de pessoas e de empresas; também são pais, aqueles que matam “marginais” que deixarão pais sem filhos e filhos sem pais; ah, também são pais, os salafrários, os calhordas, os patifes, os canalhas, os cafajestes; também são pais, os cachorros, os gatos, os jumentos, os cavalos, os hipopótamos, os elefantes, os rinocerontes; igualmente são pais, os carneiros, os bodes, os galos, os papagaios e os barbeiros. Embora a lista seja grande, ela não é exaustiva.

No entanto, há um macho, que por conta de sua natureza híbrida, não tem a capacidade biológica de ser inserido na categoria dos que são pais: o burro. Não fora ele filho de um cruzamento entre asininos e equinos, mesmo que o burro viesse com todas as fêmeas copular, jamais poderão procriar.

 

José Jorge Andrade Damasceno – indignado com tanta a criticidade intelectual, em meio a uma grande imbecilização, difundida pelas “redes sociais”.