segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Um escrevedor volta a falar de memória musical XII

Um escrevedor volta a falar de memória musical XII: o começo da caminhada – primeiro

semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas – As músicas de conjunto e os Hinos Avulsos.

 

A memória coletiva é um terreno deveras fértil e variado, nela podendo ser encontrados muitos registros que um indivíduo dado não guardou e que um outro trás de volta ao rememorar. Considerando-se a postagem anterior, ocasião em que se trouxe alguns registros relacionados aos solos individuais de pelo menos três pessoas que integravam a Primeira Igreja Batista de Alagoinhas no período aqui aludido – Isauri, Maria Rita Borges e José Santana -, um leitor atento deste espaço, embora tenha preferido manter-se no anonimato, ele  chamou a atenção deste escrevedor com respeito ao dueto formado pela irmã Isauri Moreira e o seu esposo, o irmão Cassimiro – in memoriam -, pois muitas vezes eles tomaram parte no desenvolvimento do culto – sendo ele um dos músicos da igreja, executando o seu velho Harmônio.

Acredita-se pertinente salientar de passagem, que este garatujador algumas vezes também cantou solos à capela, embora não fosse comum. Quase sempre era chamado para o fazer sem aviso prévio – portanto, sem se fazer acompanhar do seu inseparável violão -, lançando mão então unicamente do recursos vocal . \Lembra-se ele de ter cantado várias vezes

“Oh quando o momento chegar/De eu ir com Jesus habitar; em paz eu verei meu Senhor/em todo o seu resplendor.

“Em Cristo há perfeito perdão/Há nele real salvação; há nele também esta paz/que agora me satisfaz;

- “paz, paz/Sim paz/ hei de gozar a final; quando eu com Jesus me encontrar/no Reino celestial”

Este hino foi aprendido a partir das audições do disco de Luiz de Carvalho “Obra Santa”, em uma cansada radiola, na casa da irmã Alzira Moreira, carinhosamente conhecida por todos como “Irmã Dinha”, já de saudosa memória.

Luiz de Carvalho – quando o Momento Chegar – gravação de 1969.

 

https://youtu.be/eY4HgTiTyyk

 

Um outro hino avulso que este escrevedor tivera contato no comecinho de sua caminhada Cristã, foi “O Mundo há de Saber”, então interpretado por um grupo de jovens paulistas denominado “Os Ligados”, mas que chegou aos ouvidos deste que ora escreve este arrazoado, a partir da interpretação do conjunto musical da Primeira Igreja, o “Som Celeste”, já aludido em postagens anteriores, sob a regência e liderança de Edileusa Fonseca da Silva.

 

Os Ligados – O Mundo há de Saber

 

https://youtu.be/llyDJUlcNWE

 

Foi ainda através das participações do “Som Celeste” que se pôde tomar contato com algumas das excelentes produções de “Vencedores por Cristo”, como o hino linkado abaixo. Convém salientar que este escrevedor não conhecia a origens dos hinos interpretados pelo grupo musical em apreço.

Vencedores por Cristo – Volte à Vida – gravação de 1973

 

https://youtu.be/-Y9eElsg40w

 

Conforme já se aludiu em outros arrazoados, tudo era novo para aquele recém-chegado na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas. “Hinetos”, “corinhos” e “hinos avulsos” se lhe soava estranho aos ouvidos ainda não familiarizado com aqueles vocábulos que, em síntese, queria dizer simplesmente que eram as músicas cantadas no transcurso do culto, que não estavam inseridas no “Cantor Cristão”, uma espécie de “livrinho” com os “hinos congregacionais”, que deveriam ser executados e cantados por toda a Igreja. Os “avulsos”, eram aqueles que estavam surgindo e caindo no gosto dos jovens – sobretudo -, mas também da liderança, o que acabava por induzir o restante do público.

Naqueles inícios dos anos 1980, com as comunicações ainda pouco ágeis, se destacava o grupo “Vencedores por Cristo” – entre outros, como Jovens da Verdade, os Ligados -, no que respeita à produção musical moderna e brasileira, que viria a substituir pouco a pouco a hinódia tradicional norte-americana, sobretudo, do Sul dos Estados Unidos da América do Norte. Para tanto, os “hinetos” eram introduzidos paulatinamente na “ordem do culto” e cantados várias vezes e em vários momentos da liturgia, para que fosse aprendido e apreendido pelos crentes.

No curso de quase dois anos que este escrevente permaneceu como partícipe daquela igreja, foram diversos os hinos que foram pacientemente ensinados à congregação. Alguns deles eram entoados com grande entusiasmo, sobretudo, nas manhãs de domingo, no momento imediato à escola dominical, que antecedia o “sermão” do pastor da igreja. Entre eles, seguem alguns, ao menos aqueles que mais marcaram a caminhada hinológica de quem ora escreve.

O primeiro e talvez o mais vibrante deles, fora dos primeiros que ouvira nos seus primeiros passos de “fé cristã”; era uma espécie de apologia “à volta de Jesus”, pregação muito presente nos sermões e hinos daquele princípio de década. Aqui foram colocados links a duas das versões que este escrevedor mais aprecia do “hinetos” “O Rei Está Voltando”. A primeira é com Feliciano Amaral, a que mais se aproxima do modo como era cantado na Primeira Igreja; a segunda,  mais recente, é uma interpretação de Luiz de Carvalho, feita com um coro e uma orquestra primorosos.

O Rei Está Voltando – Feliciano Amaral – gravação de 1974.

 

 https://youtu.be/V9iL5d0pYpM

 

O Rei Está Voltando – Luiz de Carvalho - gravação de 2001

 

https://youtu.be/Vu1vZo80-kA

 

Para concluir estas considerações, segue uma série de links para alguns dos corinhos mais cantados e apreciados por todos quantos viveram aquele momento ímpar da fé Cristã, entre os Batistas alagoinhenses.

Vencedores Por Cristo – Meu Coração – gravação de 1975

 

https://youtu.be/UPjibJjd9ME

 

Vencedores por Cristo – Hosana – gravação de 1975

 

https://youtu.be/H8-WxiemJLI

 

Vencedores por Cristo – Exaltar-te-ei / Levantai ó portas – gravação de 1975

 

https://youtu.be/XY51TAxZoK0

 

Johmara – Vai Abalar – gravação de 1982

 

https://youtu.be/tosgSg4iXhA

 

Era contagiante o entusiasmo com que o Pastor Jessé conduzia a igreja na entoação destes e outros hinetos do tipo

 

José Jorge Andrade Damasceno

– 10 de janeiro de 2022 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Um Escrevedor volta a falar de memória musical XI

Um escrevedor volta a falar de memória musical XI: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas – Os “solos” “à capela” de Maria Rita, Isauri Moreira e José Santana.

 

Neste ponto do rememorar, faz-se necessário salientar que, ao passar a fazer parte de um determinado grupo social, cuja base de sustentação está fincada em um sistema religioso - conjunto das instituições econômicas, morais, políticas de uma sociedade a que os indivíduos se subordinam - diferente daquele em que transitara até então, é preciso reconstruir uma parte do pensar/falar, desenvolver uma nova maneira de compreender palavras novas e/ou incorporar entendimento diverso daquele que se possuía do vocabulário de seu domínio, bem como de sua utilização. Outrossim, fazia-se premente apreender e compreender os elementos constitutivos do constructo filosófico embutido nas novas práticas, falas e formas de pensar que o compõe. Tal entendimento não se fez senão com o passar do tempo e  com o acúmulo das experiências vividas no contexto em que fora inserido, na medida em que as percepções eram apreendidas e as reflexões eram desenvolvidas. Os traços mais relevantes se consolidaram como impressões indeléveis que ficaram gravadas no espírito de quem lembra, marcados pelo processo de inscrição de signos do vivido, em um dado transcurso de tempo. Conforme o postulado de Maurice Halbwachs (1877-1945), ”[...]: a lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada. [...]” (HALBWACHS, 1990, p. 71). Esta é a premissa que tem norteado este conjunto de textos quem vem sendo escritos com o fito de trazer à lume algumas das reminiscências de um viver já pretérito.

Aqui, em primeiro lugar, se quer destacar para fins ilustrativos, os usos da palavra “solo”, para além dos significados que o “novo convertido” conhecia até a sua inserção entre as pessoas que professavam a Cristo, em uma igreja Batista. A acepção primeva que este escrevedor conhecia, obviamente, era a relacionada ao lugar em que se pisa, se planta, se vive – “[...]      conjunto das acumulações de partículas sólidas que constituem a crosta terrestre, desde os profundos depósitos geológicos até as camadas de superfície [...]” -, além das acepções poéticas indicativas de “solo pátrio”, sem falar daquelas relacionadas à biologia e à geografia, que são ensinadas/aprendidas nos livros e nas escolas. Recorrendo ao dicionário, são encontradas outras acepções da palavra solo, desta feita,  no campo da música, por exemplo, algumas das quais também eram suas conhecidas, mas, sempre relacionadas à execução instrumental. Diz assim o dicionário Houaiss da língua portuguesa, trazendo uma acepção utilizada a partir de 1720:

“[...] passagem ou trecho musical para ser executado por um só instrumento ou uma só voz, com acompanhamento ou não, em conjunto coral ou orquestral”.

“[...]diz-se de instrumento musical ou cantor que se apresenta solando; solista.

“[...] realizado, desempenhado, tocado, executado etc. por uma pessoa apenas [...]”.

 

Como exemplos do postulado acima, se poderia elencar os solos que este escrevente escutara pela vez primeva naqueles já distantes anos de sua vivência na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, por meio de vozes como as de Maria Rita Borges, Isauri Moreira, dentre outras, que em geral, executavam os seus solos “à Capela”. Aliás, uma outra expressão que causou estranheza ao recém-chegado, pois para ele, a palavra “capela” tinha uma conotação diferente daquela empregada no linguajar musical que circulava no seio dos Batistas de então.

Abaixo o link para três hinos que ilustram bem o que acima fora postulado. Cabe salientar de passagem que, em geral, os “solos” eram executados “à capela” por algumas razões. Uma era que, quase sempre os jovens que tocavam os instrumentos que então eram heterodoxos na liturgia, ou não conheciam os hinos ou não gostavam dos tipos de hinos que as senhoras e os irmãos um pouco mais maduros gostavam de cantar, indicando uma certa má vontade com aquela geração que estava sendo sucedida por eles. Uma outra razão que se poderia apontar é que se tratava de músicas inseridas no Cantor Cristão e, que por conseguinte, deveriam ser executadas por musicistas que tocassem os instrumentos classicamente usados no espaço de culto. Talvez aqui se pudesse apontar mais uma razão para aquela geração, considerada em vias de sucessão pelos jovens instrumentistas, preferirem executar os seus “solos” “á capela”. Talvez se possa dizer que eles apresentavam uma resistência velada àqueles novos instrumentos que “invadiam” o espaço de culto, passando inexoravelmente a fazer parte da liturgia cúlticas. Daí talvez se poder inferir que, ao cantar os seus hinos preferidos sem quaisquer acompanhamentos instrumentais, pudessem se fazer entender melhor, evitando aqueles sons que lhes soavam mal aos ouvidos, cuja educação musical ainda era clássica e tradicional.

 

Compensa servir A Jesus – Arautos do Rei.

 

 

 

https://youtu.be/5hPeSJsjwq0

 

Mensagem real –

 

 https://youtu.be/cY_m7LPQ1Lg

 

Ao Meu Redor – Luiz de Carvalho

 

https://youtu.be/_7r_ESMvAeA

 

05 de janeiro de 2022.

José Jorge Andrade Damasceno

Alagoinhas - Bahia