quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Um Escrevedor volta a falar de memória musical XI

Um escrevedor volta a falar de memória musical XI: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas – Os “solos” “à capela” de Maria Rita, Isauri Moreira e José Santana.

 

Neste ponto do rememorar, faz-se necessário salientar que, ao passar a fazer parte de um determinado grupo social, cuja base de sustentação está fincada em um sistema religioso - conjunto das instituições econômicas, morais, políticas de uma sociedade a que os indivíduos se subordinam - diferente daquele em que transitara até então, é preciso reconstruir uma parte do pensar/falar, desenvolver uma nova maneira de compreender palavras novas e/ou incorporar entendimento diverso daquele que se possuía do vocabulário de seu domínio, bem como de sua utilização. Outrossim, fazia-se premente apreender e compreender os elementos constitutivos do constructo filosófico embutido nas novas práticas, falas e formas de pensar que o compõe. Tal entendimento não se fez senão com o passar do tempo e  com o acúmulo das experiências vividas no contexto em que fora inserido, na medida em que as percepções eram apreendidas e as reflexões eram desenvolvidas. Os traços mais relevantes se consolidaram como impressões indeléveis que ficaram gravadas no espírito de quem lembra, marcados pelo processo de inscrição de signos do vivido, em um dado transcurso de tempo. Conforme o postulado de Maurice Halbwachs (1877-1945), ”[...]: a lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada. [...]” (HALBWACHS, 1990, p. 71). Esta é a premissa que tem norteado este conjunto de textos quem vem sendo escritos com o fito de trazer à lume algumas das reminiscências de um viver já pretérito.

Aqui, em primeiro lugar, se quer destacar para fins ilustrativos, os usos da palavra “solo”, para além dos significados que o “novo convertido” conhecia até a sua inserção entre as pessoas que professavam a Cristo, em uma igreja Batista. A acepção primeva que este escrevedor conhecia, obviamente, era a relacionada ao lugar em que se pisa, se planta, se vive – “[...]      conjunto das acumulações de partículas sólidas que constituem a crosta terrestre, desde os profundos depósitos geológicos até as camadas de superfície [...]” -, além das acepções poéticas indicativas de “solo pátrio”, sem falar daquelas relacionadas à biologia e à geografia, que são ensinadas/aprendidas nos livros e nas escolas. Recorrendo ao dicionário, são encontradas outras acepções da palavra solo, desta feita,  no campo da música, por exemplo, algumas das quais também eram suas conhecidas, mas, sempre relacionadas à execução instrumental. Diz assim o dicionário Houaiss da língua portuguesa, trazendo uma acepção utilizada a partir de 1720:

“[...] passagem ou trecho musical para ser executado por um só instrumento ou uma só voz, com acompanhamento ou não, em conjunto coral ou orquestral”.

“[...]diz-se de instrumento musical ou cantor que se apresenta solando; solista.

“[...] realizado, desempenhado, tocado, executado etc. por uma pessoa apenas [...]”.

 

Como exemplos do postulado acima, se poderia elencar os solos que este escrevente escutara pela vez primeva naqueles já distantes anos de sua vivência na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, por meio de vozes como as de Maria Rita Borges, Isauri Moreira, dentre outras, que em geral, executavam os seus solos “à Capela”. Aliás, uma outra expressão que causou estranheza ao recém-chegado, pois para ele, a palavra “capela” tinha uma conotação diferente daquela empregada no linguajar musical que circulava no seio dos Batistas de então.

Abaixo o link para três hinos que ilustram bem o que acima fora postulado. Cabe salientar de passagem que, em geral, os “solos” eram executados “à capela” por algumas razões. Uma era que, quase sempre os jovens que tocavam os instrumentos que então eram heterodoxos na liturgia, ou não conheciam os hinos ou não gostavam dos tipos de hinos que as senhoras e os irmãos um pouco mais maduros gostavam de cantar, indicando uma certa má vontade com aquela geração que estava sendo sucedida por eles. Uma outra razão que se poderia apontar é que se tratava de músicas inseridas no Cantor Cristão e, que por conseguinte, deveriam ser executadas por musicistas que tocassem os instrumentos classicamente usados no espaço de culto. Talvez aqui se pudesse apontar mais uma razão para aquela geração, considerada em vias de sucessão pelos jovens instrumentistas, preferirem executar os seus “solos” “á capela”. Talvez se possa dizer que eles apresentavam uma resistência velada àqueles novos instrumentos que “invadiam” o espaço de culto, passando inexoravelmente a fazer parte da liturgia cúlticas. Daí talvez se poder inferir que, ao cantar os seus hinos preferidos sem quaisquer acompanhamentos instrumentais, pudessem se fazer entender melhor, evitando aqueles sons que lhes soavam mal aos ouvidos, cuja educação musical ainda era clássica e tradicional.

 

Compensa servir A Jesus – Arautos do Rei.

 

 

 

https://youtu.be/5hPeSJsjwq0

 

Mensagem real –

 

 https://youtu.be/cY_m7LPQ1Lg

 

Ao Meu Redor – Luiz de Carvalho

 

https://youtu.be/_7r_ESMvAeA

 

05 de janeiro de 2022.

José Jorge Andrade Damasceno

Alagoinhas - Bahia 

Um comentário:

  1. Boas lembranças das solistas
    Irmã Rita Borges que bela voz e irmã Isauri juntamente com seu esposo irmão Cassimiro que faziam um lindo dueto
    Deus abençoe sua vida Jorge

    ResponderExcluir

Comente; quero saber o que você pensa!