Um escrevedor volta a falar de memória musical XI: o começo
da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de
Alagoinhas – Os “solos” “à capela” de Maria Rita, Isauri Moreira e José
Santana.
Neste ponto do rememorar,
faz-se necessário salientar que, ao passar a fazer parte de um determinado
grupo social, cuja base de sustentação está fincada em um sistema religioso - conjunto das instituições
econômicas, morais, políticas de uma sociedade a que os indivíduos se
subordinam - diferente daquele em que transitara até então, é preciso
reconstruir uma parte do pensar/falar, desenvolver uma nova maneira de compreender
palavras novas e/ou incorporar entendimento diverso daquele que se possuía do
vocabulário de seu domínio, bem como de sua utilização. Outrossim, fazia-se
premente apreender e compreender os elementos constitutivos do constructo filosófico
embutido nas novas práticas, falas e formas de pensar que o compõe. Tal
entendimento não se fez senão com o passar do tempo e com o acúmulo das experiências vividas no
contexto em que fora inserido, na medida em que as percepções eram apreendidas
e as reflexões eram desenvolvidas. Os traços mais relevantes se consolidaram
como impressões indeléveis que ficaram gravadas no espírito de quem lembra, marcados
pelo processo de inscrição de signos do vivido, em um dado transcurso de tempo.
Conforme o postulado de Maurice Halbwachs (1877-1945), ”[...]: a lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a
ajuda de dados emprestados do presente, e além disso, preparada por
outras reconstruções feitas em épocas anteriores e de onde a imagem de outrora
manifestou-se já bem alterada. [...]” (HALBWACHS, 1990, p. 71). Esta é a
premissa que tem norteado este conjunto de textos quem vem sendo escritos com o
fito de trazer à lume algumas das reminiscências de um viver já pretérito.
Aqui, em primeiro lugar, se
quer destacar para fins ilustrativos, os usos da palavra “solo”, para além dos
significados que o “novo convertido” conhecia até a sua inserção entre as pessoas
que professavam a Cristo, em uma igreja Batista. A acepção primeva que este
escrevedor conhecia, obviamente, era a relacionada ao lugar em que se pisa, se
planta, se vive – “[...] conjunto das acumulações de partículas
sólidas que constituem a crosta terrestre, desde os profundos depósitos
geológicos até as camadas de superfície [...]” -, além das acepções
poéticas indicativas de “solo pátrio”, sem falar daquelas relacionadas à
biologia e à geografia, que são ensinadas/aprendidas nos livros e nas escolas.
Recorrendo ao dicionário, são encontradas outras acepções da palavra solo, desta
feita, no campo da música, por exemplo,
algumas das quais também eram suas conhecidas, mas, sempre relacionadas à
execução instrumental. Diz assim o dicionário Houaiss da língua portuguesa,
trazendo uma acepção utilizada a partir de 1720:
“[...] passagem ou trecho musical para ser executado por um
só instrumento ou uma só voz, com acompanhamento ou não, em conjunto coral ou
orquestral”.
“[...]diz-se de instrumento musical ou cantor que se
apresenta solando; solista.
“[...] realizado, desempenhado, tocado, executado etc. por uma
pessoa apenas [...]”.
Como exemplos do postulado acima, se poderia elencar os
solos que este escrevente escutara pela vez primeva naqueles já distantes anos
de sua vivência na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, por meio de vozes
como as de Maria Rita Borges, Isauri Moreira, dentre outras, que em geral,
executavam os seus solos “à Capela”. Aliás, uma outra expressão que causou
estranheza ao recém-chegado, pois para ele, a palavra “capela” tinha uma
conotação diferente daquela empregada no linguajar musical que circulava no
seio dos Batistas de então.
Abaixo o link para
três hinos que ilustram bem o que acima fora postulado. Cabe salientar de
passagem que, em geral, os “solos” eram executados “à capela” por algumas
razões. Uma era que, quase sempre os jovens que tocavam os instrumentos que
então eram heterodoxos na liturgia, ou não conheciam os hinos ou não gostavam
dos tipos de hinos que as senhoras e os irmãos um pouco mais maduros gostavam
de cantar, indicando uma certa má vontade com aquela geração que estava sendo
sucedida por eles. Uma outra razão que se poderia apontar é que se tratava de
músicas inseridas no Cantor Cristão e, que por conseguinte, deveriam ser
executadas por musicistas que tocassem os instrumentos classicamente usados no
espaço de culto. Talvez aqui se pudesse apontar mais uma razão para aquela
geração, considerada em vias de sucessão pelos jovens instrumentistas, preferirem
executar os seus “solos” “á capela”. Talvez se possa dizer que eles apresentavam
uma resistência velada àqueles novos instrumentos que “invadiam” o espaço de
culto, passando inexoravelmente a fazer parte da liturgia cúlticas. Daí talvez
se poder inferir que, ao cantar os seus hinos preferidos sem quaisquer
acompanhamentos instrumentais, pudessem se fazer entender melhor, evitando
aqueles sons que lhes soavam mal aos ouvidos, cuja educação musical ainda era
clássica e tradicional.
Compensa servir A Jesus – Arautos
do Rei.
Mensagem real –
Ao Meu Redor – Luiz de Carvalho
05 de janeiro de 2022.
José Jorge Andrade Damasceno
Alagoinhas - Bahia
Boas lembranças das solistas
ResponderExcluirIrmã Rita Borges que bela voz e irmã Isauri juntamente com seu esposo irmão Cassimiro que faziam um lindo dueto
Deus abençoe sua vida Jorge