quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Um escrevedor volta a falar de memória musical – IX: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas e as primeiras músicas evangélicas – Parte II.

 

Um escrevedor volta a falar de memória musical – IX: o começo da caminhada – primeiro semestre de 1980 – A Primeira Igreja Batista de Alagoinhas e as primeiras músicas evangélicas – Parte II.

 

Ao retomar o rememorar do começo da caminhada cristã, este escrevente prossegue falando dos primeiros contatos que tivera com a música evangélica, desta vez, considerando aquelas que ouvira pela primeira vez, por meio dos “solos”, bem como fará referência a outros momentos de sua trajetória na Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, nos quais a música fora o elemento desencadeador.

O “solo” era um dos elementos constitutivos da liturgia, geralmente, nas celebrações que transcorriam aos domingos – manhã e noite -, quando algumas pessoas  tinham participação  individual no desenvolvimento das atividades melódicas, entre os cantos congregacionais e as leituras responsivas e, por vezes, as declamações. Aquela participação era previamente incorporada a ordem de  culto, mediante convite e/ou inscrição da pessoa interessada em fazer parte daquele momento solene. O solista,  por sua vez, escolhia o hino que seria cantado e, dependendo do caso, seria acompanhado pelos musicistas, pelo próprio solista ao violão ou, em solo “a capela”.

Este narrador lembra perfeitamente que a professora Maria Rita Borges e a irmã Isauri, eram aquelas que mais apresentavam os seus “solos” no formato “a capela”. Abaixo, duas das músicas que elas gostavam de cantar nas manhãs de domingo, na referida modalidade de interpretação musical.

Tem-se bem claro que “Junto a Jesus”, era magnificamente interpretado por Maria Rita Borges, provavelmente, a partir da audição de Feliciano Amaral, (1920-2018)–

 

https://youtu.be/jwOMwYO8miM

 

É igualmente claro no rememorar deste escriba, os solos da mesma Maria Rita Borges, do hino “Lindo País”, inserido no mesmo disco de Feliciano Amaral, em que se encontra o hino anterior.

 

https://youtu.be/OyncL5X6Lpw

 

Quanto a quem escreve estas linhas, um sujeito sempre apaixonado pela música, interessado em conhecer o mundo melódico construído, alimentado e alimentador do gosto musical do protestante em geral e do Batista em particular, estabelece os seus primeiros contatos com o tal mundo, a partir daquilo que se denominaria, talvez não muito adequadamente de “escola” de letristas como Edson Fernandes Coelho (1947-), Sérgio Pimenta (1954-1987), Jorge Camargo, Jorge Redher (1956-2009), Guilherme Kerr, Nelson Bomílcar, Edilson Botelho, Armando Filho, entre outros – cumpre salientar de passagem, que no momento aqui rememorado, este autor não tinha qualquer informação das atividades desenvolvidas por grande parte dos nomes citados, visto que os meios de informação eram bastante escassos e restritos à literatura especializada, à qual ele não tinha acesso -; de grupos como Vencedores por Cristo (fundado em 1968), Logos (1981), Elo (1974-1981), Som Maior (1976), e mais um outro tanto deles; e, naquele primeiro momento, principalmente o contato era com os trabalhos de intérpretes como Luiz de Carvalho (1925-2015), Feliciano Amaral (1920-2018), Denise Cardoso, Guiomar Victor, Elines, Jorge Araújo, entre tantos outros, que ouvia e, até arriscava cantar.

Neste sentido, uma das primeiras músicas que chamou a sua atenção e se tornou  sempre presente nos seus solfejares e assobiares, foi o hino cantado por Luiz de Carvalho, gravado no Long-play “Alvo Mais que a Neve” e lançado em 1978, cujo título apresentava-se para aquele momento, como se fora uma oração feita com vontade de ver respondida: Se Jesus Voltasse agora. É claro que a vontade ali manifesta e endossada por aquele rapaz novo na fé, tinha um que de receio de sucumbir com o passar do tempo e, talvez para tentar escapar de tal risco, pedisse e esperasse mesmo que “Jesus Voltasse” naquela hora, chamada “agora”.

 

https://youtu.be/m0ovFWzc8Q4

 

Outras duas interpretações de Luiz de Carvalho, gravadas em um disco mais pretérito também faziam parte da construção do novo repertório deste garatujador. Trata-se de  – Tocou-me

 

https://youtu.be/GlESufRuO1Q

 

E, “Quando Jesus Estendeu Sua Mão Para Mim”, inseridos no Long-Play intitulado “Obra Santa”, gravado em 1969.

 

https://youtu.be/QJ4Uo9dXzvI

 

Já se disse em outro arrazoado, que o pastor Jessé, com atitudes simples direcionadas a promover integração e/ou inserção do novo na fé nas atividades da Igreja que pastoreava, fora fundamental para o desenvolvimento deste que agora rememora aqueles dias, na medida em que muitas vezes, como um pastor de ovelhas, dirigiu-se até o fundo do vale e, trouxe aquela ovelha ainda tenra para junto de si, para melhor cuidar e alimentar.

Quiçá assim pensando, um certo dia, talvez já pelo mês de março, ele atribuiu àquele rapaz, a tarefa de “cantar um solo” na manhã do domingo seguinte ao aviso. E mais: indicou como sugestão para o dito solo, uma música um tanto controversa, visto que este garatujador a conhecia em uma interpretação de Altemar Dutra. Nem é preciso dizer que se deu o primeiro de muitos outros nós no cérebro do rapaz. No entanto, o pastor lhe disse que era um hino cantado por Edgar Martins e, dera-lhe o disco para ouvir e extrair a música indicada para o solo, que levara a efeito, acompanhando-se ao violão, errando quase tudo no concernente aos acordes, mas, cumprindo a tarefa de que fora incumbido.

 

https://youtu.be/K7rnEh8QSTc

 

Mais adiante, o pastor Jessé fez outro gesto na direção de envolver aquela sua ovelha tímida e retraída, nas atividades da igreja que liderava. Aos domingos, a Rádio Emissora de Alagoinhas abria espaço para que a Primeira Igreja Batista de Alagoinhas pudesse  difundir o Evangelho para além do seu espaço de culto, na medida em que disponibilizava meia hora de sua programação para aquele fim. Com criatividade e desenvoltura, o pastor Jessé apresentava o programa “boas novas”, utilizando como prefixo musical o hino “Desperta Brasil”, cantado por Luiz de Carvalho, em gravação de 1978. Algum tempo depois, este narrador ouviria aquele hino como abertura do programa “A Voz do Brasil Para Cristo”, transmitido pela rádio Tupi de São Paulo, ouvido pelas ondas curtas, levado ao ar entre dez e meio-dia, apresentado pelo missionário Manuel de Mello (1929-1990).

 

https://youtu.be/Kgu5N4e-Wno

 

Foi assim que, mediante o convite daquele prelado, este escrevente tivera a oportunidade de participar daquele programa, cantando ao violão. Embora conhecesse bem o prédio e os estúdios da emissora através da qual o programa era levado ao ar, neles já tendo estado várias vezes, com vários de seus locutores, fora o apresentador de “Boas Novas” que dera a primeira chance de estar ali como parte efetiva daquela transmissão radiofônica. No entanto, não ficou na sua memória, nenhum vestígio que aponte para a música que foi cantada na ocasião. Porém, há uma memória bem viva de ter cantado em alguma noite de domingo, uma música que ouvira algumas vezes no rádio e conseguira gravar os seus versos e acordes , talvez, dada a simplicidade de sua construção melódica, não obstante a sua profundidade teológica, na medida em que afirmava a ação do Deus Eterno no processo de criação do mundo e tudo que nele há, conforme assevera o ensino  bíblico. Em um magnífico poema, Edson Coelho sintetiza esta profissão de fé e, Telma Coelho interpreta com maestria e talento, uma das músicas de construção filosófica mais profunda e de melodia tão bem harmonizada. O hino se intitula “Maior que tu, não há ninguém”.

 

https://youtu.be/KmYErrPmmz0

 

José Jorge Andrade Damasceno – historiadorbaiano@gmail.com

30 de setembro de 2021.

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