segunda-feira, 11 de maio de 2020

Há quarenta anos: Alagoinhas e eu.

Alagoinhas, idos de 1980: já se passaram quarenta anos.

Em maio de 1980, Alagoinhas, já era contada entre os municípios baianos com população superior a cem mil almas instaladas nos espaços urbanos e nas áreas rurais compreendidas entre as divisas com as cidades de Inhambupe, Aramari, Catu, Teodoro Sampaio e Entre Rios. No tempo aqui analisado, Araçás, Boa União, Riacho da Guia são alguns dos seus distritos.
Embora já houvesse sido uma cidade que alcançara algum desenvolvimento na década de 1950 devido à sua condição de "entreposto ferroviário, cinco meses após se iniciar o ano de 1980, era uma cidade quase paralisada do ponto de vista econômico e pauperizada do ponto de vista social; contava com uma infraestrutura urbana implementada cerca de vinte anos antes, apresentando defasagens notórias, visto ter havido um incremento populacional, embora, não acompanhado de crescimento econômico e de desenvolvimento social, levando uma parte daquela população a deixar a cidade - ainda que temporariamente -, em busca de emprego, estudos e lazer.
Aquela Alagoinhas tinha grande parte dos seus logradouros calçada com paralelepípedos fixados ao solo com areia e cimento; poucas eram as ruas centrais com pavimentação asfáltica: parte da Praça J. J. Seabra, Rua Soror Joana Angélica e parte da Rua Francisco Batista. Sua rede de esgotamento sanitário era diminuta e abarcava pouco mais além do centro comercial, em grande parte direcionada ao leito do rio Catu, sem qualquer tratamento prévio.
Malgrado já contar com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto, grande parte das residências ainda não contava com água tratada, valendo-se de poços, chafarizes, bombas e outras formas de obtenção do "precioso líquido".
Havia pouco mais de dez anos que a cidade possuía um precário serviço de transporte coletivo para atender uma população já numerosa, distribuída em bairros cada vez mais distantes do núcleo central da urbe. O embarque e desembarque de passageiros era feito em um terminal inaugurado em fins dos anos 1960, construído no espaço onde fora o "mercado da carne", demolido e reconstruído um pouco mais abaixo, em um quadrilátero formado pelas ruas Pedro Pondé, Praça da Bandeira e Soror Angélica.
Localizado à Praça Castro Leal, o dito terminal de coletivos era um acanhado retângulo com pavimentação de cimento, coberto com telhas, com sinalização dos espaços em que cada linha deveria estacionar os seus veículos para embarque e desembarque. Em seus espaços centrais, era ocupado por barracas construídas com  diversos tipos de material, nas quais os transeuntes podiam comprar cigarros e vários tipos de doces; também ali mercadejava o folclórico Aminadabe com sua bandeja de "quebra-queixo" e, de acordo com a época do ano, ali ele também oferecia amendoins e aquelas laranjas já descascadas por uma engenhoca de sua invenção/fabricação.
Em maio de 1980, embora já contasse com mais de cem mil pessoas ali residentes, Alagoinhas ainda não contava com uma estação rodoviária onde todo o fluxo de veículos interurbanos, bem como de passageiros saindo da cidade e chegando nela, pudesse se concentrar em um espaço comum, com o fito de propiciar mais conforto para tantos quantos precisassem fazer deslocamentos com segurança e tranquilidade. Do mesmo modo, a cidade ainda não havia sido ligada à rodovia BR101, então em processo de construção. Aquela rodovia federal a ligaria de forma mais rápida e confortável com as cidades de Pedrão, Teodoro Sampaio e Feira de Santana de um lado, bem como às cidades de Entre Rios, Esplanada e Rio Real, que fazia divisa com o estado de Sergipe, de outro. Até então, a cidade só contava com a BR110 como rodovia federal de integração a outras cidades como Catu, Pojuca, Mata de São João, Camaçari, Salvador, além de propiciar acesso aos Estados de Sergipe e Alagoas, passando pelas cidades de Inhambupe, Olindina, Ribeira do Pombal, Paulo Afonso, para ficar apenas nestes exemplos.
Ainda no ano da graça de 1980, a despeito de já contar com os serviços de algumas agências bancárias, inclusive a do Banco do Nordeste do Brasil, instalada em um imponente prédio na esquina da J. J. Seabra com a Rodrigues Lima, o comércio era fundamentado em empreendimentos de caráter pessoal e/ou familiar, cujo predomínio era o daquele desenvolvido pelos "armazéns de sêcos e molhados", lojas de tecidos e "aviamentos", móveis e eletrodomésticos, açougues, padarias, calçados e confecções, conservas e estivas em geral; algumas poucas farmácias - como por exemplo a farmácia de seu "amintas; a farmácia de seu "Machado"; a farmácia "Central". Os supermercados do tipo "pegue-pague", começam a ganhar espaço e importância nas atividades locais.
A feira livre ainda se realizava no mesmo lugar para onde foi transferida compulsoriamente há pouco mais de cem anos: no "largo do Tamarineiro" e no seu entorno, abarcando as ruas Marechal Bitencourt, Francisco Batista e Alcindo de Camargo. Nas sextas e sábados, ela ocupava praticamente toda a parte central da cidade, espraiando-se até a frente do Paço municipal. Trata-se da tradicional "Feira do Pau", que só seria outra vez compulsoriamente transferida dez anos mais tarde.
Nos bairros, regiões quase rurais onde o saneamento e o calçamento das ruas eram pouco presentes, sendo o Mangallô, 2 de julho, Praça Santa Isabel, Partes do Silva Jardim, da Praça Kenedy e de santa Terezinha, alguns exemplos na direção de algum saneamento básico. Em tais espaços de ocupação populacional majoritariamente de assalariados e/ou sub-assalariados, as "vendas" ainda eram os espaços comerciais relevantes para aquela parte da população que não possuía renda suficiente para realizar as suas compras nos "empórios" comerciais do centro da cidade.
É com esta configuração sócio-espacial que, ao amanhecer, o domingo onze de maio encontra a urbe alagoinhense e um dos seus jovens habitantes, aquele que ora escreve estas linhas. Ao chegar à noite daquele mesmo domingo, ele seria arrolado ao rol de membros da Primeira Igreja Batista de Alagoinhas, mediante batismo, realizado pelo Reverendo Jessé da Silva, então seu pastor.
Em santuário lotado pela membresia, parentes e outros convidados, assistiram aquele ato público de "profissão de fé", o que se deu em clima festivo. Embora o tempo estivesse frio e chuvoso, a celebração contou com "hinos inspirativos" como então se dizia, ensejando uma sensação de grande alegria nos participantes daquele culto.
Cabe salientar de passagem, que aquela fora a confissão pública que dera, no sentido de demonstrar haver feito algumas escolhas que resultariam em mudança profunda no seu modo de compreender a vida e perceber o mundo à sua volta; com tal gesto público, como resultado de decisões interiores, ele estava pretendendo dizer aos que viessem a saber daquele mudar de rumos, que buscaria construir uma nova trajetória para a sua vida, baseada em fundamentos cristológicos, ainda que, reconhecesse que não se tornaria um ser perfeito, mas, um homem em processo de constante aperfeiçoamento.

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