Escrever:
As palavras teimam em não se deixar gravar no texto. Mas,
sem palavras não há texto.
Então, não são as palavras que não se deixam gravar, mas
sim, as ideias que insistem em não se deixar formular. Desta forma, como
poderei escrever se: as palavras não se deixam gravar, nem as idéias se deixam
formular?
Bom, então, vamos ver. Em outro escrito, apontei que a
pandemia/crise sanitária que agora grassa sobre o mundo do século XXI é uma
espécie de reedição de pragas havidas em outras plagas que, ao que parece, se
faz sentir periodicamente de tempos em tempos e, sua incidência sobre os
humanos, vez por outra é bastante impetuosamente letal. A Europa do século XIII
sofreu uma abrupta queda demográfica, dentre outras razões, por ter sido
duramente atingida por uma praga extremamente mortífera, ao ponto de várias
regiões ficarem com um certo déficite de “almas”.
Ainda que apenas de raspão, indiquei que a “conquista” e a
“ocupação/exploração” do “novo mundo” teve como um de seus mais trágicos lances,
o ingresso de vírus e bactérias já inóquas aos europeus ocidentais paladinos de
tais “conquistas”, tendo se mostrado assaz mortíferas para as populações nativas
do continente invadido e devastado, não só pelos pés e mãos dos homens ávidos
por metais e prestígio, mas e sobretudo, por vírus, bactérias e seus vetores,
implacáveis para com organismos humanos sem qualquer imunidade para os combater.
Inteiramente povoadas quando chegam os europeus ocidentais,
as terras posteriormente denominadas “América”, compreendia uma grande
variedade de formações econômicas e sociais, com lapsos de complexidade
política e diversidade cultural. À medida em que os “invasores” adentravam nos seus
profundos vales, percorriam as suas extensas planícies, venciam as alturas das
suas montanhas, navegavam os seus caudalosos rios, encontravam grupos
populacionais diversos e, lhes impunham suas línguas; incutiam-lhes as suas crenças
e formas de pensar; introduziam novos hábitos alimentares, novos costumes
indumentários e os submetiam a formas de organização social que eram estranhas
ao viver cotidiano daquele grupos heterogêneos de povos; e,principalmente, os
forasteiros disseminavam doenças que aos seus corpos se tornaram inofensivas.
Para os habitantes do “novo mundo”, o contato com patogênicos
desconhecidos pelo seu sistema imunológico, em razão de estar apartado por
alguns milênios de tempo e outros milhares de quilômetros de distância do
contato com uma parte dos outros humanos e não-humanos que viviam nas margens
opostas dos oceanos, acarretou em um flagelo especialmente letal.
A falta de anticorpos no sistema imunológico da população
ameríndia levou a produzir alguns milhões
de vítimas fatais, motivadas por diversas novas doenças, desde
“gripezinhas”, passando por sarampos, desinterias e as tão temidas varíolas , fazendo com que houvesse uma
fenomenal queda demográfica em todo o continente, no transcurso de um século e
meio, aproximadamente.
Tratando os nativos como se fossem “subhumanos” ou “pouco
mais do que bichos”, os invasores possuíram as suas mulheres, se apropriaram de
suas terras, expropriaram sua força de
trabalho, moeram os seus corpos, exauriram o seu solo e, de quebra, promoveram
uma brutal queda demográfica em todo o continente, cuja população era estimada
em 25 milhões quando da chegada dos primeiros europeus no final do século XV,
tendo havido uma redução de cerca de pelo menos dois terços, nos meados do
século XVII.
Aquela avalanche de epidemias foi exponencialmente letal
para os nativos da terra, não só pela inexistência de conhecimento prévio de
sua existência/incidência, mas também pela absoluta falta de toda ordem de
recursos que pudessem ser utilizados para o combate a tais doenças.
Tudo o que se disse aqui, não se configura como novidade para
a história, muito menos, são fenômenos desconhecidos de pessoas e/ou instituições
que se dedicam à pesquisa nos diversos campos das ciências sociais/humanas ou
das ciências médicas. Há um grande número de obras de valiosa qualidade
histórico-científica espalhada pela rede mudial de computadores, que poderá ser
visitada por quem tiver interesse em apreender sobre o tema, bastando pesquisar
nos diversos buscadores disponíveis, usando por exemplo a expressão “doenças
nativas do Novo Mundo”. Apesar de ter feito a busca nestes termos, o que mais
apareceu foi exatamente este processo de importação viral/bacteriana promovida
pelos homens, ideias e mercadorias quecruzaram o Oceano Atlântico no sentido
leste oeste, embora também tenham levado de volta algumas outras que por aqui
encontraram, para fazer um grande número de vítimas no Velho continente, mas,
sem o grau de mortalidade que marcou as que de lá foram transportadas.
Professor Jorge
Damasceno.
Sugestão: Quero a parte três dessa história, com as suaves palavras sobre um tema tão duro como só vc sabe escrever.
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