domingo, 10 de maio de 2020

Com vontade de escrever - II: mas ... e as palavras? E as idéias? Onde estão? Como as achar?


                Escrever:
As palavras teimam em não se deixar gravar no texto. Mas, sem palavras não há texto.
Então, não são as palavras que não se deixam gravar, mas sim, as ideias que insistem em não se deixar formular. Desta forma, como poderei escrever se: as palavras não se deixam gravar, nem as idéias se deixam formular?
Bom, então, vamos ver. Em outro escrito, apontei que a pandemia/crise sanitária que agora grassa sobre o mundo do século XXI é uma espécie de reedição de pragas havidas em outras plagas que, ao que parece, se faz sentir periodicamente de tempos em tempos e, sua incidência sobre os humanos, vez por outra é bastante impetuosamente letal. A Europa do século XIII sofreu uma abrupta queda demográfica, dentre outras razões, por ter sido duramente atingida por uma praga extremamente mortífera, ao ponto de várias regiões ficarem com um certo déficite de “almas”.
Ainda que apenas de raspão, indiquei que a “conquista” e a “ocupação/exploração” do “novo mundo” teve como um de seus mais trágicos lances, o ingresso de vírus e bactérias já inóquas aos europeus ocidentais paladinos de tais “conquistas”, tendo se mostrado assaz mortíferas para as populações nativas do continente invadido e devastado, não só pelos pés e mãos dos homens ávidos por metais e prestígio, mas e sobretudo, por vírus, bactérias e seus vetores, implacáveis para com organismos humanos sem qualquer imunidade para os combater.
Inteiramente povoadas quando chegam os europeus ocidentais, as terras posteriormente denominadas “América”, compreendia uma grande variedade de formações econômicas e sociais, com lapsos de complexidade política e diversidade cultural. À medida em que os “invasores” adentravam nos seus profundos vales, percorriam as suas extensas planícies, venciam as alturas das suas montanhas, navegavam os seus caudalosos rios, encontravam grupos populacionais diversos e, lhes impunham suas línguas; incutiam-lhes as suas crenças e formas de pensar; introduziam novos hábitos alimentares, novos costumes indumentários e os submetiam a formas de organização social que eram estranhas ao viver cotidiano daquele grupos heterogêneos de povos; e,principalmente, os forasteiros disseminavam doenças que aos seus corpos se tornaram inofensivas.
Para os habitantes do “novo mundo”, o contato com patogênicos desconhecidos pelo seu sistema imunológico, em razão de estar apartado por alguns milênios de tempo e outros milhares de quilômetros de distância do contato com uma parte dos outros humanos e não-humanos que viviam nas margens opostas dos oceanos, acarretou em um flagelo especialmente letal.
A falta de anticorpos no sistema imunológico da população ameríndia levou a produzir alguns milhões  de vítimas fatais, motivadas por diversas novas doenças, desde “gripezinhas”, passando por sarampos, desinterias e as tão temidas varíolas               , fazendo com que houvesse uma fenomenal queda demográfica em todo o continente, no transcurso de um século e meio, aproximadamente.
Tratando os nativos como se fossem “subhumanos” ou “pouco mais do que bichos”, os invasores possuíram as suas mulheres, se apropriaram de suas terras, expropriaram  sua força de trabalho, moeram os seus corpos, exauriram o seu solo e, de quebra, promoveram uma brutal queda demográfica em todo o continente, cuja população era estimada em 25 milhões quando da chegada dos primeiros europeus no final do século XV, tendo havido uma redução de cerca de pelo menos dois terços, nos meados do século XVII.                                             
Aquela avalanche de epidemias foi exponencialmente letal para os nativos da terra, não só pela inexistência de conhecimento prévio de sua existência/incidência, mas também pela absoluta falta de toda ordem de recursos que pudessem ser utilizados para o combate a tais doenças.
Tudo o que se disse aqui, não se configura como novidade para a história, muito menos, são fenômenos desconhecidos de pessoas e/ou instituições que se dedicam à pesquisa nos diversos campos das ciências sociais/humanas ou das ciências médicas. Há um grande número de obras de valiosa qualidade histórico-científica espalhada pela rede mudial de computadores, que poderá ser visitada por quem tiver interesse em apreender sobre o tema, bastando pesquisar nos diversos buscadores disponíveis, usando por exemplo a expressão “doenças nativas do Novo Mundo”. Apesar de ter feito a busca nestes termos, o que mais apareceu foi exatamente este processo de importação viral/bacteriana promovida pelos homens, ideias e mercadorias quecruzaram o Oceano Atlântico no sentido leste oeste, embora também tenham levado de volta algumas outras que por aqui encontraram, para fazer um grande número de vítimas no Velho continente, mas, sem o grau de mortalidade que marcou as que de lá foram transportadas.
Professor  Jorge Damasceno.

Um comentário:

  1. Sugestão: Quero a parte três dessa história, com as suaves palavras sobre um tema tão duro como só vc sabe escrever.

    ResponderExcluir

Comente; quero saber o que você pensa!