quarta-feira, 20 de maio de 2020

Dez anos depois da morte de José Saramago: eu detesto "O ensaio sobre a cegueira".

O ifame "ensaio sobre a cegueira": obra que só reforça idéias contra as quais tanto nos debatemos.

 Agora há pouco, uma colega dona de uma brilhante construção textual, fez uma postagem nas redes sociais, apontando ser um erro considerar "cegos" os apoiadores do atual presidente, da sua política e/ou de suas atitudes frente aos graves problemas do país, indicando que tal postulação só reforça os preconceitos que marcam a vida de homens e mulheres efetivamente desprovidos do sentido da visão, total ou parcialmente. Eu não quis comentar diretamente naquela  postagem, pois poderia causar algum constrangimento. Achei muito pertinente aquele "modus esperniandi" sobre o uso do termo "cego" para ignorante, alienado ... dentre outros.]
Mas, eu queria chamar a atenção para um detalhe, que para mim é bastante relevante. Quando a dita obra foi lançada e possibilitada a sua leitura, grande parte dos cegos que tomaram contato com aquelas suas mais de trezentas páginas,acharam o infame "Ensaio sobre a cegueira", a última maravilha literária/artística da humanidade.
E aquela obra infame mostrava a cegueira exatamente neste viés: o acometido de cegueira é um alienado, arracional, que precisa de alguém que lhe diga o que é certo e o que é errado e, ainda assim, o tal não escolherá corretamente: necessitará sempre ser tutelado por alguém que veja - daí ter ficado alguém que não cegou no tal "estranho surto".
A chave desta minha interpretação está em uma entrevista que o próprio autor concedeu ao periódico "Expresso" revista editada em Lisboa, Portugal, publicado quase imediatamente após ao Nobel de Literatura que lhe foi outorgado. Assinada pela jornalista CLARA FERREIRA ALVES, , a dita entrevista circulou sob o título «José Saramago todos os pecados do mundo», Expresso, a revista, n.o 1200, 28 de Outubro de 1995, pp. 80-86.
Talvez alguns dos que lêem estas linhas, também tenha lido a referida entrevista; eu a li em transcrição em Braille, saída na revista tiflológica portuense "Poliedro, N.o 412, novembro de 1995", antes mesmo de ler aquela belíssima porcaria, no sentido de que ela só faz reforçar tudo aquilo que a mencionada colega, acertadamente, criticou agora há pouco na aludida postagem e, contra o quê nos debatemos cada dia da nossa existência.
Basta ao leitor destas linhas observar as considerações que Saramago faz a respeito daqueles cegos que foram levados para o tal isolamento, mas que não eram cegos por conta do tal surto imaginado por ele.
O autor, em certa altura da entrevista no ebdomadário lisboeta, disse que ao escrever aquela obra, estava pensando no nazismo e em tudo de irracional que ele representou; na insanidade que foi a guerra provocada por Hitler e os seus seguidores "cegos" pela irracionalidade que eram as idéias e atitudes do Fürer...
E, para este que escrevinha este palavreado, o livro que, talvez pretendesse corrigir o abuso metafórico desenvolvido por Saramago, o seu "ensaio sobre a lucidez", tornou a emenda pior do que o soneto. Mas, esta já é uma outra consideração a se fazer.
Professor Jorge Damasceno

Um comentário:

  1. Bela rebatida! Ou bola devolvida? Não sei ao certo, mas pode ser o trôco.
    Esses tipos de alusões demoram de MORRER.

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