HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UNS TEMPOS VIVIDOS EM SALVADOR – X -
“AS 14 MAIS” ouvidas, cantadas e solfejadas no Instituto em 1976!
O ano da Graça de 1976, embora efervescente no que tange à política
e à economia do País e do mundo, salvo os relatos feitos em crônicas
anteriores, deixaram poucas marcas na memória deste escrevedor. É interessante
que, dia destes, enquanto refletia sobre o que escrever nos próximos arroubos cronísticos,
concluiu-se que, de certo modo, houve um esquecimento, por exemplo, de coisas
que teriam se passado entre 13 de dezembro do ano anterior, quando se consumara
a obrigatória “Primeira Comunhão” – primeira e última, saliente-se – e a
primeira semana de março subsequente, quando retornara ao “manicômio” dos cegos
baianos, para mais um ano letivo.
Talvez, mais adiante, através de algum desencadeador de “lembranças”,
quem sabe por meio do paladar, ou de algum cheiro, de alguma conversa despretensiosa
e, até mesmo por meio de alguma música – conforme as premissas esboçadas por
Marcel Proust (1871-1922), na sua obra “Em busca do tempo perdido” -, este
escrevente possa trazer à tona algum fragmento daqueles dias vividos na plena
liberdade de ir e vir, que só as férias escolares lhe proporcionava. No momento
em que estas linhas são escritas, apenas a vaga lembrança de que só voltara para casa na segunda feira, dia 15,
pois, no sábado o “Pirulito” saía mais cedo de Salvador e, seria pela manhã, antes
da cerimônia religiosa imposta ao interno do Instituto, que se realizara à
tarde; crê-se que no domingo aquele trem não circulasse; dona Manda não possuía
dinheiro para trazer o filho de ônibus. Assim, só o poderia ir buscar,
portanto, na segunda feira.
Sabia-se da crise do petróleo e de algumas de suas
consequências, por meio da revista Relevo, publicação da então Fundação para o
Livro do Cego no Brasil. Tal crise, atingira diretamente os cegos, através daquilo
que se denominara “Crise do papel”, que encarecera de tal modo, que prejudicou
grandemente a produção de obras em Braile; igualmente se fez sentir junto aos
alunos do instituto, que passou a conviver com um certo racionamento de papel Braile,
só podendo levar para a escola, no máximo seis folhas – o que era praticamente o
uso de uma folha por aula, insuficiente para um acompanhamento escolar adequado.
Até mesmo a produção da mencionada revista Relevo, fora
atingida pela crise, levando a uma paulatina diminuição de sua circulação, até
por fim ser extinta das já pouquíssimas opções de leitura que os cegos
dispunham. No bojo daquela mesma crise, veio a redução do volume de impressão
e/ou distribuição de livros em Braille, o que, vale ressaltar de passagem,
reduziu ainda mais o contato com o texto escrito, o que prejudicou
sensivelmente a percepção ortográfica por parte daqueles que só dispunham do
texto em Braille para a sua formação educativo-cultural.
Mas, o rádio continuava a ser de fato o formador cultural,
educativo e o principal veículo difusor de informação e promotor de entretenimento
para os cegos e, sobretudo, para os que se achavam confinados entre as paredes
do Instituto. Naquele período, um radialista dos diários Associados, Milton
Moura Costa, passou a sustentar uma campanha em seu programa “Levante a cabeça’,
no sentido de incentivar doações de rádios aos cegos. Para tanto, ele repetia exaustivamente
um bordão que dizia: “Dê um rádio ao cego. O cego vê o mundo, através do
rádio. Foi assim que o Instituto recebeu
uma quantidade nunca informada de rádios para distribuir entre os seus
internos. Eram rádios muito pequenos, que cabiam na palma da mão, que
funcionava com uma pilha. Vários dos meninos, principalmente as meninas, que
receberam o tal receptor.
E, como não poderia deixar de ser, o esporte, a notícia e a
música, eram parte inerente ao modo cego de se ouvir rádio. Também eram ouvidos
programas como “A sociedade contra o crime”, novelas como a irradiada pela Excelsior
“O último Apóstolo” e, aos sábados a tarde, alguns gostavam de ouvir um
programa de grande audiência, inicialmente transmitido pela Rádio Tupi do Rio
de Janeiro e, depois, retransmitido pelas demais emissoras dos Diários
Associados: “Eu acredito no incrível!”
Assim, como já fora no ano anterior, algumas músicas se
destacaram no gosto dos internos do Instituto, algumas delas sendo ouvidas por
muitos e, por vezes, todos ao mesmo tempo, cada um em seus rádios e/ou acotovelados
em torno de um único ou mais rádios que estivessem sintonizados no momento de
sua execução.
Conforme foi dito no arrazoado anterior, embora aqui não se
pretenda construir uma lista exaustiva das músicas que eram tocadas no rádio
naquele ano, ouvidas, cantadas, ou apenas solfejadas pelos internos do
Instituto, o que se pretende é destacar as quatorze mais executadas dentre elas,
selecionadas por este escrevedor, cujo critério se concentra no fato de que a
sua audição, no momento em que se preparava para redigir estes escritos, fizesse
emergir da memória do seu autor, alguma lembrança do momento que fora interno
naquele estabelecimento, nos sete meses do segundo ano que lá permanecera.
Música 1 - Eric Carmen - All by Myself
Música 2 - MEU MUNDO E NADA MAIS - GUILHERME ARANTES -
Música 3 - NUVEM PASSAGEIRA - HERMES AQUINO –
A música que se segue, não é necessariamente lançada em
1976. No entanto, por fazer parte da trilha sonora da novela “Anjo Mau”, acabou
por ser bastante tocada. Aliás, as trilhas sonoras de novelas globais, passavam
a prevalecer como parâmetros de “sucesso”, no que tange a determinar qual seria
a preferência musical dos ouvintes. Tanto que, algumas canções e seus intérpretes,
apareciam e desapareciam, conforme as novelas se sucediam.
Música 4 JOSÉ AUGUSTO - QUEM NEGA LUZ NA SOMBRA VAI MORRER
Esta música foi uma das mais ouvidas entre os internos do
Instituto, talvez por conta do apelo melodramático nela contido. Alguns anos
mais tarde, este escrevente teve contado com as versões em italiano e em
francês, que originaram a versão em português tocada no brasil. No início dos
anos dois mil, ela foi parodiada pelo humorista baiano Renato Fechine (
1968-2021), que durante alguns meses ocupou os primeiros lugares em execução,
na categoria Aché.
Música 5-a - versão em português: MÁRCIO JOSÉ . O TELEFONE
CHORA 1975
Música 5-b - versão em italiano: Piange... il telefono -
Domenico Modugno e Francesca Guadagno -
Música 5-c - versão em francês: claude françois le telephone
pleur
A lembrança que este escrevente tem desta música é mais tardia. Ela remonta ao processo de abertura da Tv Aratu.
Música 6 - Caso você case, Marília Barbosa.
Esta, do mesmo modo que no ano anterior,
era reverberada pelo rádio vansat de um dos internos – aliás, o melhor receptor
de todos os demais possuídos por lá -, que logo era seguido por todos quantos
gostavam dela – que não eram muitos; só os mais velhos, tirados a modernos!
Música 7 - Nazareth - Love Hurts -
Desta já se falou em arrazoados pretéritos, aqui mesmo,
neste espaço.
Música 8 - Pussycat - Mississippi
desta, este narrador só lembra um pouco mais tarde. Talvez,
ela tenha sido lançada nos instantes turbulentos que resultaram na sua
devolução para a liberdade!
Música 9 - Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás – raúl Seixas
com esta e outras músicas do tipo, começava a se esboçar a
era da “discotec”.
Música 10 - TINA CHARLES - DANCE LITTLE LADY (1976)
Música 11 - I Love To Love by Tina Charles
As meninas do “Abba” começavam a tocar no Brasil; esta
música ganha uma versão de Perla, que este escrevedor de-tes-ta!
Música 12 - ABBA Fernando
Música 13 - ABBA - I Do, I Do, I Do, I Do, I Do
Música 14 - Patrick, Amor Mío
https://youtu.be/NhJRKUCsp50https://youtu.be/NhJRKUCsp50
Professor José Jorge Andrade Damasceno – 18 de agosto de
2021.
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