quarta-feira, 18 de agosto de 2021

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UNS TEMPOS VIVIDOS EM SALVADOR – X - “AS 14 MAIS” ouvidas, cantadas e solfejadas no Instituto em 1976!

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UNS TEMPOS VIVIDOS EM SALVADOR – X - “AS 14 MAIS” ouvidas, cantadas e solfejadas no Instituto em 1976!

 

O ano da Graça de 1976, embora efervescente no que tange à política e à economia do País e do mundo, salvo os relatos feitos em crônicas anteriores, deixaram poucas marcas na memória deste escrevedor. É interessante que, dia destes, enquanto refletia sobre o que escrever nos próximos arroubos cronísticos, concluiu-se que, de certo modo, houve um esquecimento, por exemplo, de coisas que teriam se passado entre 13 de dezembro do ano anterior, quando se consumara a obrigatória “Primeira Comunhão” – primeira e última, saliente-se – e a primeira semana de março subsequente, quando retornara ao “manicômio” dos cegos baianos, para mais um ano letivo.

Talvez, mais adiante, através de algum desencadeador de “lembranças”, quem sabe por meio do paladar, ou de algum cheiro, de alguma conversa despretensiosa e, até mesmo por meio de alguma música – conforme as premissas esboçadas por Marcel Proust (1871-1922), na sua obra “Em busca do tempo perdido” -, este escrevente possa trazer à tona algum fragmento daqueles dias vividos na plena liberdade de ir e vir, que só as férias escolares lhe proporcionava. No momento em que estas linhas são escritas, apenas a vaga lembrança de que só  voltara para casa na segunda feira, dia 15, pois, no sábado o “Pirulito” saía mais cedo de Salvador e, seria pela manhã, antes da cerimônia religiosa imposta ao interno do Instituto, que se realizara à tarde; crê-se que no domingo aquele trem não circulasse; dona Manda não possuía dinheiro para trazer o filho de ônibus. Assim, só o poderia ir buscar, portanto, na segunda feira.

Sabia-se da crise do petróleo e de algumas de suas consequências, por meio da revista Relevo, publicação da então Fundação para o Livro do Cego no Brasil. Tal crise, atingira diretamente os cegos, através daquilo que se denominara “Crise do papel”, que encarecera de tal modo, que prejudicou grandemente a produção de obras em Braile; igualmente se fez sentir junto aos alunos do instituto, que passou a conviver com um certo racionamento de papel Braile, só podendo levar para a escola, no máximo seis folhas – o que era praticamente o uso de uma folha por aula, insuficiente para um acompanhamento escolar adequado.

Até mesmo a produção da mencionada revista Relevo, fora atingida pela crise, levando a uma paulatina diminuição de sua circulação, até por fim ser extinta das já pouquíssimas opções de leitura que os cegos dispunham. No bojo daquela mesma crise, veio a redução do volume de impressão e/ou distribuição de livros em Braille, o que, vale ressaltar de passagem, reduziu ainda mais o contato com o texto escrito, o que prejudicou sensivelmente a percepção ortográfica por parte daqueles que só dispunham do texto em Braille para a sua formação educativo-cultural.

Mas, o rádio continuava a ser de fato o formador cultural, educativo e o principal veículo difusor de informação e promotor de entretenimento para os cegos e, sobretudo, para os que se achavam confinados entre as paredes do Instituto. Naquele período, um radialista dos diários Associados, Milton Moura Costa, passou a sustentar uma campanha em seu programa “Levante a cabeça’, no sentido de incentivar doações de rádios aos cegos. Para tanto, ele repetia exaustivamente um bordão que dizia: “Dê um rádio ao cego. O cego vê o mundo, através do rádio.  Foi assim que o Instituto recebeu uma quantidade nunca informada de rádios para distribuir entre os seus internos. Eram rádios muito pequenos, que cabiam na palma da mão, que funcionava com uma pilha. Vários dos meninos, principalmente as meninas, que receberam o tal receptor.

E, como não poderia deixar de ser, o esporte, a notícia e a música, eram parte inerente ao modo cego de se ouvir rádio. Também eram ouvidos programas como “A sociedade contra o crime”, novelas como a irradiada pela Excelsior “O último Apóstolo” e, aos sábados a tarde, alguns gostavam de ouvir um programa de grande audiência, inicialmente transmitido pela Rádio Tupi do Rio de Janeiro e, depois, retransmitido pelas demais emissoras dos Diários Associados: “Eu acredito no incrível!”

Assim, como já fora no ano anterior, algumas músicas se destacaram no gosto dos internos do Instituto, algumas delas sendo ouvidas por muitos e, por vezes, todos ao mesmo tempo, cada um em seus rádios e/ou acotovelados em torno de um único ou mais rádios que estivessem sintonizados no momento de sua execução.

Conforme foi dito no arrazoado anterior, embora aqui não se pretenda construir uma lista exaustiva das músicas que eram tocadas no rádio naquele ano, ouvidas, cantadas, ou apenas solfejadas pelos internos do Instituto, o que se pretende é destacar as quatorze mais executadas dentre elas, selecionadas por este escrevedor, cujo critério se concentra no fato de que a sua audição, no momento em que se preparava para redigir estes escritos, fizesse emergir da memória do seu autor, alguma lembrança do momento que fora interno naquele estabelecimento, nos sete meses do  segundo ano que lá permanecera.

 

Música 1 - Eric Carmen - All by Myself

 

https://youtu.be/iN9CjAfo5n0

 

Música 2 - MEU MUNDO E NADA MAIS - GUILHERME ARANTES -

 

https://youtu.be/LbsGxZc1ic4

Música 3 - NUVEM PASSAGEIRA - HERMES AQUINO –

 

https://youtu.be/D6pI1rx8NIs

 

A música que se segue, não é necessariamente lançada em 1976. No entanto, por fazer parte da trilha sonora da novela “Anjo Mau”, acabou por ser bastante tocada. Aliás, as trilhas sonoras de novelas globais, passavam a prevalecer como parâmetros de “sucesso”, no que tange a determinar qual seria a preferência musical dos ouvintes. Tanto que, algumas canções e seus intérpretes, apareciam e desapareciam, conforme as novelas se sucediam.

Música 4 JOSÉ AUGUSTO - QUEM NEGA LUZ NA SOMBRA VAI MORRER

 

https://youtu.be/XXSB6LjQkBE

 

Esta música foi uma das mais ouvidas entre os internos do Instituto, talvez por conta do apelo melodramático nela contido. Alguns anos mais tarde, este escrevente teve contado com as versões em italiano e em francês, que originaram a versão em português tocada no brasil. No início dos anos dois mil, ela foi parodiada pelo humorista baiano Renato Fechine ( 1968-2021), que durante alguns meses ocupou os primeiros lugares em execução, na categoria Aché.

Música 5-a - versão em português: MÁRCIO JOSÉ . O TELEFONE CHORA 1975

 

https://youtu.be/PsVPoO7jdfI

 

Música 5-b - versão em italiano: Piange... il telefono - Domenico Modugno e Francesca Guadagno -

 

https://youtu.be/Wa81ioLc9KE

 

Música 5-c - versão em francês: claude françois le telephone pleur

 

https://youtu.be/IQzI4BQgAV0

 

A lembrança que este escrevente tem desta música é mais tardia. Ela remonta ao processo de abertura da Tv Aratu.

Música 6 - Caso você case, Marília Barbosa.

 

https://youtu.be/2BsCwGTvoDk

 

Esta, do mesmo modo que no ano anterior, era reverberada pelo rádio vansat de um dos internos – aliás, o melhor receptor de todos os demais possuídos por lá -, que logo era seguido por todos quantos gostavam dela – que não eram muitos; só os mais velhos, tirados a modernos!

Música 7 - Nazareth - Love Hurts -

 

https://youtu.be/yCrDjhM0kVI

 

Desta já se falou em arrazoados pretéritos, aqui mesmo, neste espaço.

Música 8 - Pussycat - Mississippi

 

https://youtu.be/rUR8y8TAyJg

 

desta, este narrador só lembra um pouco mais tarde. Talvez, ela tenha sido lançada nos instantes turbulentos que resultaram na sua devolução para a liberdade!

Música 9 - Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás – raúl Seixas

 

https://youtu.be/fHwCCffKKmk

 

com esta e outras músicas do tipo, começava a se esboçar a era da “discotec”.

Música 10 - TINA CHARLES - DANCE LITTLE LADY (1976)

 

https://youtu.be/8RM1DBxn0u4

 

Música 11 - I Love To Love by Tina Charles

 

https://youtu.be/WzOoANY4PgA

As meninas do “Abba” começavam a tocar no Brasil; esta música ganha uma versão de Perla, que este escrevedor de-tes-ta!

Música 12 - ABBA Fernando

 

https://youtu.be/ygRqSvJrmiM

 

Música 13 - ABBA - I Do, I Do, I Do, I Do, I Do

 

https://youtu.be/oVcR_1VPlHY

 

Música 14 - Patrick, Amor Mío

 

https://youtu.be/NhJRKUCsp50https://youtu.be/NhJRKUCsp50

 

Professor José Jorge Andrade Damasceno – 18 de agosto de 2021.


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