HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UM TEMPO VIVIDO EM SALVADOR – IX- “AS 14 MAIS” TOCADAS NO RÁDIO - ouvidas, cantadas e solfejadas
PELOS INTERNOS DO Instituto em 1975!
Já se disse aqui e/ou alhures, que para grande parte das
pessoas cegas, o rádio funcionara como um psicólogo, psiquiatra, terapeuta e
analista. Por meio dele, era possível encontrar lenitivo para os seus momentos
de tensão, de tristeza e de saudades de casa; bem como igualmente era o promotor
de suas alegrias, o difusor do conhecimento e distribuidor de notícias, das
emoções do futebol, bem como era o veículo que levava aos seus ouvintes, fragmentos
de saberes, os mais diversos. Sobretudo, era por meio do rádio que lhe era
permitido entrar em contato com a grande variedade de estilos musicais que nas
décadas de sessenta e setenta se tornava cada vez mais ampla.
Embora os internos do Instituto contassem com assistência
psicológica e social – apesar de muitos deles desconfiarem das pessoas
encarregadas pelo exercício daquelas atividades
-; a despeito de terem assistência religiosa – afinal, contava-se com uma
capela de frequência obrigatória e com um Padre que “dizia missas” regularmente
aos domingos, cuja assistência por parte dos internos, era igualmente
obrigatória -, o rádio era o que de fato desempenhava o papel de “agente” terapêutico
naqueles indivíduos de origens socioculturais e de desenvolvimento escolar tão
diversas, quanto eram diversos os seus temperamentos, os seus níveis de
maturidade e os seus estágios de sanidade mental
Na cidade de Salvador e em seu entorno, o espectro dos receptores
de rádio de então, em “Amplitude Modulada (AM)” – ainda em processo de
transição e, a “frequência Modulada (FM) ainda em processo de implantação -, em
março daquele ano, contava com cinco emissoras: Rádio Cruzeiro da Bahia; rádio
Sociedade da Bahia; rádio Excelsior da Bahia; Rádio Bahia; e, Rádio Cultura da
Bahia; todas elas tendo algumas décadas de implantação e funcionamento, sendo a
Sociedade da Bahia a mais antiga delas, à época, uma das afiliadas dos já
decadentes “Diários Associados” de Assis Chateaubriand (1892-1968), e, que
transmitia a sua programação desde os distantes idos de 1924.
No entanto, o segundo semestre se inicia, marcado pela fundação
da Rádio Clube de Salvador, por iniciativa do radialista Antônio França Teixeira
(1944-2013), em sociedade com vários de seus amigos e anunciantes. Impulsionada
pela novidade e pela ousadia do empreendimento, aquela nova emissora despertou
a curiosidade e, logo ganhou a simpatia de muitos, sobretudo, dos internos do
Instituto de cegos, ouvintes de rádio “par excelence”, como não poderia deixar
de sê-lo.
A audição radiofônica daquele grupo social era “uniformemente”
diversificada – como por certo o era nos demais grupos que conformavam a
sociedade soteropolitana -, que se manifestava desde as assistências aos
programas musicais, passando pelas resenhas e transmissões esportivas,, tendo
lugar também a audição de programas jornalísticos, religiosos – que à época ainda
eram poucos -, sensacionalismos e, até mesmo, havia lugar para “A voz Do Brasil” e o “projeto Minerva” – este último,
enfrentava a dificuldade imposta pelo fato de sua apresentação se dar no mesmo
horário em que os internos já deveriam estar “no silêncio” (a partir das vinte horas,
impreterivelmente).
As resenhas e as transmissões esportivas dominicais, eram
ouvidas simultaneamente por quase todos os internos, exceto aqueles poucos que
não gostavam de futebol. Mas, A música era, sem sombra de dúvidas, o grande vetor
que elevava os níveis de audiência radiofônica entre os internos, atraindo,
agradando, apurando os gostos, as preferências e até mesmo, provocando os
debates entre eles, sobretudo, quando se discutia o fato de uma determinada canção ou um
determinado intérprete, estar colocada em tal ou qual posição, naquilo que os
locutores denominavam “Grande parada musical”, segundo critérios pouco claros, que
se trataria de um indicativo do gosto popular.
Embora aqui não se pretenda construir uma lista exaustiva
das músicas que eram tocadas no rádio naquele ano, ouvidas, cantadas, ou apenas
solfejadas pelos internos do Instituto, o que se pretende é destacar as quatorze
mais executadas dentre elas, selecionadas por este escrevedor, cujo critério se
concentra no fato de que a sua audição, no momento em que se preparava para
redigir estes escritos, fizesse emergir da memória do seu autor, alguma
lembrança do momento que fora interno naquele estabelecimento, no primeiro ano
que lá permanecera.
Convém salientar de passagem que, uma das partes do título
deste arrazoado, é uma alusão ao título de uma coleção de catorze músicas de maior
sucesso, reunidas em um só disco, que alcançara grande êxito de vendas à época – “AS 14 Mais”, da prestigiada gravadora
CBS, lançada no início de 1960, que em 1975, já se encontrava no vigésimo
oitavo volume e, cuja última edição fora lançada em 1979, o volume 29.
A primeira daquelas músicas, embora gravada em 1974, remete
este garatujador ao momento da sua chegada ali, quando conseguia solfejar e até
mesmo cantar a parte introdutória da música, que os leitores perceberão que
exige um certo fôlego daquele que a quer “interpretar”.
Música 1: 'SUGAR BABY LOVE' by THE RUBETTES
Música 2 - Carl Douglas Kung Fu Fighting
Música 3 - Happy Man –
Música 4 - We Said Goodbye - Dave Maclean
Música 5 - George Baker Selection Una Paloma Blanca
Música 6 - Homo Sapiens Tornerai Tornerò
Música 7 - Stand by me - The Sound of John Lennon
A música que se segue, era ouvida com grande emoção por
quase todos. Quando o primeiro ouvia, todos corriam para sintonizar na mesma
rádio que a tocava, ecoando e reverberando pelo espaço de recreação no qual os
internos se encontrassem. Este garatujador nunca esqueceu daqueles momentos, embora
já se tenham passado mais de 45 anos e, há bastante tempo, não mais a tenha
ouvido.
Música 8 - A Little Love and Understanding Little Adrian
Outra versão dela também fora muito executada, na voz de um
adulto – que se acreditava ser o pai do menino -, mas não despertava, pelo
menos entre os internos, a mesma comoção que a provocada pela interpretação
infantil. Ressalte-se que, quase nenhum dos internos que a apreciava,
efetivamente sabia o que dizia aquela letra, a mensagem que pretendia passar
àqueles que tão emocionadamente a ouviam.
Gilbert Becaud - A Little Love and Understanding
A próxima, também reverberava pelos espaços recreativos, mas
os que a apreciavam já eram garotos com mais de quatorze anos; um dos seus
principais ouvintes, presenteava a todos a partir do seu possante rádio Vansat.
Mas, grande parte a possuía em fitas cassete e, claro, a ouvia nos gravadores
que eram fornecidos para as leituras – então iniciadas por meio de gravações de
livros.
Música 9 - Carpenters Please Mr. Postman
Outra que era reverberada pelo mesmo dono do rádio Vansat;
que também fazia parte do repertório das fitas cassete. Aliás, esta era cantada
como forma de demonstração daquela rebeldia adolescente.
Música 10 - Ovelha Negra Rita Lee
Música 11 - Tornerò I Santo Califórnia
Música 12: The Hollies - Don't Let Me Down
Música 13: The Hollies - I'm Down
Mais uma que era ouvida inicialmente pelo som do Vansat e,
que depois os outros rádios eram sintonizados; também era parte do repertório
das fitas cassete.
Música 14: Ângela Maria - Tango Pra Teresa
Professor José Jorge Andrade Damasceno – 14/15 de agosto de 2021.
Sempre teve um bom gosto musical.
ResponderExcluirLembra meu tempo de adolescente.
O bom disso, é que eu estava lá e compartilhei desses áureos momentos! Bons tempos, felizes lembranças.
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