sexta-feira, 24 de novembro de 2023

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UM MININUTINHO DE ATENÇÃO

Histórias e Memórias De Um Minutinho de Atenção Já vai bem distante o tempo em que o estádio Antônio Carneiro fora palco de memoráveis eventos esportivos, envolvendo o Atlético de Alagoinhas em seus tempos de jovem equipe de futebol, que enfrentava de igual para igual as agremiações futebolísticas de Salvador, sobretudo, o Esporte Clube Bahia de Osório Vilas Boas e, o Esporte Clube Vitória de Raimundo Rocha Pires, que desde pelo menos a década de 1960, alternavam entre si as posições de campeões e vice-campeões baianos, quase todas as edições da competição no período referido, exceto duas ou três delas, que foram vencidas pelo Fluminense de Feira de Santana e pelo Leônico. De sorte que, tendo chegado à década de 1970 e o Atlético de Alagoinhas, ainda há pouco fundado, fazia frente aquelas duas equipes soteropolitanas, muitas vezes, derrotado, segundo se dizia, pela intervenção da arbitragem. Para este aprendiz de cronista, Um daqueles domingos , talvez de julho ou agosto de 1976, amanhecera como quase todos os outros dos meses anteriores e amanheceria como os que ainda viriam nos meses subsequentes. Levantara-se como de costume, mas, com o propósito de se dirigir ao Carneirão, pois ali se travaria uma partida decisiva para a classificação do Atlético para a disputa do título, caso fosse o vencedor da peleja contra um dos dois sempre campeões ou vice-campeões, como já se salientou. Após o almoço frugal de um filho de mulher do povo, que com o seu trabalho, mal conseguia prover a ração diária da sua prole já desfalcada do seu primogênito, aquele garoto, há pouco entrado nos quinze anos, passou a matutar em uma forma de entrar no estádio, visto que não possuía os recursos para a aquisição do ingresso, nem conhecidos entre aqueles que fariam a conferência dos bilhetes e dariam permissão ao acesso. Aquele rapaz lembrou-se de que poderia se apresentar na portaria da rádio Emissora de Alagoinhas e, junto aos locutores que iria fazer a transmissão da peleja futebolística, quem sabe, o faria ingressar junto com a equipe esportiva. Assim pensando, saiu d final do Dois de julho onde morava e, dirigiu-se até a Rua Dom Pedro II, 117, onde se situava a rádio em questão. Lá estava o pessoal quase de saída e, parando para dar atenção àquele inesperado ouvinte/torcedor, o senhor Celio Machado, então diretor da emissora, autorizou que ele fosse junto com a equipe, com a recomendação de não sair do perímetro das cabines de imprensa. Aquela equipe formada por Lourival de Andrade, Augusto Saraiva, J Batista e Belmiro Deusdete, com J Costa na técnica interna, em uma Chevrolet Veraneio, juntamente com os cabos e demais materiais que seriam utilizados na jornada, levou consigo aquele torcedor insólito, que apenas teria contato com aquela importante partida mediante à audição das transmissões radiofônicas. Porém, àquela altura, a ele isto pouco importava; o que queria era estar ali, no calor humano emanado pela presença daqueles torcedores atentos e aguerridos, incentivando e empurrando o seu time local para a vitória contra o gigante da capital e mais: perto, ao lado, lado a lado com os locutores que só podia ouvir de casa, em um aparelho de rádio. Ali, ele os ouviria, como se diria hoje, “em tempo real”. Mas, uma surpresa lhe estava reservada:: ao ser concluído o primeiro tempo de jogo, ele saiu bisbilhotando as demais cabines de rádio, aliás, todas ocupadas pelas emissoras de Salvador, que faziam transmissões esportivas: Rádio Cultura, Rádio Excelsior, rádio Cruzeiro da Bahia, talvez, já a rádio Clube – a mais nova dentre elas, inaugurada em 1975 – e, a mais conhecida e de maior audiência: a Rádio Sociedade da Bahia, então integrante dos famosos Diários Associados, do lendário Assis Chateaubriand. Naquela cabine em especial, se encontrava para transmitir aquele duelo futebolístico, um locutor que aquele rapazinho já ouvia pelas ondas da rádio Sociedade, espraiadas a partir de seus transmissores, ainda localizados em Água Comprida, nas proximidades de Simões Filho: Antônio Pondé, era aquele locutor, já conhecido dos alagoinhenses mais maduros, mas que este escrevedor só conhecera enquanto locutor esportivo, quando se transferiu para aquela emissora que se proclamava “a mais potente do norte e nordeste”. Como era o intervalo da partida e o microfone estava sendo ocupado por um dos comentaristas, talvez Edson Almeida, dono de uma voz forte, firme e bem empostada, Antônio Pondé, gentilmente, concedeu um minutinho de sua atenção para este escrevedor, apertando-lhe a mão, o que lhe causou uma tão profunda impressão, que, ao ler que a Câmara Municipal de Alagoinhas, inaugurara um comitê de imprensa, colocando nele o seu nome, imediatamente aquele aperto de mão tão breve, singelo e despropositado, veio à memória deste escrevedor.– José Jorge Andrade Damasceno – Alagoinhas – 24 de novembro de 2023. historiadorbaiano@gmail.com

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