quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Carta Aberta - I

Carta Aberta à Excelentíssima senhora dona Insegurança. CISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE UMA AMIZADE – Parte II – Repentinamente: um hóspede. Transcorria normalmente u uma já distante tarde de dezembro do último ano do século XX. Como de costume, em um início de dezembro, dormia-se tranquilamente o sono vespertino, quando se ouve a voz de alguém anunciando correspondência. Tendo levantado para atender ao carteiro, recebe-se um pacote que havia sido encaminhado para atender ao edital de seleção para ingresso no programa de Pós-graduação, cujo prazo para aquele tipo de envio fora rigorosamente cumprido pelo candidato. , Entre aturdido e incrédulo com o que se lhe apresentava naquele instante, aquele senhor, que ainda mal acabara de acordar, recebera o pacote na condição de devolução, sem atentar para o que houvera feito de errado no processo de subscrição da encomenda, para que, ao invés de ser entregue ao destinatário na cidade de Niterói, estivesse ali, em suas mãos, o que implicaria na perda do prazo para a concretização da inscrição, se tentasse efetivar um reenvio. Sem atinar bem no que poderia fazer para reverter aquela situação, afigurou-se lhe uma ideia, que, em princípio pareceu despropositada, visto que implicaria em pedir apoio a uma pessoa residente no Rio de Janeiro, com a qual já trocava algumas correspondências e ideias, mas, sem ainda ter havido quaisquer contatos de ordem real entre eles. Tratava-se de Maurício Zeni, de quem este escrevedor já havia lido e apreciado o projeto recentemente aprovado para ingresso no curso doutoral; com quem já permutava correspondências eletrônicas com alguma frequência; com quem discutira um pouco, o seu próprio projeto que inscreveria para a seleção daquele ano e, que agora tinha de volta em suas mãos. Depois de alguma ponderação de si para consigo, pegara o telefone e, logo às primeiras palavras com as quais explicara o motivo daquela ligação, Maurício, sem qualquer hesitação, aceita receber aquele desconhecido em sua residência, para que ele não perdesse a oportunidade de ao menos, submeter aquele projeto ao crivo da banca examinadora. Ato contínuo, fez-se a compra da passagem para o Rio de Janeiro, para o dia seguinte, prazo final da inscrição presencial ,e igualmente foram tomadas as providências que permitissem chegar ao aeroporto de Salvador, a fim de embarcar pela Vasp, com o fito de realizar aquela viagem emergencial. O taxista que faria o transporte terrestre era Seu Nadinho, um fervoroso torcedor do Bahia, que com o seu Ford Del Rei, passou na residência do cliente as três horas da madrugada e o deixara as cinco no Balcão de embarque. Este escrevente tendo partido direto do aeroporto rumo a Universidade Federal Fluminense, campus do Gragoatá, em Niterói, levando consigo o pacote devolvido no dia anterior, pode realizar a sua inscrição em tempo hábil, entrando assim, no grupo daqueles que teriam as suas propostas avaliadas. Mas, aquele candidato, por razoes de logística, precisaria permanecer no Rio de Janeiro, até, pelo menos, obter o resultado da primeira parte da avaliação, o que se daria dali a pouco mais ou menos dez dias. Desta forma, o casal Maurício Zeni e Sônia Lucas, acabariam por receber em seu espaço de convivência conjugal, um hospede inesperado para uma estada não programada. Ao concluir o procedimento de inscrição e entrega do material, foi pedido que entrasse em contato com os anfitriões que, muito rápida e solicitamente, atenderam e se dispuseram a encontrar aquele forasteiro em Niterói e o conduzir até a residência em que viviam, na Tijuca. Lá, entre muitas conversas, aprendizados e largas gargalhadas, este escrevente aguardou a desclassificação de sua proposta de pesquisa, que, ainda assim, não ofuscou os excelentes momentos passados com aquele casal que acabara de conhecer pessoalmente. E, será que tem música? Claro! Por que não haveria? E, serão duas. Como todo bom cego, há sempre um rádio em suas mãos ou no pé dos seus ouvidos. Como não poderia deixar de ser, quando não estava em conversas com o casal, o rádio era o companheiro inseparável. Foi em uma daquelas audições radiofônicas, que este ouvinte teve o primeiro contato com a música de Zeca Pagodinho, Caviar, que o impressionara bastante. https://youtu.be/eFQCPE9uDy0?si=1q8pYbromrbNTQr4 Naquela mesma época, o filme Titanic fora exibido na televisão e, este hóspede inesperado, fora convidado pelo casal para acompanhar aquela exibição juntos. É verdade que o hóspede dormira quase todo o tempo de duração do filme..., mas, estava ali, com o casal, que assistira, aliás, atentamente. A sua música tema tocava em quase todas as emissoras FM, cujo seguimento era voltado para músicas “românticas”. https://youtu.be/F2RnxZnubCM?si=KcxwlELH2aeRaPBf Embora este escrevente tenha retornado triste pela reprovação de sua proposta de pesquisa para ingresso no programa de Pós-Graduação da UFF, naquele ano – e em mais três subsequentes, até ingressar na edição de 2005 -, a alegria de ter estado com Maurício Zeni, que se tornaria um grande amigo com quem este tagarela contaria outras muitas vezes, ficou como o grande ganho daquela primeira viagem ao Rio de Janeiro, depois de dez anos, quando ali esteve para conhecer uma jovem da região do vale do Aço, de que já se falou neste mesmo espaço. José Jorge Andrade Damasceno – 17 de novembro de 2023 historiadorbaiano@gmail.com Carta Aberta à Excelentíssima senhora dona Insegurança. Caríssima senhora: cumprimentos acabrunhados. Perdoe se este missivista não sabe ao certo, se a digna senhora é a filha primogênita da dúvida ou, se é a madrasta da incerteza. De qualquer sorte, esta carta aberta é dirigida à sua digníssima pessoa. Talvez tu até já saibas, mas há que se reforçar nesta carta, o fato de que tens sido a causa de inúmeras desgraças de tantos quantos são atormentados pela vossa constante presença em sua vida; qualquer uma das três de vossas senhorias, alimenta os ódios entre as pessoas e os povos, os medos, os temores erráticos ou reais, de maneira a provocar cismas, guerras fratricidas, rompimentos irremediáveis entre amigos, assassinatos de reputações e carreiras, suicídios, feminicídios, homicídios sem conta, devido à semeadura que vossas senhorias provocam e/ou alimentam, fazendo crescer o desejo de não mais abrir-se ao afeto/à fraternidade, à amizade, o medo do fim daquele amor há tanto tempo desejado/esperado, o temor de perdas irreparáveis de relações a tanto custo construídas, provocando o fechamento do coração para a crença nas pessoas. Em outro campo, as vossas presenças acabam oferecendo os álibis os mais diversos e as mais desatinadas desculpas/justificativas – sempre injustificáveis, saliente-se -, para o cometimento de inúmeros crimes hediondos. Doutra sorte, algumas vezes, as senhoras provocam abatimentos profundos e até fazem correr lágrimas quentes e sentidas, tão copiosas quanto dolorosas, uma vez que alguns elementos inerentes ao modo de ser de vossas senhorias, produzem na pessoa acometida pela vossa presença, um forte sentimento de perda – quase sempre infundado, mas que a pessoa atingido não tem “certeza” de o ser -, que o leva a pensar ter de fato perdido, sobretudo, a pessoa a quem ama. O resultado disto, senhoras, é um misto de tristeza e sensação de derrota iminente, quando não, já consumada, de suas pretensões de felicidade e paz. Muitas vezes, caras senhoras, uma palavra quase despropositada, um elogio inconsequente dirigido a outrem, desencadeia a tempestade emocional naquele sobre quem as senhoras insistem em atuar, ensejando um forte mal-estar, forçando ao que é atingido pela presença de vossas senhorias, a buscar forças onde quase não as tem, para evitar um abalo sísmico de grande potencial destruidor, ou para não sucumbir ao peso dos efeitos deletérios inerentes à tais situações. Isto posto, esta missiva dirigida a vossa senhoria, que certamente tem algum controle sobre as outras duas senhoras, vem solicitar que tenha a gentileza de se retirar da presença deste signatário, pois, os danos que a ele foram causados por toda a sua existência, não podem ser mensurados, visto que, como a senhora está farta de saber, ele viveu um sem-número de situações e circunstâncias provocadas pela insistente presença de vossas senhorias em sua vida, desde mesma a sua mais tenra idade. A senhora, dona Insegurança, sabe bem o mal que tem produzido ao longo do percurso deste missivista, razão pela qual ele te escreve esta epístola, solicitando retirada incondicional das trincheiras que a senhora e as tuas outras companheiras construíram e ocuparam altivamente por todo este tempo. Certo de que esta missiva será lida pela senhora e pelas vossas sequazes, que será tomada na devida conta e, que será acatada a solicitação acima exposta, subscreve-se, atenciosamente: Este E Todo Aquele Que Se Sinta Atingido Pela Altiva Presença da Excelentíssima Senhora. historiadorbaiano@gmail.com

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