domingo, 11 de maio de 2025

UM ESCREVEDOR FALA DE MEMÓRIA, CONVICÇÃO E FÉ.

Há quarenta e cinco anos – A TEMPERATURA LÁ FORA ERA FRIA MAS A ALMA SE REGOSIJAVA AO PROFESSAR EM QUEM CRIA.

 

Era um domingo de maio, como este em que ora estes garatujares são escritos; chuvoso e frio e, os interesses estavam voltados para uma comemoração que este escrevente nunca apreciou, embora, por força da liturgia Batista – que mais tarde veio a considerar um resquício do catolicismo focado na veneração mariana, que grande parte do protestantismo acabou por abraçar -, viu-se NELA envolvido, sem qualquer entusiasmo. Afinal, não possuía quaisquer recursos que lhe permitisse comprar um único ramo de flor que fosse para dar à sua mãe; considerando, igualmente, que jamais este tipo de celebração às mães fora incentivado e/ou vivido nos seus primeiros dezenove anos, a não ser as dedicatórias DE MÚSICAS E, ALGUMAS VEZES DE POESIAS ouvidas pelo rádio, sem entender exatamente do que se tratava. Um pouco mais tarde, conheceu a narrativa de que o tal dia fora “criado” por uma jovem Batista norte-americana, que acabou por ser abraçado não só pelos Batistas, bem como por todo o protestantismo – ou quase todo – e, o catolicismo aproveitou para associar a ideia de Maria como “Mãe de Deus”, venerada por todo o mês de maio – o que este escrevedor entendeu se tratar de uma explicação  fundamentada em uma narrativa que, para ele, só servia para justificar aquilo que entendia e, ainda entende, injustificável.

Era novo na fé Batista e, não compreendia muita coisa no que respeitava a liturgias, formas de cultos, o que era "ser" Batista, do ponto de vista dos principais elementos formadores do corpo doutrinal, nem os seus fundamentos filosóficos/teológicos e, por isto mesmo, ainda não considerava haver situações incompatíveis com a fé protestante; afinal, conhecia pouco ou quase nada de “Fé”, fosse ela Batista, fosse Católica, pois, por esta última, passara apenas pela coerção: do batismo como bebê moribundo que não poderia “morrer pagão” e, pela obrigação institucional de realizar a “primeira comunhão” – que aliás, foi a primeira e a única, saliente-se. Mas, naquele onze de maio, a sua ansiedade e a sua expectativa se voltavam para o culto daquela noite. Nele, este que ora rememora uma parte daquele dia, seria imerso nas águas, no batistério daquela que então era a Primeira Igreja Batista de Alagoinhas.

Não fizera roupa especial para a ocasião, por não ter como o fazer; nada fora feito de preparativos para jantar, almoço, sorveteria ou coisas que tais; além de não possuir um ímpeto celebrativo, também não possuía os meios financeiros para tanto. Dirigira-se ao espaço de culto da Primeira Igreja, um lugar simples, aconchegante e, para aquele rapaz, desabituado àquele tipo de ambiente, poderia se classificar como “acolhedor”, onde o frio da noite outonal, somado à temperatura de uma água que já fora ainda mais fria pelo tempo que era preciso para abastecer o batistério, acabara por não ter sido sentido, visto o calor humano e a alegria que contagiara o mais novo arrolado ao seu rol de membros.

Terminada a cerimônia e tendo se dirigido ao seu lugar de moradia, o rapaz pensava de si para consigo, que aquele fora o seu real batismo, por ter se dado de forma consciente e, ele mesmo, de sua própria vontade, se tornara membro daquela Igreja, sem coações, sem se deixar levar pela força de uma tradição que de fato não conseguia nem compreender, nem aceitar. Para ele, a racionalidade daquela cerimônia a que se fez participante, livre e espontaneamente, estaria mais em conformidade com o Evangelho que abraçara, desde janeiro daquele mesmo ano. Quarenta e cinco anos já transcorreram desde aquele distante maio em que se fez uma confissão pública de fé e, aquelas convicções que marcaram a sua volta para casa, ainda persistem firmes, malgrado tudo que se vivenciou dali até o momento presente em que são escritas estas linhas. A memória daquele movimento feito pelo Pastor Jessé Da Silva (In Memoriam), as suas poucas palavras, na condição de “Ministro do Evangelho”, a descida do corpo e o seu erguimento de dentro daquelas águas, ainda persistem vivas no rememorar de quem traceja estas poucas palavras, saído da solidão destes dias em que não se encontra ninguém, para ao menos, falar sobre um tal rememorar.

 

José Jorge Andrade Damasceno  - 11 de maio de 2025

 

Alagoinhas – historiadorbaiano@gmail.com 

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