Há quarenta e cinco anos – A TEMPERATURA LÁ FORA ERA FRIA
MAS A ALMA SE REGOSIJAVA AO PROFESSAR EM QUEM CRIA.
Era um domingo de maio, como este em que ora estes garatujares
são escritos; chuvoso e frio e, os interesses estavam voltados para uma
comemoração que este escrevente nunca apreciou, embora, por força da liturgia
Batista – que mais tarde veio a considerar um resquício do catolicismo focado
na veneração mariana, que grande parte do protestantismo acabou por abraçar -,
viu-se NELA envolvido, sem qualquer entusiasmo. Afinal, não possuía quaisquer
recursos que lhe permitisse comprar um único ramo de flor que fosse para dar à
sua mãe; considerando, igualmente, que jamais este tipo de celebração às mães
fora incentivado e/ou vivido nos seus primeiros dezenove anos, a não ser as
dedicatórias DE MÚSICAS E, ALGUMAS VEZES DE POESIAS ouvidas pelo rádio, sem
entender exatamente do que se tratava. Um pouco mais tarde, conheceu a
narrativa de que o tal dia fora “criado” por uma jovem Batista norte-americana,
que acabou por ser abraçado não só pelos Batistas, bem como por todo o
protestantismo – ou quase todo – e, o catolicismo aproveitou para associar a
ideia de Maria como “Mãe de Deus”, venerada por todo o mês de maio – o que este
escrevedor entendeu se tratar de uma explicação
fundamentada em uma narrativa que, para ele, só servia para justificar
aquilo que entendia e, ainda entende, injustificável.
Era novo na fé Batista e, não compreendia muita coisa no que respeitava a liturgias, formas de cultos, o que era "ser" Batista, do ponto de vista dos principais elementos formadores do corpo doutrinal, nem os seus fundamentos filosóficos/teológicos e, por isto mesmo, ainda não considerava haver
situações incompatíveis com a fé protestante; afinal, conhecia pouco ou quase
nada de “Fé”, fosse ela Batista, fosse Católica, pois, por esta última, passara
apenas pela coerção: do batismo como bebê moribundo que não poderia “morrer
pagão” e, pela obrigação institucional de realizar a “primeira comunhão” – que aliás,
foi a primeira e a única, saliente-se. Mas, naquele onze de maio, a sua
ansiedade e a sua expectativa se voltavam para o culto daquela noite. Nele,
este que ora rememora uma parte daquele dia, seria imerso nas águas, no
batistério daquela que então era a Primeira Igreja Batista de Alagoinhas.
Não fizera roupa especial para a ocasião, por não ter como o
fazer; nada fora feito de preparativos para jantar, almoço, sorveteria ou
coisas que tais; além de não possuir um ímpeto celebrativo, também não possuía
os meios financeiros para tanto. Dirigira-se ao espaço de culto da Primeira
Igreja, um lugar simples, aconchegante e, para aquele rapaz, desabituado àquele
tipo de ambiente, poderia se classificar como “acolhedor”, onde o frio da noite
outonal, somado à temperatura de uma água que já fora ainda mais fria pelo
tempo que era preciso para abastecer o batistério, acabara por não ter sido
sentido, visto o calor humano e a alegria que contagiara o mais novo arrolado
ao seu rol de membros.
Terminada a cerimônia e tendo se dirigido ao seu lugar de moradia,
o rapaz pensava de si para consigo, que aquele fora o seu real batismo, por ter
se dado de forma consciente e, ele mesmo, de sua própria vontade, se tornara
membro daquela Igreja, sem coações, sem se deixar levar pela força de uma
tradição que de fato não conseguia nem compreender, nem aceitar. Para ele, a
racionalidade daquela cerimônia a que se fez participante, livre e espontaneamente, estaria mais em
conformidade com o Evangelho que abraçara, desde janeiro daquele mesmo ano.
Quarenta e cinco anos já transcorreram desde aquele distante maio em que se fez
uma confissão pública de fé e, aquelas convicções que marcaram a sua volta para
casa, ainda persistem firmes, malgrado tudo que se vivenciou dali até o momento
presente em que são escritas estas linhas. A memória daquele movimento feito
pelo Pastor Jessé Da Silva (In Memoriam), as suas poucas palavras, na condição
de “Ministro do Evangelho”, a descida do corpo e o seu erguimento de dentro
daquelas águas, ainda persistem vivas no rememorar de quem traceja estas poucas
palavras, saído da solidão destes dias em que não se encontra ninguém, para ao
menos, falar sobre um tal rememorar.
José Jorge Andrade Damasceno
- 11 de maio de 2025
Alagoinhas – historiadorbaiano@gmail.com
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