Histórias e Memórias de uns tempos vividos em Salvador – Dois
casais e um cozido
Morar em Salvador é acima de tudo uma arte. E se este morar
se dá nas áreas periféricas e por pessoas cegas, aí, crê-se que a arte é mais
que uma arte: é um artifício. E, se este morar é tiro curto e a contragosto, passa
a ser um sacrifício. Transporte, deslocamento, ajuste aos espaços exíguos das
moradias; ajuste aos espaços públicos, disputados aos empurrões com pessoas,
automóveis, vendedores de tudo quanto é bugiganga e quinquilharia; esperas pelo
ônibus que precisa por tempo indefinido; informações que necessita obter,
muitas vezes, relacionadas ao ônibus que o levará ao local de trabalho e/ou
moradia; tudo isto somado e multiplicado com a má vontade de toda a ordem que
tem de enfrentar dia após dia, leva aquele que já não nutre a menor simpatia
pela cidade, a detestá-la cada vez, com mais força e convicção.
Como já foi dito,
este escrevedor e sua consorte, por dois anos mantiveram residência na cidade
da Bahia, em um conjunto residencial rebatizado de “Condomínio”, que se situava
na Paralela, em um dos acessos ao conjunto “Paralela Parque”.
Em um outro ponto mais acima, situava-se outro conjunto
popular, que ostentava o esquisitíssimo nome de “Trobogy”. Ali, residia um
outro casal com o qual se estabelecera uma relação amistosa, formado por seu
Edimar e dona Nair, a mesma que havia indicado a sua diarista para que pudesse
ajudar nos trabalhos domésticos do primeiro casal.
Embora o primeiro casal tivesse mais dificuldades de visitar
o segundo, em razão do deslocamento até ao “Trobogy” ser dificultado pela sua
localização estar na contramão da trajetória dos ônibus, que, diga-se de
passagem, serviam aos dois conjuntos, no sentido Aeroporto Centro, passando
primeiro no “Trobogy” e, só depois, passando na frente do dito “Condomínio”, em
direção ao Paralela Parque.
Isto significava a dificuldade de se chegar ao “Trobogy”,
pois o trajeto tinha que ser feito a pé. Ainda assim, algumas visitas foram
trocadas e, claro, ideias e almoços.
Em uma de tais idas até a casa de Nair e Edimar, as duas senhoras prepararam o
famoso “Cozido”, aliás, muito saboroso guisado de carnes e verduras,
acompanhado do indispensável pirão de farinha de mandioca.
Concluídos os trabalhos de preparo e cozimento da refeição,
os quatro se puseram à mesa para refestelarem-se com aquele cozido, cujo
delicioso odor invadia a sala onde os folgados conversavam e riam aos bocados.
As senhoras, dispondo-se a servir o almoço, elaboraram
generosos pratos para si mesmas e para os seus consortes, que devoraram o guisado
com a voracidade de quem estava há alguns dias em jejum preparatório.
O pitoresco ficou por conta de dona Nair que, a despeito de
ter feito o prato a à altura do apetite do seu consorte, informou-lhe:
- Mô, se quiser mais, pode tomar conta das panelas...
E não é que “mô”, após devorar o que fora colocado no prato por
dona Nair, visitou as panelas mais algumas vezes, até que só restasse as
pelancas, a gordura e os ossos?
José Jorge Andrade Damasceno – 23 de julho de 2021.
Boa tarde, conheço citado casal, aliás, dizem as más línguas, que o mesmo, não come mais como outrora. Enfim está mais moderado no que diz respeito ao seu apetite. Risos porém, o caso citado acima é digno De registro. Enfim não é todo dia que se devora uma panela de cozido praticamente sozinho. O que podemos pensar então; é que o mesmo não possuía um estômago e sim uma tubulação. Risos.
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