terça-feira, 27 de julho de 2021

Histórias e Memórias de uns Tempos Vividos em Salvador - III- Uma Travessa só para Edimar.

Histórias e memórias de uns tempos vividos em salvador – III – Duas travessas de lasanha: uma era só para Edimar

 

Não é sem razão a má querência que este escrevedor nutre pela cidade de Salvador. Além de ser uma cidade muito pouco acolhedora para aqueles que não enxergam, e/ou precisam de auxílios mecânicos para se locomoverem, os seus administradores têm pouquíssimas preocupações com a criação e a manutenção de espaços que possam ser usados pelos pedestres que não vejam ou que tenham mobilidade reduzida por algum motivo. Os espaços urbanos da soterópolis tem como premissa básica o automóvel de uso individual. Estes, por sua vez, são colocados sobre os poucos passeios e, mesmo estes, sempre estão esburacados e sujos; são estreitos ou estreitados pela presença de barracas, bancas de camelô, entre outros obstáculos que dificultam a circulação de pessoas cegas e/ou pessoas com dificuldades de mobilidade, indicando a falta de atenção do poder público, bem como da população em geral, com aqueles que não se encontram no padrão social, econômico e físico tido como normal pela elite pensante responsável pelas políticas públicas visando o funcionamento da metrópole. E, como se disse antes, quanto mais os espaços públicos estão afastados do centro da cidade e dos espaços culturais/turísticos; quanto mais estão localizados nas periferias, tanto mais difíceis as condições de passeios, pavimentos, arruamentos, bem como de sua manutenção/organização.

Conforme já se disse, os casais formados por este garatujador e sua consorte e, dona Nair e seu Edimar, se visitavam com regularidade para conversas regadas a boas refeições e prolongadas conversas. O deslocamento do casal Nair e Edimar até a residência do primeiro casal, era facilitado pelo fato de ser feito no mesmo sentido de quem se dirigia para o Centro Administrativo da Bahia. O problema para eles, era o retorno para casa: ou voltavam andando enfrentando passeios irregulares, maltratados, mal construídos, malcuidados, ou atravessariam as pistas da avenida Paralela, aventurando encontrar quem desse informações sobre o ônibus que eles precisariam utilizar para os levar até o Trobogy, que, como já se disse, era onde eles moravam.

Em um agradável domingo de sol na “capital de todos os baiano”, recebeu-se a visita do casal do Trobogy, para mais um memorável almoço, cujo prato seria lasanha.

O grupo foi reforçado por dois amigos dos casais, que, diga-se de passagem, eram exímios “bons de garfo”, conforme se diz em relação a pessoas cujos apetites estão sempre abertos, diante de uma mesa farta.

Enquanto a massa era preparada, os quatro cidadãos conversavam animadamente sobre os assuntos mais diversos e descontraídos, quase sempre concluídos sobre abundantes gargalhares.

Anunciada a conclusão do processo de preparo e cozimento  da lasanha, cujo cheiro abrira ainda mais o apetite dos famintos comensais, este escrevedor dispôs-se imediatamente a servir os pratos de todos.

Duas travessas foram trazidas para a mesa e, claro, seis pratos fundos, como a ocasião exigia. Tendo feito cada prato, este servidor não economizou na distribuição de conteúdo, alertando aos dois visitantes que faria um prato ainda mais generoso para seu Edimar, observando se ele ainda repetiria...

Ah, cabe salientar que uma das duas travessas fora deliberadamente separada para o marido de dona Nair.

Assim, todos comeram o alimento que fora generosamente colocado nos recipientes, bem medidos, sacudidos e recalcados..., inclusive as duas senhôras.

Terminada a rodada, todos foram perguntados se ainda repetiriam. Todos, ou melhor, quase todos responderam negativamente. A exceção de seu edimar.

Diante do que, o “garçom” improvisado, logo o atendeu, colocando no prato do vizinho, a outra metade da travessa a ele destinada. Ele, por sua vez, não se fez de rogado: para o espanto e estupefação de todos que ali se encontravam e, de todos que depois vieram a saber do caso, seu Edimar devorou mais aquele prato cheio, sacudido e recalcado, sem a menor dificuldade.

Talvez seja preciso lembrar aos leitores que aquele comer abundante, também se fez acompanhar dos líquidos indispensáveis àquele tipo de refeição!

 

José Jorge Andrade damasceno  - 27 de julho de 2021.

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