Alagoinhas em Vésperas de eleições – 1988 – Nova Carta,
velhos jogadores.
Na terceira de quatro crônicas em que o seu autor se propõe
a fazer algumas incursões acerca de momentos “pré-eleitorais” em Alagoinhas, se
procurará promover um rápido rememorar do ano em que o então prefeito Judélio
de Souza Carmo(1945-2009) completaria o segundo mandato que lhe fora conferido
pelo escrutínio realizado em 1982, que tivera a duração de seis anos e que fora
iniciado exatamente dez anos após o tão conturbado primeiro exercício como alcaide,
transcorrido entre 1973-1976. Naquele segundo governo, ele implementou algumas intervenções
no processo urbanístico da urbe alagoinhense que ainda hoje podem ser percebidas,
na medida em que estruturou a cidade para receber diversos equipamentos que
ainda hoje conformam a paisagem urbanística do município.
O ano de 1988 chega para ser vivido sob a expectativa da conclusão
dos trabalhos da assembleia Nacional Constituinte, que apresenta como parte dos
longos debates havidos em todo o seu transcurso, a revogação da Censura – que prevaleceu
por toda a vigência do Regime Militar sobre as artes e diversas atividades
culturais e intelectuais -, da Tortura – ostensivamente praticada contra presos
políticos e/ou suspeitos de “subversão” da “ordem e dos costumes” -, bem como o
reestabelecimento da “liberdade” de imprensa, de expressão e de criação. Nas olimpíadas
e no automobilismo, Aurélio Miguel e Ayrton Senna ganham medalha de ouro e se
torna campeão mundial, respectivamente. É também naquele ano que a siderúrgica
de Volta Redonda é invadida pelo exército brasileiro, com o objetivo de
desalojar operários em greve, cujo resultado foi de 3 operários mortos e nove
gravemente feridos. E no último dia de dezembro, um barco de turismo naufraga
na Baía de Guanabara, deixando cinquenta e cinco mortos.
Naquele mesmo ano de 1988, ainda como desdobramento dos
trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, a chamada “Constituição Cidadã”
foi promulgada em 05 de outubro, fazendo com que as instituições do País
passassem a ser regidas por aquele novo diploma legal, que nortearia as ações
públicas perpetradas no âmbito do Estado de direito. Era uma nova “carta magna”
que se destinava a reestruturar o ordenamento jurídico do País, esgarçado pelo
regime de exceção que se impôs sobre o Brasil por vinte e um anos, indo um
pouco mais além, já que a “Nova República” fora conduzida até então, sob a égide
da Carta de 1967/69.
No entanto, a despeito da promulgação da “nova” Carta Magna,
o jogo eleitoral de 1988 já estava em andamento e, os times alinhados em torno
dos velhos jogadores que os formavam. Marcadas para o dia 15 de novembro de 1988,
aquelas eleições transcorreriam pouco mais de quarenta dias após a promulgação
do novo texto constitucional.
Assim, o embate pela sucessão de Judélio seria travado por velhos
jogadores da cena política alagoinhense, alguns deles travestidos de novos
contendores – ao menos, os principais dentre eles -, apresentando-se aos
eleitores, como propositores de novos rumos para a cidade que pretendiam
governar a partir de 1989.
O próprio então prefeito apresentara um candidato à sua
sucessão, que, no entanto, fazia a sua campanha eleitoral, apresentando-se como
“diferente” daquele que o apoiava.
Embora houvesse outros postulantes ao Paço municipal – para citar
alguns exemplos, teve o candidato pelo PT, Péricles Magalhães, Antônio Carneiro,
pelo PFL e a candidata Maria Risélia, cujo partido este autor não se lembra -,
a refrega eleitoral foi travada, efetivamente, pelo bancário José Francisco dos
Reis, pelo PSB, paradoxalmente apoiado pelo então ocupante da principal cadeira
do executivo municipal. O paradoxo está
no fato de “Chico Reis”, como era conhecido na cidade, ter sido o algoz de
Judélio Carmo, durante o seu primeiro mandato. Na condição de vereador pela
Arena, ele requerera e obtivera o impeachment do cargo de prefeito, – o que
trouxera grandes transtornos para Judélio se fazer reinvestir no cargo e
concluir o mandato que lhe fora conferido nas urnas.
O outro contendor no embate eleitoral daquele ano, era o
comerciante João Paulilo – que contara com o igualmente paradoxal apoio do
PCdoB. Tal apoio foi articulado pela cúpula diretiva do “partidão”, formada por
comunistas “históricos” como Antônio Fernando (Aranha”, Gavazza, além de Pedro
Marcelino, que iniciava o seu ciclo como dirigente partidário.
Tendo recebido apoio de uma parcela significativa da
sociedade alagoinhense; contando com o não menos expressivo prestígio
relacionado à sua atuação como funcionário do banco do Brasil, concomitante com
a sua participação no rádio esportivo local, Chico Reis fez-se eleger com uma grande
margem de votos.
No entanto, sua eleição também deve ser creditada ao trabalho
desenvolvido por Judélio, não só emprestando-lhe apoio como candidato à sua sucessão,
mas, principalmente, com o seu desempenho à frente do governo municipal,
durante todo o mandato. Este escrevente não tem memória de nenhum outro
prefeito, que tenha governado a cidade nos últimos 50 anos, que tenha
conseguido fazer o sucessor, direta ou mesmo indiretamente.
Jorge Damasceno – 08 de novembro de 2020.
AILTON
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