domingo, 8 de novembro de 2020

Alagoinhas em vésperas de eleições - 1988

 

Alagoinhas em Vésperas de eleições – 1988 – Nova Carta, velhos jogadores.

 

Na terceira de quatro crônicas em que o seu autor se propõe a fazer algumas incursões acerca de momentos “pré-eleitorais” em Alagoinhas, se procurará promover um rápido rememorar do ano em que o então prefeito Judélio de Souza Carmo(1945-2009) completaria o segundo mandato que lhe fora conferido pelo escrutínio realizado em 1982, que tivera a duração de seis anos e que fora iniciado exatamente dez anos após o tão conturbado primeiro exercício como alcaide, transcorrido entre 1973-1976. Naquele segundo governo, ele implementou algumas intervenções no processo urbanístico da urbe alagoinhense que ainda hoje podem ser percebidas, na medida em que estruturou a cidade para receber diversos equipamentos que ainda hoje conformam a paisagem urbanística do município.

O ano de 1988 chega para ser vivido sob a expectativa da conclusão dos trabalhos da assembleia Nacional Constituinte, que apresenta como parte dos longos debates havidos em todo o seu transcurso, a revogação da Censura – que prevaleceu por toda a vigência do Regime Militar sobre as artes e diversas atividades culturais e intelectuais -, da Tortura – ostensivamente praticada contra presos políticos e/ou suspeitos de “subversão” da “ordem e dos costumes” -, bem como o reestabelecimento da “liberdade” de imprensa, de expressão e de criação. Nas olimpíadas e no automobilismo, Aurélio Miguel e Ayrton Senna ganham medalha de ouro e se torna campeão mundial, respectivamente. É também naquele ano que a siderúrgica de Volta Redonda é invadida pelo exército brasileiro, com o objetivo de desalojar operários em greve, cujo resultado foi de 3 operários mortos e nove gravemente feridos. E no último dia de dezembro, um barco de turismo naufraga na Baía de Guanabara, deixando cinquenta e cinco mortos.

Naquele mesmo ano de 1988, ainda como desdobramento dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, a chamada “Constituição Cidadã” foi promulgada em 05 de outubro, fazendo com que as instituições do País passassem a ser regidas por aquele novo diploma legal, que nortearia as ações públicas perpetradas no âmbito do Estado de direito. Era uma nova “carta magna” que se destinava a reestruturar o ordenamento jurídico do País, esgarçado pelo regime de exceção que se impôs sobre o Brasil por vinte e um anos, indo um pouco mais além, já que a “Nova República” fora conduzida até então, sob a égide da Carta de 1967/69.

No entanto, a despeito da promulgação da “nova” Carta Magna, o jogo eleitoral de 1988 já estava em andamento e, os times alinhados em torno dos velhos jogadores que os formavam. Marcadas para o dia 15 de novembro de 1988, aquelas eleições transcorreriam pouco mais de quarenta dias após a promulgação do novo texto constitucional.

Assim, o embate pela sucessão de Judélio seria travado por velhos jogadores da cena política alagoinhense, alguns deles travestidos de novos contendores – ao menos, os principais dentre eles -, apresentando-se aos eleitores, como propositores de novos rumos para a cidade que pretendiam governar a partir de 1989.

O próprio então prefeito apresentara um candidato à sua sucessão, que, no entanto, fazia a sua campanha eleitoral, apresentando-se como “diferente” daquele que o apoiava.

Embora houvesse outros postulantes ao Paço municipal – para citar alguns exemplos, teve o candidato pelo PT, Péricles Magalhães, Antônio Carneiro, pelo PFL e a candidata Maria Risélia, cujo partido este autor não se lembra -, a refrega eleitoral foi travada, efetivamente, pelo bancário José Francisco dos Reis, pelo PSB, paradoxalmente apoiado pelo então ocupante da principal cadeira do executivo municipal.  O paradoxo está no fato de “Chico Reis”, como era conhecido na cidade, ter sido o algoz de Judélio Carmo, durante o seu primeiro mandato. Na condição de vereador pela Arena, ele requerera e obtivera o impeachment do cargo de prefeito, – o que trouxera grandes transtornos para Judélio se fazer reinvestir no cargo e concluir o mandato que lhe fora conferido nas urnas.

O outro contendor no embate eleitoral daquele ano, era o comerciante João Paulilo – que contara com o igualmente paradoxal apoio do PCdoB. Tal apoio foi articulado pela cúpula diretiva do “partidão”, formada por comunistas “históricos” como Antônio Fernando (Aranha”, Gavazza, além de Pedro Marcelino, que iniciava o seu ciclo como dirigente partidário.

Tendo recebido apoio de uma parcela significativa da sociedade alagoinhense; contando com o não menos expressivo prestígio relacionado à sua atuação como funcionário do banco do Brasil, concomitante com a sua participação no rádio esportivo local, Chico Reis fez-se eleger com uma grande margem de votos.

No entanto, sua eleição também deve ser creditada ao trabalho desenvolvido por Judélio, não só emprestando-lhe apoio como candidato à sua sucessão, mas, principalmente, com o seu desempenho à frente do governo municipal, durante todo o mandato. Este escrevente não tem memória de nenhum outro prefeito, que tenha governado a cidade nos últimos 50 anos, que tenha conseguido fazer o sucessor, direta ou mesmo indiretamente.

 

Jorge Damasceno – 08 de novembro de 2020.

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