quarta-feira, 6 de outubro de 2010

OUTRA VEZ: SEGUNDO TURNO!

Outra vez: Segundo turno!
Jorge Damasceno
Uma vez fechadas as urnas e findas as apurações, surge como resultado a necessidade de um novo escrutínio, para definir quem assumirá a presidência da República Federativa do Brasil.
Pela terceira vez, desde 2002, a tendência para que as coisas se resolvam logo no primeiro turno, perde força nas últimas semanas de campanha e, obriga partidos e candidatos a mais algumas semanas de campanha eleitoral no rádio, na televisão e nas ruas.
Aproximações e reaproximações político-partidárias, reconfigurações de toda ordem são necessárias para que se chegue a uma definição, sobre qual ou tal apoio, qual ou tal reforço, sobre tal ou qual novo rumo dar ao processo de conquista dos votos dos candidatos derrotados e/ou daqueles eleitores que acabaram não se decidindo por qualquer um dos postulantes.
Em todos estes momentos históricos, o partido /candidato que sai na frente para a segunda rodada de conquista e/ou reconquista de votos, é vítima de suas próprias dificuldades em lidar com questões difíceis de serem discutidas em uma campanha eleitoral, sem que resvalem em barreiras sociais e religiosas, cujas bases estão centenariamente concretadas e que o processo de "politização" da sociedade brasileira não foi capaz de minimizar os seus efeitos, no momento de se confrontar com a fatia da sociedade que está menos predisposta a discutir desapaixonadamente, questões como a descriminalização do aborto, para mencionar apenas este exemplo, que parece ter sido a peça chave de uma campanha multidenominacional, movida por pastores e padres, escudados em um pretenso "direito à vida".
Ao que parece, o problema crucial a se colocar aqui,ainda que apartir de uma observação sem a profundidade que o momento requer, é o fato de que o PT, apesar de ser um partido nascido a partir de relações com os movimentos sociais, não sabe lidar com as questões que calam fundo na fatia "conservadora" do eleitorado brasileiro! Ele as subestima e, por isto mesmo, não deixa clara a sua posição a respeito de temas, relevantes e, sobretudo, aqueles de cunho moral, que envolvem ao mesmo tempo sexo e religião.
Assim, na medida em que a sociedade não é chamada ao debate sobre temas como o aborto, ou a utilização de células troncos para fins terapêuticos, para citar apenas estes que têm grande repercussão nos espíritos de teólogos e leigos; na medida em que a sociedade não é satisfatoriamente esclarecida, por exemplo, sobre qual é a diferença entre a "descriminalização" do aborto, que é o que preconiza a possibilidade de permitir que o processo se dê em condições minimas e saúde publica, e a "liberação do aborto", que dizem estar no programa do PT e, por extensão, no programa de governo de sua candidata ao Palácio do Planalto, o eleitor vai sendo jogado de um lado para outro, ao sabor das “ondas”, que fluem e refluem,deixando no entanto os rrastros dos seus efeitos, nos resultados que força a realização de nova rodada eleitoral.
Esta absoluta falta de esclarecimento público de como o Partido dos Trabalhadores pensa esta e outras questões, oferece farta munição aos detratores da candidatura Dilma e do PT, para concitarem os seus fiéis a evitar dar o voto a quem, "tão logo assuma o governo", "aprovará" o casamento entre homossexuais e o morticínio de "vidas" inocentes, ainda no processo de gestação.
Neste sentido, é prudente ter mais atenção na condução da campanha eleitoral, neste segundo turno, procurando enfrentar as questões de moral de costumes, atentando para a sensibilidade do eleitor mais vulnerável às pregações evangélicas e prédicas católicas. Caso a cúpula partidária e a coordenação de campanha não se disponham a dar a devida importância a este tipo de eleitor, que majoritariamente votou em Marina Silva, o PT e sua candidata ao Planalto, pode pagar com a derrota o modo indiferente como trata a religiosidade do setor conservador da sociedade, embora tal religiosidade seja, em grande parte, plena de hipocrisia e vivida "para inglês ver".
José Jorge Andrade Damasceno, é professor adjunto da Universidade do
Estado da Bahia (UNEB), Dr. em História Social Pela Universidade Federal
Fluminense.
e-mail: historiadorbaiano@gmail.com
Twitter: @JorgeDamasceno1

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