quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Boatarias deletérias que escorrem Como avalanche de "lama tóxica".

Boatarias deletérias que escorrem Como avalanche de "lama tóxica".
Por Jorge Damasceno
A volumosa onda de boatos e fofocas que nas últimas semanas da campanha eleitoral irromperam nas redes sociais, impressionam pela capacidade de seus mentores e difusores, em transformar mentiras absurdas em verdades absolutas e irrefutáveis.
Como tática de contrapropaganda das mais sórdidas, a boataria foi despejada na internet e, como uma avalanche, tal se transportou pelo éter e se apresentou diante de milhares de usuários do twitter, orkut, facebooke e outras tantas redes capilares da comunicação virtual.
Escorrendo como uma "lama tóxica", a tática de disseminar boatos contra pessoas e instituições que se pretendia taxar como satanistas, iníquas, contrárias a vida, a moral sexual, aos "bons" costumes e, que se eleitos, aprovarão práticas que atentam contra a "liberdade", a "fé" e o viver cristão, mostrou ter uma eficácia estonteante, apelando fundamentalmente para a religiosidade mística de grande parte dos que professam a fé, seja esta de caráter evangélico e/ou católico.
Tendo como objeto o voto do eleitor vulnerável aos apelos dos sermões e/ou às exortações das homilias, a avalanche de "lama tóxica" foi lançada sobre pessoas, partido e candidaturas, contaminou milhares de consciências doentes e crédulas, na medida em que mudou a tendência eleitoral que até três semanas antes das urnas, se mostrava amplamente favorável à candidatura diretamente submetida ao processo difamatório, acabando por ser ferida pelo germe da "desconfiança".
O logro daquela empreitada virtual foi o resultado do implacável esforço perpetrado por alguns indivíduos investidos de poder de liderança e/ou grupos conservadores, ávidos por promover uma "virada", que a campanha da candidatura de sua preferência não conseguia fazer, em sua propaganda de rua, ou de mídia.
Mas, onde estariam localizadas as nascentes destas fontes, a partir das quais pôde se produzir tão violenta avalanche? Quais eram os elementos motivadores de tanta ferocidade nos ataques ao processo eleitoral, visto que se fazia uso de meios extremamente espúrios para atingir o que se pretendia com a divulgação de boatos, mentiras e, até mesmo colocando nos lábios da candidata do PT um discurso expressando “desafio a Deus”, que ela não fizera?
Maria Inês Nassif, em excelente texto publicado em Carta Capital, apresenta algumas respostas a estas questões, que aqui, toma-se a liberdade de reproduzir na íntegra. Diz-se parte, porque ainda tem muita coisa por saber-se neste episódio, já que a campanha ainda vai ser retomada e, muito provavelmente, lances de grande sordidez, podem estar guardados para talvez serem utilizados, como "último tiro" na guerra contra a eleição da candidata do Partido dos Trabalhadores, explicitamente travada pelos que nunca se conformaram em terem perdido a hegemonia ostentada por um longo período.
Voltando ao referido texto de Carta Capital, a começar pelo título que dá ao seu arrazoado, atente-se para o que diz a autora, a quem passar-se-á a palavra:
"O voto do pecado e o poder satânico Maria Inês Nassif
"A campanha religiosa contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, estava em andamento e foi subestimada pelo comitê petista. O staff serrista prestou mais atenção nisso. No dia 14 de setembro, a mulher de José Serra, Mônica Serra, em campanha para o marido no município de Nova Iguaçu, no Rio, falou a um eleitor evangélico, para convencê-lo a não votar em Dilma: “Ela é a favor de matar criancinhas”, disse, segundo relato do jornal “O Estado de S. Paulo”. Mônica quis dizer, usando cores muito, muito fortes, que Dilma era a favor do aborto, e portanto não merecia o voto de um evangélico. Não deve ter sido da cabeça dela – falou porque as pesquisas qualitativas do PSDB já deviam mostrar que a onda “antiabortista” estava pegando, embalada por bispos e padres da Igreja Católica e pastores evangélicos.
"Da parte da ala conservadora da Igreja Católica, a articulação foi feita com alarde, de forma a induzir os fiéis de que a recomendação de não votar em Dilma, ou em qualquer outro candidato do PT, veio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A CNBB reagiu timidamente a essa ofensiva, com uma carta que foi também instrumentalizada pelos conservadores, que hoje não são poucos. “Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência”, diz a nota, para em seguida lembrar que o documento oficial sobre as eleições, tirado na 48ª Assembléia Geral, foi a “Declaração sobre o Momento Político Nacional”, que não faz referência direta a candidatos ou partidos. Um trecho da carta oficial, todavia, foi apresentado aos fiéis paulistanos como prova de que a Igreja, como instituição, vetava o voto aos petistas. “(…) incentivamos a todos que participem (…), procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana”.
"A campanha da Igreja conservadora contra Dilma está usando um sofisma: o “respeito incondicional à vida” torna a igreja antiabortista; o PT defendeu o aborto; logo, o voto em Dilma é pecado. É esse sofisma que foi colocado aos padres de São Paulo pela Regional Sul da CNBB como uma ordem. A secção da CNBB no Estado está impondo a campanha política nas igrejas como obrigação de hierarquia: há uma determinação para que os padres falem na homilia que o voto ao PT é pecado. Os padres estão obrigados também a distribuir jornais de suas dioceses na porta das igrejas, que não raro colocam o veto ao voto no PT como uma determinação da “CNBB”, sem especificar que é da CNBB da Regional Sul 1.
A articulista segue sua análise, afirmando que "Com ajuda da Igreja, Serra chega aos pobres via medo". Segundo Maria Inês Nassif:
Guarulhos é o grande foco, mas não o único. O bispo Luiz Gonzaga Bergonzini declara publicamente “ódio ao PT”. Sua diocese foi uma das formuladoras, na Comissão da Vida da Região Sul, do documento que deu “subsídios” para o manifesto anti-PT que está sendo distribuído nas paróquias como posição oficial da Igreja Católica. Um padre de Guarulhos conta que Dom Luiz Gonzaga vai se aposentar em sete meses, e tem aproveitado seus últimos momentos como bispo para militar ativamente contra o partido de Lula. Para isso, tem usado seu poder de “mordaça” – a autoridade máxima da paróquia é a diocese, e o bispo pode impor suspensões a padres que não seguirem as suas ordens, ou criticarem publicamente suas posições.
"Segundo uma senhora que é católica militante, bem longe de Guarulhos, no bairro de Campo Limpo, os bispos levaram ao pé da letra a orientação da regional da CNBB. A senhora ouviu do padre da sua paróquia, durante a pregação do sermão, que os católicos que votassem em Dilma Rousseff deveriam se confessar depois, porque teriam cometido um pecado. Preferiu o discurso da corrupção ao discurso do aborto. E garantiu que recomendava o voto contra o PT por ordem do bispo.
"O vereador Chico Macena (PT), da capital paulista, que é ligadíssimo à Igreja, conta que várias paróquias da região de São Lucas falaram contra o PT na homilia. Ele acredita que esse movimento da igreja conservadora paulista influenciou o voto contra Dilma em algumas regiões.
"Na campanha de Dilma, soou o alarme apenas na semana anterior às eleições. Foi quando a candidata se reuniu com líderes religiosos e garantiu a eles que não havia defendido o aborto.
"A guerra religiosa não se limitou a sermões de padres ou pregações de pastores evangélicos. Espalhou-se como um rastilho pela internet uma “denúncia” de envolvimento do candidato a vice de Dilma, o deputado Michel Temer (SP), com o “satanismo”. O site Hospital da Alma, ligado à Associação dos Blogueiros Evangélicos, diz que Dilma, se vencer a disputa, morrerá por obra de Satã, para que o sacerdote Temer assuma a Presidência.
"As versões religiosas sobre a candidatura governista são inventivas e, no conjunto, ajudam a formar um clima de pânico que, em algum momento, pode resultar numa explosão em que a racionalidade da escolha do candidato ao segundo turno escorra pelo ralo.
"Não deixa de ser irônico. A Igreja progressista esteve na base da formação do PT, embora limitada a regras da não militância política dentro das paróquias.
"Teve um papel fundamental em São Paulo. É aqui no Estado, que deu uma guinada conservadora durante e após os governos de Fernando Henrique Cardoso, que a Igreja Católica tem imposto os maiores prejuízos à candidata petista. Dois papados conservadores reduziram os progressistas católicos de São Paulo a um rebanho desorganizado e destituído de poder na hierarquia da Igreja.
""A outra ironia da história é que, no momento em que perdem significativamente a força os chefes de política locais, em função dos programas de transferência de renda do governo, e o PT passa a ser o interlocutor preferencial junto aos pobres, os seus adversários tenham arrumado um “atalho” para chegar a esse eleitor humilde, via o temor religioso. O voto colocado como “pecado”, e a eleição como obra de um “poder satânico”, recolocam o eleitorado mais pobre e menos escolarizado nas mãos de líderes conservadores, mas pela força do medo."
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras
E-mail maria.inesnassif@valor.com.br
Pelo exposto, conclui-se que faltou ao comando do Partido dos Trabalhadores e à Coordenação da campanha presidencial, maior atenção ao papel jogado pela internet no que respeita à sua capacidade de persuasão e ao seu raio de alcance, cada vez mais alargado, na medida em que não detectou o problema ou, se o fez, negligenciou e/ou subestimou sua gravidade e complexidade.
José Jorge Andrade Damasceno é professor Adjunto na Universidade do Estado da Bahia. Mestre em História Social pela UFBA e Doutor em História Social pela UFF-mail: historiadorbaiano@gmail.com
WWW.twitter.com/JorgeDamasceno1

2 comentários:

  1. E ironia pura da igreja catolica, visto que,na propria igreja estão os pedofiloas e a isso a igreja ñ chama satanismo, pois pra esses conservadores corromper crianças é normal e prostituindo-as sem o menor pudor, isso para eles ñ e satanismo m envergonho de ser católico

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  2. podem expernear o povo pobre nunca esteve tão bem como esta agora dixar de votar na dilma para votar no serra, é a mesma coisa que procurar o satanas ao invéz de deus

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